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HTLV
Curso aborda cuidados, políticas públicas e participação social relacionados à infecção pelo HTLV
Desconhecido por grande parte das pessoas, o vírus linfotrópico de células T humanas, o HTLV, foi tema de um curso prévio ao Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical – Medtrop 2023, realizado em Salvador-BA. O curso apresentou as formas de transmissão, diagnóstico e cuidado da infecção, as políticas públicas para HTLV no mundo e no Brasil e o papel da sociedade civil para os avanços nessas políticas.
A Coordenação-Geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e ISTs (Cgist/Dathi) participou da atividade com a palestra da médica Mayra Gonçalves Aragón, consultora técnica da Cgist. Durante a sua fala, foi demonstrado que a infecção pelo HTLV é um problema de saúde pública em muitos países, inclusive no Brasil.
Trata-se de uma infecção transmitida principalmente por meio de relações sexuais sem o uso do preservativo, da administração de medicamentos ou drogas com seringas contaminadas e da mãe para o bebê (transmissão vertical), em particular durante a amamentação.
Os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que há entre 5 e 10 milhões de pessoas infectadas pelo HTLV no mundo. No Brasil estimam-se, no mínimo, 800 mil casos. Globalmente, a maioria dos casos ocorre em pessoas do sexo feminino, pretas e pardas, e com menor escolaridade.
A resposta à infecção em nível mundial tem sido realizada, em geral, com intervenções voltadas à prevenção, por meio de testagem no pré-natal e no momento da doação de sangue e de leite materno. Alguns países adotam intervenções voltadas aos cuidados de prevenção às ISTs relacionados à transmissão sexual ou ao uso de drogas injetáveis, porém sem abordar especificamente o HTLV. Os cuidados com o vírus são apresentados no relatório sobre as estratégias para prevenção de ISTs da OMS.
O Brasil é um dos países que possuem políticas e diretrizes de prevenção ao HTLV, dentre as quais a testagem em doadores de sangue, de leite materno de e órgãos. Além dessas estratégias, alguns estados e municípios brasileiros atuam na prevenção da transmissão vertical da infecção com testagens no pré-natal. O Ministério da Saúde recomenda a interrupção do aleitamento para crianças de mães vivendo com HTLV, sendo garantido o fornecimento de fórmula láctea.
Após recente esforço da atual gestão em parceria com a sociedade civil, foi solicitada à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) a ampliação da recomendação de testes de triagem e confirmatórios com rastreamento universal de HTLV em gestantes de todo país. O Guia de Manejo Clínico da Infecção pelo HTLV, produzido pela Cgist, também traz orientações importantes aos serviços e profissionais de saúde.
Maria das Graças Bispo Machado vive com HTLV há 23 anos e faz parte da organização não governamental HTLVida. Ela destaca que o curso foi uma oportunidade de compartilhar com os participantes como é viver com a infecção. “São muitas dores, então é importante todos saberem disso para apoiarem a implementação de políticas públicas para o cuidado às pessoas vivendo com HTLV”, afirma.
Laurides Farias Santos também é membro da HTLVida e afirma que levará as discussões do curso às ações de informação e comunicação na organização que integra. “Convivo com HTLV e é muito importante participar de cursos como esse, para aprender e transmitir a outras pessoas os conhecimentos e as políticas públicas que estão sendo desenvolvidas”.
MEDTROP
O Medtrop é um congresso realizado pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, com mais de 60 anos de história. Trata-se do maior congresso de medicina tropical da América Latina. Em sua 58ª edição, trouxe como tema central os “Desafios da medicina tropical no século XXl: como enfrentá-los?”. Realizado entre 10 e 13 de setembro deste ano em Salvador-BA, reuniu profissionais, gestores, pesquisadores e estudantes que se dedicam às doenças tropicais, em geral determinadas socialmente e negligenciadas pela sociedade. Sua programação contou com a participação nacional e internacional de cerca de 3 mil pessoas em conferências, palestras, cursos, oficinas e mesas redondas, bem como em eventos paralelos, a exemplo do Workshop da Rede de Tuberculose, o ChagasLeish e o Fórum de Doenças Negligenciadas.