Notícias
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
MS comemora 20 anos de parceria entre CDC e Fiocruz
Desde que o Brasil passou a distribuir a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), em 2018, cerca de 134 mil pessoas já tiveram acesso à medicação. Nos últimos 12 meses, esse número é de quase 95 mil. Esses dados foram apresentados pela analista de políticas sociais do Ministério da Saúde, Tatianna Alencar, em evento recente de comemoração dos 20 anos da cooperação internacional entre a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América (CDC), em parceria com a Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec).
Segundo a embaixada dos Estados Unidos no Brasil, ao longo dessas duas décadas, foram investidos mais de 37 milhões de dólares em programas para a redução de doenças no Brasil, dos quais mais da metade em resposta ao HIV e à aids, sendo os recursos provenientes do Plano de Emergência do Presidente dos EUA para Alívio da Aids (Pepfar). A cooperação também investiu em abordagens inovadoras, prevenção e cuidados voltados para tuberculose (TB), malária, vírus da Zika e outras doenças transmitidas por vetores, além da covid-19.
No evento, o pesquisador científico Alexandre Grangeiro (FM/USP) afirmou que estamos diante de uma mudança comportamental, em que as novas gerações apresentam números de casos de HIV maiores que as anteriores. O pesquisador explicou, ainda, que o tempo oportuno para evitar o aumento das taxas de incidência de HIV e aids são os três primeiros anos da vida sexual. Em consonância com essas informações, Tatianna Alencar trouxe a importância da atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de PrEP, em 2022, que ampliou a oferta da profilaxia para adolescentes a partir de 15 anos.
A profissional também ressaltou a necessidade de analisar o contexto social para oferecer um serviço constante e efetivo. “A descontinuidade tem raça, tem cor, tem escolaridade, tem orientação sexual. As inequidades também se mostram no acesso à PrEP; então, quando vemos as taxas, são as pessoas pretas e pardas, as mais novas e também as mulheres trans e mulheres cis as que menos permanecem em PrEP”, afirmou. Atualmente, os usuários de PrEP estão distribuídos em 1.932 munícipios brasileiros, dos quais apenas 112 possuem mais de 100 pessoas fazendo uso da profilaxia.
Ainda durante o painel, a coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias Não Tuberculosas, do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (CGTM/Dathi/SVSA/MS), Fernanda Dockhorn, alertou que, de todos os avanços ao longo dos anos, a área de coinfecção TB-HIV foi a que menos progrediu no Brasil. Em 2022, 24 pessoas morreram com tuberculose por dia, totalizando cerca de nove mil por ano. Destas, cinco foram a óbito diariamente pela coinfecção. “Infelizmente, as pessoas vivendo com HIV e aids não se beneficiam da maneira que deveriam das ações de cuidado da tuberculose. Quando a gente olha nos nossos bancos, apenas quatro mil pessoas vivendo com HIV e aids estão se prevenindo da TB”, lamentou Fernanda.
Avaliação e monitoramento
A consultora Ana Roberta Pascom, da área de monitoramento e avaliação do Dathi/SVSA/MS, apresentou um panorama histórico das contribuições do CDC no fomento ao ensino e à pesquisa nesse campo. Segundo ela, ações como a criação do Sistema de Monitoramento de Indicadores do Programa Nacional de DST e Aids (Monitoraids) e a oferta de oficinas de capacitação, mestrado profissional e curso na modalidade de Ensino a Distância (EaD), focos da parceria já no início do projeto, foram fundamentais para o desenvolvimento das estratégias de monitoramento e avaliação usadas atualmente no Departamento.
Para o consultor da Coordenação-Geral de Vigilância do HIV, da Aids e das Hepatites Virais (CGAHV/Dathi/SVSA/MS) do Dathi, Artur Kalichman, um grande desafio é utilizar os dados para formular conhecimentos estratégicos que sirvam de suporte tanto para o cuidado individual quanto para os serviços de saúde. “A gestão de cuidado não deve ser pensada apenas no nível federal, mas precisamos produzir e dar informações em nível estadual e municipal, principalmente porque muitas dessas bases de dados são federais. É como o imposto de renda: se o dinheiro chegar até aqui e não voltar como benefícios, políticas públicas, e não ajudar as pessoas, não adianta”, explicou.
Durante todo o evento, foram realizadas diversas menções e homenagens a Aristides Barbosa Júnior, um dos principais responsáveis pelo Acordo de Cooperação entre a ENSP/Fiocruz e o CDC, e parceiro de grande importância para a implementação de projetos inovadores na temática de HIV e aids no país.