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Documentário sugere caminhos para que a aids deixe de ser um problema de saúde pública no país
O Ministério da Saúde lançou recentemente o documentário “Indetectável, intransmissível: o futuro da Aids”, apresentado pelo médico psiquiatra Jairo Bouer. A produção mostra a importância da testagem, os avanços do tratamento no Brasil e os desafios do enfrentamento do preconceito pelo qual passam as pessoas que vivem com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). A película está disponível na plataforma Globoplay e é exibida pelo Canal Futura em horários alternativos.
Vale lembrar que nos últimos dez anos, o Brasil registrou queda de 25,5% no coeficiente de mortalidade por aids, passando de 5,5 para 4,1 óbitos por 100 mil habitantes. Em 2022, a pasta registrou 10.994 óbitos tendo o HIV ou a aids como causa básica - 8,5% menos do que os 12.019 óbitos registrados em 2012. Apesar da redução, cerca de 30 pessoas morreram em decorrência da aids por dia no ano passado.
Segundo Bouer, os dados reforçam a necessidade de considerar os determinantes sociais para respostas efetivas à infecção e à doença. “Quando a gente sobrepõe essa questão do HIV às questões de exclusão social, a gente percebe uma vulnerabilidade ainda maior, tão presente na população negra ou naqueles que moram nas periferias das grandes cidades”, ressalta.
O documentário aborda, por exemplo, as chamadas metas globais 95-95-95, propostas pelo Unaids em 2021. A tríade significa que 95% das pessoas conheçam seu diagnóstico positivo para HIV; 95% das que conheçam seu diagnóstico, estejam em tratamento; e 95% das pessoas que vivem com HIV e estejam em tratamento, estejam com a carga viral suprimida.
Em conversa com a reportagem do Ministério da Saúde, Bouer revelou os bastidores da produção. Confira abaixo:
Como foi colher as experiências dessas pessoas?
Para mim, foi super importante e emocionante. Eu já tinha conversado com três dos entrevistados num documentário de 2015 para o Canal Futura, também sobre HIV. A gente tinha conversado com essas pessoas quando começou a se falar daquelas metas da análise de 90-90- 90 e, agora, em 2023, a gente está bem no meio do caminho dessas metas que, aliás, mudaram. Então, agora a meta sendo 95-95-95, queríamos olhar para essas pessoas no meio desse trajeto e saber como está a vida delas. O que mudou nesses oito anos? E a ideia era também escolher personagens novos, pessoas novas, que contassem um pouco como elas convivem com o vírus hoje em dia.
Como foi a escolha do perfil dos entrevistados?
Foram escolhidas pessoas que são consideradas pelos especialistas como integrantes de populações mais vulneráveis. A gente quis retratar muito esse fenômeno das mídias sociais e como é importante falar daquilo que você está vivendo e poder influenciar positivamente as outras pessoas, e ajudá-las. Trata-se de gente diferente, com histórias impactantes de vida. São histórias de superação de pensar ou repensar a questão, ressignificar a questão do HIV.
Qual a importância do SUS para a assistência às pessoas com HIV?
A gente está em um país que conta com o Sistema Único de Saúde, algo incrível e que alcança todo mundo. Como diz a própria ministra Nísia Trindade no documentário: o Brasil tem todos insumos necessários para evitar que as pessoas adoeçam por causa do HIV, que elas desenvolvam aids. Temos todos os insumos para prevenir que essas pessoas infectadas ou que vivem com HIV transmitam esse vírus. Além dos insumos de prevenção para garantir que elas não se infectem ou que entrem em contato com o vírus. O grande desafio é fazer com que esses insumos e tecnologias cheguem a todos. E, nesse caso, esbarramos nas questões das barreiras sociais e no que a ministra chama de determinantes sociais em saúde.
Até que ponto a ciência evoluiu nos tratamentos?
Há inúmeros avanços tecnológicos, então a ciência evoluiu, sim. As pessoas têm que acreditar na ciência, pois é a base da construção das novas tecnologias. Há a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), por exemplo, que revolucionou a questão da prevenção ao HIV. Já temos também os testes terapêuticos. Continuamos evoluindo na pesquisa sobre vacinas. Mas a tecnologia só funciona se todo mundo tiver acesso a ela.
Fatores sociais continuam sendo determinantes no acesso ao tratamento e diagnóstico?
É primordial pensar em educação, em moradia e na situação socioeconômica. Além disso, se atentar à geração de renda, à cultura e em vencer estigma, tabu e preconceito para que essas pessoas possam chegar ao atendimento de saúde e se manter nele. Quando se sobrepõe essa questão do HIV às questões de exclusão social, percebe-se uma vulnerabilidade ainda maior, tão presente na população negra ou naqueles que moram nas periferias das grandes cidades.
Assista ao documentário: