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TUBERCULOSE
Brasil recupera índice de detecção de tuberculose e aperfeiçoa tratamento
O Brasil está entre os 13 países que conseguiram recuperar a detecção de pessoas com tuberculose após a pandemia de covid-19, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o que é fundamental para agilizar o tratamento dos pacientes. A OMS estima que, no ano passado, um total de 105 mil brasileiros adoeceram por tuberculose, dos quais 87.344 foram diagnosticados e tratados. Isso representa 83% de detecção de pessoas com a doença – percentual 9,5% maior do que em 2021, quando o resultado do país foi de 75,8%.
Os dados sobre a recuperação do índice de detecção foram divulgados em novembro no Relatório Global de Tuberculose 2023. O documento revela que houve recuperação global no número de pessoas diagnosticadas e tratadas para tuberculose, após dois anos de interrupções relacionadas à pandemia de coronavírus. A tuberculose ainda é a segunda principal causa de morte no mundo devido a um único agente infeccioso em 2022, depois da covid-19.
No ano passado, a doença foi responsável pela morte de 1,3 milhão de pessoas em todo o mundo, incluindo 167 mil óbitos em pessoas vivendo com HIV. Esse número significa uma queda em relação às estimativas de 1,4 milhão em 2020 e em 2021. De acordo com o relatório, houve meio milhão de mortes a mais durante a pandemia, em comparação ao que era estimado caso as tendências pré-pandêmicas tivessem sido mantidas. A doença tem notificação compulsória no Brasil, seja de pacientes detectados nos serviços públicos ou na iniciativa privada.
Outro fato demonstrado no relatório é que parte dos brasileiros não finalizam o tratamento para tuberculose, que tem duração mínima de seis meses e que pode se prolongar até 18 meses. Em 2021, apenas 65% das pessoas diagnosticadas no Brasil completaram o tratamento e foram curadas. No caso de pessoas vivendo com HIV ou aids, o percentual foi de 44%.
“Durante a pandemia – e principalmente no período mais crítico e anterior à vacina, entre 2020 e 2021 –, os serviços de saúde sofreram pressão muito forte para atendimento à covid. Isso fez que outras doenças, como a tuberculose, tivessem menos diagnósticos e, com isso, menos pessoas iniciaram o tratamento”, destaca a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel. “Antes da pandemia, os indicadores de óbitos, por exemplo, vinham caindo significativamente. Agora retornamos a um nível de oito anos atrás, retrocedemos em nossa luta contra a doença e precisamos reagir”, afirma.
Redução de tempo de tratamento
A tuberculose é uma doença crônica, cujos sintomas incluem tosse prolongada, perda de peso e febre vespertina. Com a demora na detecção, os pacientes passam a chegar aos serviços de saúde em estados graves de adoecimento.
O Ministério da Saúde aprimorou o tratamento recentemente. Em setembro deste ano, publicou a incorporação de um medicamento de ponta para os pacientes do SUS, a pretomanida, a fim de reduzir o tempo de tratamento da tuberculose resistente de 18 para seis meses. Ou seja, uma redução de quase 70%.
Por ser um medicamento ministrado por via oral, essa incorporação se alia à estratégia de eliminação da tuberculose e outras doenças determinadas socialmente no Brasil e facilita a adesão dos pacientes. Os maiores beneficiados são pessoas acometidas por tuberculose resistente à rifampicina (TB RR), tuberculose multidrogarresistente (TB MDR) e pré-extensivamente resistente a medicamentos (TB pré-XDR).
Além da redução do tempo de tratamento, há previsão de economia de R$ 100 milhões em cinco anos com a incorporação – o Ministério da Saúde deve poupar R$ 14 milhões apenas no primeiro ano. Mais caro para os cofres públicos, o tratamento com os outros medicamentos é mais longo e causa mais efeitos adversos ao paciente.
Múltiplas ações do Ministério da Saúde
O Relatório Global de Tuberculose também mostrou que, mesmo com a ampliação da rede de teste rápido molecular para tuberculose no Brasil – atualmente com cerca 300 máquinas para realização do teste –, apenas 45% das pessoas foram diagnosticadas com essa ferramenta. O teste molecular é recomendado pela OMS para qualificar e agilizar o diagnóstico de tuberculose.
O compromisso brasileiro é reduzir até 2030 a incidência de tuberculose para menos de 10 casos por 100 mil habitantes. Em 2022, a incidência foi de 36 por 100 mil habitantes. Outra meta é zerar o número de famílias afetadas pela doença, o que gera ainda mais vulnerabilidade e gastos com o tratamento.
O diagnóstico precoce é fundamental para o alcance dessas metas, pois permite o início do tratamento no tempo correto, ampliando as chances de cura, especialmente para a população mais vulnerável. Por isso, a partir de 2023, o Ministério disponibilizou um novo teste de urina para o diagnóstico em pessoas vivendo com HIV com imunodepressão avançada.
Outra ação essencial para evitar casos graves é recuperar as altas coberturas da vacina BCG, que possui indicação de uma dose para recém-nascidos. Esse é um dos pontos de atenção do Movimento Nacional pela Vacinação no Brasil, que tem o objetivo de fortalecer as ações de imunização e resgatar a confiança da população nas vacinas. Até 2018, esse índice se mantinha acima de 95%, meta estabelecida pelo Ministério. Entretanto, a partir de 2019, a cobertura não ultrapassou os 88%.
Além dessas ações, de forma inédita, nove ministérios se reuniram para elaborar estratégias de eliminação de doenças que acometem de forma mais intensa as populações de vulnerabilidade social. O Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (Ciedds) foi instalado em junho deste ano. Coordenado pelo Ministério da Saúde, o grupo tem previsão de funcionar até janeiro de 2030.
“Além de olhar para os serviços de saúde, é vital enfrentar os determinantes sociais da saúde para garantir que as pessoas vão acessar os testes e aderir ao tratamento completo. Por isso estamos atuando com articulação intersetorial com o Ciedds”, acrescenta a coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Microbactérias Não Tuberculosas, Fernanda Dockhorn.
O que é o Relatório
O Relatório Global de Tuberculose é publicado anualmente pela OMS a partir de dados informados pelos países. Ele fornece informações e evidências importantes sobre a situação da epidemia de tuberculose e uma análise dos progressos de forma global, regional e nacional.
Em 2023, o documento revelou que houve importante recuperação global no número de pessoas diagnosticadas e tratadas pela doença, o que começa a reverter o impacto prejudicial da pandemia de covid-19 no número de pessoas que adoecem ou morrem com tuberculose.