Notícias
INTERNACIONAL
Participação brasileira em congressos mundiais traz desafios relacionados ao HIV e novidades sobre ISTs
Dois eventos internacionais realizados recentemente contaram com a participação de membros do corpo técnico do Ministério da Saúde e apresentaram desafios e novidades relacionadas ao HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) para a gestão brasileira. Melhorias no acesso à prevenção e ao cuidado em HIV/aids, novos testes para ISTs e a implementação da profilaxia pré-exposição (PrEP) injetável são alguns deles. Além disso, os representantes do Ministério compartilharam resultados de 24 estudos brasileiros nos dois eventos. Um deles – “Feedbacks de usuários do autoteste de HIV no Brasil – monitoramento da estratégia e dos resultados” – concorreu ao prêmio de melhor trabalho na categoria Jovem Pesquisador.
Os eventos foram a 12ª Conferência Científica em HIV da International Aids Society (IAS) – ou simplesmente “IAS” como é conhecido – e o Congresso Mundial de ISTs e HIV. O primeiro ocorreu em Brisbane, Austrália. Trata-se do maior e mais influente encontro da comunidade científica em HIV para apresentação dos principais avanços em pesquisa básica, clínica e operacional do HIV. O segundo foi realizado em Chicago, Estados Unidos, com foco nas ISTs. Este, por sua vez, é evento mais relevante na temática de ISTs a nível mundial.
Conforme Tatianna Alencar, analista de políticas sociais do Ministério da Saúde, a principal discussão do IAS no âmbito da prevenção ao HIV, este ano, foi sobre os desafios em como tornar as novas tecnologias acessíveis às populações-chave e prioritárias para o HIV. “Já se tem disponível uma diversidade incrível de novas tecnologias para prevenção do HIV, sendo a última delas a PrEP injetável. O desafio que foi posto no Congresso foi também programático: a discussão sobre uma variedade de modalidades de oferta dessas tecnologias, de forma que possam alcançar um maior número de pessoas de maneira mais equitativa possível, chegando àquelas pessoas que mais precisam”.
Outro desafio apontado no evento está relacionado à implementação da PrEP injetável. No Brasil, essa forma da profilaxia teve o registro aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em junho deste ano, mas não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), pois, para sua apresentação junto à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), é necessária a definição dos custos do medicamento pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) e as respectivas análises de impacto financeiro. Segundo Tatianna, além dos desafios econômicos – pois se trata de uma apresentação bem mais cara que a pílula para ingestão oral –, também houve discussões importantes em relação aos tipos de testagem e algoritmos de diagnósticos para o HIV para pessoas candidatas à PrEP injetável, bem como sobre a qualificação dos profissionais de saúde para o manejo dessa medicação.
No Congresso de ISTs, por sua vez, houve grande apelo por parte dos expositores para os cuidados relacionados à tricomoníase, que é a IST curável não viral mais prevalente e aumenta cerca de 4x as chances de mulheres se infectarem com HIV. O uso do antibiótico doxiciclina, de amplo espectro, para pós-exposição de risco para ISTs – no mesmo formato que a profilaxia pós-exposição ao HIV (PEP) – em especial para sífilis, clamídia e gonorreia também foi ponto de discussão entre os participantes. Outras questões bastante debatidas foram a resistência do Mycoplasma genitalium e o apelo para a substituição da abordagem a partir de sinais e sintomas pela abordagem com exames etiológicos, ou seja, que identificam o agente causador da IST e orientam o tratamento adequado.
A coordenadora-geral de Vigilância em Infecções Sexualmente Transmissíveis (Cgist), Angélica Espinosa Miranda, foi uma das representantes do corpo técnico brasileiro a participar do evento nos Estados Unidos, com as explanações “ISTs e gestação” e “Intervenções estruturais para a promoção da saúde sexual e da prevenção às ISTs – Força-Tarefa em ISTs na América Latina: uma experiência brasileira”. De acordo com ela, o Brasil foi muito citado em relação ao processo da certificação de eliminação da transmissão vertical (TV), sobretudo quanto à eliminação da TV de quatro agravos em conjunto: HIV, sífilis, hepatites virais e doença de Chagas e ainda, o acréscimo de iniciativas relacionadas ao HTLV à pauta.
“Outros destaques brasileiros foram as apresentações dos nossos consultores sobre o monitoramento após o uso do autoteste de HIV, realizada pelo biomédico e especialista em Saúde Coletiva Adson Belém; e sobre a experiência e os desafios na resposta à resistência antimicrobiana de Neisseria gohorrhoeae no Brasil, realizada pela farmacêutica, Pâmela Cristina Gaspar. O Brasil foi reconhecido como uma referência mundial nas ações de vigilância da resistência do gonococo, recebendo o convite da Organização Mundial da Saúde e do CDC [Centros de Controle e Prevenção de Doenças/EUA] para fortalecimento de parcerias relacionadas à ISTs e resistência antimicrobiana”, destaca.
Ainda de acordo com Angélica, a grande novidade do Congresso Mundial de ISTs deste ano foi a apresentação de testes rápidos novos e eficazes. “Os testes imunocromatográficos, como temos para HIV, sífilis e hepatites, agora as expectativas de bom desempenho para outras análises como para clamídia e gonorreia foram renovadas. Então, mudou-se o olhar para o uso de testes desse tipo para as ISTs”.