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Agricultura sustentável
Propriedade rural elimina erosões e reduz impacto da seca com o uso de plantio direto
Fazenda Bianco, em Cabeceira de Goiás - Foto: Antônio Araújo/Mapa
Em meio ao período de seca, típica do mês de julho na região central do país, da parte alta de uma propriedade rural brota água. Antes conhecida como “fazenda das erosões”, a Fazenda Bianco hoje é referência como produtora de água e agricultura conservacionista. Situada na área do município de Cabeceiras de Goiás, a 130 quilômetros de Brasília, a fazenda eliminou as erosões da área e realimentou as nascentes de água em um período de 20 anos.
O proprietário da fazenda, Arno Bruno Weis, conta que o resultado foi alcançado graças ao Sistema de Plantio Direto, técnica em que o solo é coberto com palhas, resíduos de plantação ou com as chamadas plantas de cobertura que mantêm a umidade, retêm nutrientes e aumentam a fertilidade.
Além da cobertura do solo, o produtor pratica a rotação de culturas e obedece ao vazio sanitário para controlar a incidência de pragas e doenças. Em uma área aproximada de mil hectares, a fazenda produz milho, soja, feijão e trigo mourisco. Em 2018, a colheita rendeu 150 mil sacos de milho safrinha, 40 mil sacos de soja e 24 mil de feijão.
“Após a colheita, a gente consegue manter uma planta de cobertura que vai proteger o solo no final da chuva, e, na época seca, vai manter mais matéria orgânica. Então, é um ciclo que se alimenta e se sustenta melhor, é um ciclo de sustentabilidade e conservação”, comentou Walter Fretta Weis, engenheiro agrônomo da fazenda.
Conforme definição da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o sistema de plantio direto tem como princípios básicos a cobertura de solo, a rotação de culturas e o não revolvimento da terra para não degradar a área no momento da semeadura.
O Brasil tem 32,87 milhões de hectares de área cultivada sob plantio direto, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados pela Federação Brasileira de Plantio Direto. A técnica pode ser aplicada em propriedades de pequeno, médio ou grande porte. Também há experimentos na agricultura orgânica e é adaptável a diferentes culturas, como café, cana de açúcar, hortaliças, entre outros.
O Censo Agropecuário do IBGE de 2017 aponta que 19% dos estabelecimentos agropecuários do país utilizam o sistema de plantio direto, 36% praticam cultivo mínimo e 45% plantam de forma convencional.
Base para agricultura sustentável
A técnica de plantio direto foi introduzida no interior do Paraná na década de 70 e é considerada a primeira revolução das práticas agrícolas no Brasil. O sistema diminui o uso de máquinas e tratores reduzindo, assim, a emissões de gases do efeito estufa na atmosfera.
O plantio direto é uma das principais tecnologias que integram o Plano da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No início do mês de julho, representantes da Federação Brasileira de Plantio Direto apresentaram ao Ministério o projeto intitulado “Sistema Plantio Direto: base para Agricultura Sustentável”.
Elaborado por especialistas e técnicos de diferentes instituições, o projeto pretende criar uma base de dados que permitam quantificar os benefícios do sistema, como a capacidade de recuperação de matéria orgânica do solo e indicadores de qualidade, e incentivar a formulação de políticas de incentivo à agricultura sustentável.
“Esse projeto prevê a construção de modelos para avaliar o quanto de carbono orgânico fica retido no solo em diferentes biomas brasileiros”, explicou Maurício Carvalho, agrônomo que atua na Coordenação de Conservação do Solo e de Água do Mapa.
Agricultura de precisão
Na Fazenda Bianco também são utilizados quadriciclos para agricultura de precisão, com o objetivo de mapear as diferenças de qualidade do solo em toda a extensão da propriedade. Para atender à legislação ambiental, a propriedade mantém uma área de reserva legal que corresponde a 30% de toda a área de produção da fazenda. E nas áreas degradadas, foram plantadas algumas árvores nativas do cerrado.
Como a propriedade está situada próxima a uma rodovia, o produtor adequou as margens da estrada com a nivelação de barrancos e o plantio de eucaliptos para conter a água da chuva.
Na sede da fazenda, a casa foi projetada para captar umidade e conta com um sistema natural de aquecimento de água. “Aproveito a natureza e tudo o que ela pode oferecer”, disse Weis.
Com os resultados na redução do impacto ambiental, a fazenda atrai todos os anos muitos visitantes, inclusive de outros países. Em 2011, o proprietário recebeu o Prêmio Goiás de Gestão Ambiental e por duas vezes foi condecorado com menções honrosas por melhor produtividade de milho da América Latina.
Transmissão de conhecimento
Arno Weis é natural de Hulha Negra, Rio Grande do Sul, onde começou as atividades agropecuárias em 1966. Toda a família é envolvida com agricultura há muitas gerações.
Com o objetivo de desbravar novas áreas de produção, o produtor se mudou para o Centro-Oeste no início da década de 80. Depois de passar por diferentes cidades, o fazendeiro se estabeleceu em 1995 com sua família em Cabeceiras de Goiás.
Aos 73 anos de idade, Weis gosta de guardar relíquias para destacar o avanço da agricultura nos últimos anos, como tratores e outros tipos de maquinários agrícolas. E permanece ativo não só na condução da fazenda como na mobilização de jovens produtores da região para aderir ao plantio direto e outros processos de agricultura sustentável.
“Assim como os outros me ensinaram, eu tenho a obrigação de passar adiante”, comenta Weis, que também preside o Sindicato Rural de Cabeceiras e integra o Conselho Estadual Comunitário de Segurança Rural.
“Pensando em uma agricultura de larga escala, o plantio direto gerou um benefício enorme para o meio ambiente, evitando degradação do solo e melhorando sistema de cultivo. Hoje, a gente consegue fazer duas safras, safra e safrinha, o cultivo aguenta mais tempo no período de veranico e de falta de chuva. Então, o plantio direto, a meu ver, é um dos principais meios conservacionistas que a gente tem hoje na agricultura em larga escala”, completa o filho agrônomo Walter Weis.
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