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Cacau do Brasil
Ceplac é reconhecida como celeiro científico e órgão de desenvolvimento regional
Quem passa pela BR-415, conhecida como Rodovia Jorge Amado, entre as cidades baianas de Ilhéus e Itabuna, percebe que a região tem mais do que tradição cultural e vocação turística. No trecho rodeado pela Mata Atlântica e por fazendas de cacau, diferentes universidades e institutos de pesquisa também chamam a atenção.
O trânsito intenso é apenas um dos sinais do dinamismo da região, que tem atraído pesquisadores e profissionais de diferentes locais do país e do mundo para conhecer o que tem sido desenvolvido na chamada rota do cacau, agora conhecida também como “estrada do conhecimento”.
É neste eixo de produção agrícola e científica que está localizada a sede da Superintendência da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira da Bahia (Ceplac). Com um longo histórico de influência e impacto nas áreas de produção de cacau, a unidade é reconhecida como um grande celeiro científico e promotora de desenvolvimento econômico e social.
“A Ceplac não é um órgão só de pesquisa e extensão rural, é um órgão de desenvolvimento regional”, comenta Antônio Zugaib, que integra o Serviço de Planejamento e Projetos Especiais da Superintendência da Ceplac na Bahia. Estradas, pontes, universidades, hospitais, postos de saúde, obras de eletricidade e saneamento estão no rol de ações motivadas pela instituição no interior do estado.
Polo científico
A experiência na área de transferência de tecnologia e conhecimento motivou os servidores da Ceplac a promoverem a iniciativa de formar uma espécie de “cluster” do cacau e chocolate na região, envolvendo todos os elos da cadeia produtiva. A ideia atraiu várias entidades, incluiu outras vocações agrícolas da região e evoluiu em 2015 para a formação do Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia (PCTSul).
Com apoio da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), de Santa Catarina, estado conhecido como o “Vale do Silício” brasileiro, foram definidas quatro áreas prioritárias de atuação do parque: biotecnologia, logística, eletroeletrônica e os sistemas agroflorestais, dando ênfase ao cacau e chocolate.
A partir do diagnóstico e identificação do potencial da região, a Ceplac desenvolveu um plano de ação que define as etapas de implementação do parque e formou o conselho de administração integrado por mais de 10 instituições, entre universidades, institutos e fundações de pesquisa e inovação.
O objetivo do parque é permitir que o conhecimento produzido pelos cientistas das entidades cruze as fronteiras dos laboratórios e seja transformado em benefícios concretos para a sociedade. A iniciativa pretende estimular a criação de novos empreendimentos sintonizados com as pesquisas desenvolvidas na região para gerar novas tecnologias e agregar valor aos produtos de origem agroflorestal, entre eles o cacau.
“A finalidade do parque é buscar o desenvolvimento regional através do compartilhamento de informações entre as instituições científicas. A finalidade maior é pegar todas as monografias, dissertações de mestrado, as teses de doutorado e de pós-doutorado, verificar quais deles podem ser incubadas e transformadas em produtos, processos e a partir daí criar empresas”, explicou Antônio Zugaib, que coordena do Serviço de Planejamento e Projetos Especiais da Ceplac, na Bahia.
Uma parte do complexo de base científico-tecnológica será instalada em uma área de 35 hectares cedida pela Ceplac. A primeira instituição a integrar o parque é o Centro de Inovação do Cacau, laboratório que tem uma estrutura moderna na área de beneficiamento e análise sensorial de cacau e chocolate.
Desafios
A expectativa é que o parque também sirva para dar visibilidade ao trabalho da Ceplac e contribua para dar continuidade ao trabalho de pesquisa e extensão. “A Ceplac é o braço do Ministério da Agricultura para promover o desenvolvimento sustentável do cacau no Brasil”, destacou Fernando Mendes, pesquisador da Superintendência da Ceplac no Pará.
Ao longo de 62 anos, a instituição incentivou o desenvolvimento urbano e econômico não só no sul da Bahia e nos outros estados onde tem unidades, como Pará, Amazonas, Rondônia e Espírito Santo. Com sede em Brasília, a Ceplac enfrenta atualmente o desafio de manter ativa a produção científica e o trabalho de campo devido à defasagem de recursos humanos e financeiros.
“Ainda hoje, em alguns municípios a Ceplac ainda é a única presença do estado no que tange à agricultura”, comentou o superintendente da Ceplac na Bahia, Carlos Alexandre Brandão.
Com o lema “plantar cacau é reflorestar o Brasil”, a instituição promove o desenvolvimento da agricultura sustentável e diversificada em dois importantes biomas do país: Amazônia e Mata Atlântica. Além do cacau, a Ceplac desenvolve pesquisas sobre outras culturas perenes da agricultura tropical, como seringueira, dendê, coco, juçara.
As superintendências da Ceplac se tornaram referências no estudo e formação de diferentes sistemas agroflorestais, que tem grande apelo socioambiental e tem apresentado bons resultados para o agricultor na relação custo/produção. E no Pará, a Ceplac formou o maior banco de germoplasma de cacau do mundo.
O órgão também se destaca no país em pesquisas sobre apicultura e no incentivo da produção apícola. Desde 1992, a Ceplac vem trabalhando na sensibilização de produtores do sul da Bahia e outras regiões para destacar os aspectos econômicos, ambientais e sociais da apicultura. Segundo a instituição, o número de apicultores na região saltou de 150, em 1996, para mais de três mil nos últimos anos.
Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Ceplac realiza pesquisas em campo sobre zootecnia para encontrar estratégias de manejo e adubação de pastagens e recuperação de áreas degradadas, além de prestar assistência técnica à pecuária de corte e de leite para aumento de produtividade.
Na unidade da Bahia, a Ceplac também mantém um projeto de piscicultura que foca, entre outros objetivos, na diversificação da renda dos agricultores familiares. Por mais de 30 anos, a Ceplac também atuou na área de educação rural continuada, por meio das Escolas Médias Agropecuárias (Emarcs).
“Essa é a nossa Ceplac, com muitas atividades exitosas, 40 novos escritórios só aqui na Bahia espalhados nos municípios da região cacaueira, com dez estações experimentais. Mas, com a limitação de pessoal, muitos escritórios estão com um ou dois servidores. Tem escritório que está fechando por falta de pessoas. Então, é um grande desafio”, ressaltou Brandão.
Celeiro
Em todas as unidades da Ceplac no país estão reunidos pós-doutores, doutores, mestres, especialistas em biologia molecular, fitopatologia, entomologia, agroecologia, socioeconomia, e diversas outras áreas. Os pesquisadores contam orgulhosos que dedicaram toda a carreira ao fruto que transformou a realidade econômico-social de muitas regiões do país e ainda tem grande potencial para alavancar a economia brasileira de modo sustentável.
Um dos servidores mais novos já ultrapassou os 30 anos de casa e se emociona ao falar do trabalho da Ceplac. “Estamos falando de uma instituição que tem uma referência muito forte, não só no Brasil, mas no mundo. A Ceplac foi concebida através de um modelo integrado de pesquisa, extensão e ensino que deu certo. O Brasil hoje tem governança em termos de cacauicultura em dois importantes biomas, Amazônia e Mata Atlântica. Uma vez melhorada essa governança da Ceplac, ela vai com certeza continuar fazendo o que sempre fez pelo Brasil”, declarou Raul Guimarães, pesquisador da Ceplac no Pará.
Guimarães, que já comandou a superintendência do Pará, reitera que a cultura do cacau pode ser mais incentivada Amazônia, pois é um tipo de agricultura que se adapta às condições do bioma e traz os benefícios socioeconômicos e agroambientais que são tão cobrados pelo mundo atualmente.
“Nós temos grandes e fortes potencialidades em Rondônia, Mato Grosso, Amazonas, temos que desenvolver uma estratégia pensando no avanço do Pará e nos demais estados, fortalecendo a as ações de forma integrada e articulada no bioma Amazônia. A cacauicultura tem muito a oferecer para o aproveitamento racional e integrado de recursos naturais da Amazônia como um todo”, comentou.
A especialista em beneficiamento Neyde Alice Pereira lamenta o déficit de pesquisadores e especialistas em cacau e chocolate de qualidade, principalmente no momento em que o país está despertando essa vocação para aproveitar novas oportunidades no mercado. “Como vamos continuar a ter essas maravilhas de chocolate se a gente não tiver a matéria prima? O mundo quer comer chocolate. E essa cadeia produtiva não tem como continuar a produção de um chocolate maravilhoso como esse, se a gente não enfrentar esses desafios”, questiona.
Continuidade
Os produtores de cacau e chocolate da região também demonstram preocupação com o futuro da pesquisa desenvolvida na região. “Eu como produtor utilizo a Ceplac em tudo o que for necessário, desde a formação dos meus empregados até a minha formação. Lá, tem excelentes técnicos, é uma instituição que só trouxe benefícios para a nossa região. Com os poucos técnicos qualificados que tem, é a Ceplac que ainda consegue trazer alguma tecnologia para a região”, disse o produtor de cacau Marcos Antônio de Melo, também engenheiro agrônomo.
Antes comerciante de produtos agrícolas, Melo tomou a decisão por produzir cacau por incentivo dos técnicos da Ceplac. “Larguei o comércio e comecei a plantar cacau. Tive sorte, porque nessa época a Ceplac já tinha os melhores clones que conhecemos. Então, comecei com esses clones de ponta produzindo 80 arrobas de cacau por hectare”, relata.
Depois de integrar o projeto 500, delineado pela Ceplac para aumentar a produtividade de cacau na região, o produtor já atingiu a média de 250 arrobas e ainda este ano quer alcançar em uma parte de sua propriedade a meta de 500 arrobas sugerida pelo programa.
“Estamos trabalhando com formação da planta, adubação constante, polinização forçada e manual, então é um trabalho de constante avaliação. O cacau vai te dar produção se você der condições a ele de produzir”, afirmou.
Um dos cacauicultores mais experientes da região, José Carlos Maltez, que já enfrentou períodos de crise do cacau, se preocupa com a economia da região se faltar pesquisa e assistência especializada na cacauicultura.
“Até agora não apareceu nada como o cacau para fazer circular a moeda aqui. Além do cacau, que sempre correu no sangue no grapiúna (natural de Itabuna) a gente tem um soro glicosado que é o chocolate, um aporte de alimentação da economia local. A nova geração tem que levar esse trabalho adiante”, sugere.
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