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Cananéia
Arara-azul-de-lear repatriada da Argentina vai para criadouro em Minas Gerais
- Foto: Divulgação/ICMBio
A Estação Quarentenária de Cananéia (EQC) – unidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no litoral paulista – abriga hoje uma preciosidade da fauna brasileira: uma arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), repatriada dia 5 deste mês da Argentina, onde passou 10 anos sob guarda judicial, depois de ter sido apreendida em operação contra o tráfico de animais silvestres. Na próxima segunda-feira (24), a ave – classificada como espécie "em perigo de extinção" – deve ser levada para o criadouro científico para fins de conservação Fazenda Cachoeira, em Minas Gerais, sendo destinada a programas de reprodução em cativeiro.
Assim que voltou ao Brasil, a arara-azul-de-lear foi levada à EQC para passar por um período de isolamento, com acompanhamento clínico e testes laboratoriais. O procedimento é exigido para comprovar que a ave, cujo habitat é a região da caatinga do norte da Bahia, conhecida como Raso de Catarina, não é portadora de qualquer doença que ameace a sanidade avícola do Brasil. Em Buenos Aires, ela já havia sido submetida à quarentena, quando fez exames que garantiram estar livre de ectoparasitas, Influenza Aviária, Doença de Newcastle e Psitacose.
O retorno da ave envolveu o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) e os ministérios do Meio Ambiente do Brasil e da Argentina. Apreendida no bairro de Flores, em Buenos Aires, em 2007, a arara-azul-de-lear foi entregue às autoridades brasileiras pelo diretor de Fauna Silvestre e Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente argentino, Santiago D´Alessio. Ele acompanhou todas as negociações e o voo de volta da ave para casa.
A repatriação da arara-azul-de-lear, vítima de tráfico no Brasil, é considerada um marco e mostra o interesse e cooperação dos dois países para preservação e conservação da espécie. O governo da Argentina entrou em contato com o Brasil para repatriar a ave. No entanto, foi preciso esperar o julgamento do crime ambiental tramitar na Justiça portenha para que a devolução fosse concluída. Nesse período, a arara – um macho – foi custodiada pela Justiça no Zoológico de Buenos Aires.
Brasil e Argentina são signatários da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e da Fauna Selvagens Ameaçadas de Extinção (Cites), que tem como objetivo controlar o comércio de fauna e flora silvestres.
Ameaça à espécie
O tráfico de animais silvestres e a destruição do habitat, afetando principalmente suas áreas de alimentação, são os principais fatores de ameaça à espécie, que até 2008 era classificada como “criticamente ameaçada de extinção”. Mas a população vem se recuperando nos últimos anos, graças às ações do seu programa de conservação. Com um efetivo atual de 1.358 animais na natureza, seu status agora é “em perigo de extinção”, segundo critérios da Cites.
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave) é responsável pela Coordenação do Plano de Ação Nacional (PAN) para a conservação da arara-azul-de-lear e pelo Programa de Cativeiro, que tem como objetivo coordenar o processo de transferência das araras entre criadouros e zoológicos nacionais e internacionais para a formação de casais e sua reprodução, visando o aumento da população cativa. As aves são oriundas de mantenedores da espécie em outros países e transferidas para instituições brasileiras com experiência na reprodução de psitacídeos.
A EQC é parte importante no processo de proteção, realizando atualmente quarentenas de suínos e aves ornamentais, mas também já tendo alojado bovinos, equinos e até lhamas e avestruzes. Assim, antes de entrar definitivamente no Brasil, esses animais devem cumprir um rigoroso protocolo sanitário desde a origem. De 2010 até agora, já foram submetidas à quarentena na EQC 29 aves repatriadas – 16 araras-azuis-lear e 13 ararinhas azuis (Cyanopsitta spixii).
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