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Bioeconomia
Projeto Amazônia 4.0 sugere utilização da tecnologia para exploração sustentável da biodiversidade
- Foto: Nelson Ponce/Copronat
A inserção de novas tecnologias digitais na produção agrícola e extrativista do bioma amazônico foi um dos destaques do último dia de programação do 1º Encontro de Bioeconomia e Sociobiodiversidade da Amazônia. Promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o evento foi realizado na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em Manaus, e contou com a participação de pequenos produtores rurais, gestores públicos, pesquisadores, representantes de empresas e organizações da sociedade civil que trabalham com bioeconomia.
Um dos projetos que chamou a atenção dos debates desta quarta-feira (13) foi o da Amazônia 4.0, apresentado pelo pesquisador Carlos Nobre, que integra o conselho do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. O especialista lançou o desafio de pensar a Amazônia no contexto da quarta revolução industrial e apresentou soluções de terceira via para viabilizar a produção econômica na floresta com proteção sócio ambiental.
A partir da combinação de novas tecnologias, como internet das coisas e ferramentas 3D, com o potencial biológico da floresta, a proposta da Amazônia 4.0 sugere mudanças nos sistemas socioecológicos baseadas em um modelo de bioeconomia que utiliza ciência e tecnologia para exploração sustentável da biodiversidade amazônica, agregacao de valor dos produtos florestais com empoderamento das populações e comunidades locais.
Entre os potenciais para desenvolvimento da bioeconomia na região, o professor citou o açaí, os produtos cosméticos, fármacos, enzimas, entre outros. "O potencial é demonstrável, mas a escala de produção ainda é pequena. O desafio é aumentar a escala e o nível de industrialização da Amazônia. Por exemplo, o açaí foi industrializado em outros países. Existem mais de 10 mil lojas de açaí no mundo todo", comentou.
Nobre acrescentou que o açaí, assim como o cacau e as castanhas, tem alto valor de mercado e usa pouca área para serem produzidos, além de beneficiar mais pessoas do que outras culturas agrícolas.
Para aproveitar esse potencial, o pesquisador destacou a necessidade de aliar conhecimento científico com conhecimento tradicional, desenvolver bioindústrias e levar capacitação das comunidades locais para promover empreendedorismo sustentável. Por meio de laboratórios criativos, a linha de produção de algumas culturas como cupuaçu, cacau, cacau já estão sendo trabalhadas pelos pesquisadores, além do mapeamento de genomas que podem alimentar a indústria moderna.
Escola de negócios sustentáveis
O painel também contou com a apresentação da Rain Forest Business School, criada para fornecer cursos sobre bioeconomia para formar uma nova geração de especialistas capazes de combinar conhecimento científico com oportunidades de mercado. Segundo uma das coordenadoras da escola, Maritta Kock Weser, a iniciativa também visa ser um centro agregador de pesquisas já realizadas e que ainda não foram aplicadas. A escola oferece um curso tipo MBA, com currículo elaborado em colaboração com as comunidades locais, e treinamentos temáticos para executivos.
Ainda no campo da formação, o reitor da Universidade do Estado do Amazonas, Cleinaldo Costa, ressaltou que o bioma amazônico abriga 30 milhões de pessoas em uma extensão de 7,5 milhões de km² e que a UEA foi projetada para estar presente em todos os municípios do Estado. Ele destacou que a universidade criou o primeiro curso de graduação em agroecologia especial para uma comunidade de índios extrativistas da região de Tabatinga. O curso já formou 32 indígenas.
Pesquisa e Inovação
Na área de pesquisa e inovação, diferentes especialistas reforçaram que a bioeconomia, se desenvolvida de forma inovadora, pode inserir o Brasil de forma estratégica no contexto mundial.
Para Fabio Calderaro, do Centro de Biotecnologia da Amazônia, é preciso investir em ciência e tecnologia e apostar num novo marco legal para transformar as pesquisas já existentes em produtos, gerar mais empregos de qualidade e aumentar o retorno econômico para o país.
O representante da Fiocruz, Sergio Luiz, apresentou as principais diretrizes da Redesfito e da Plataforma Agroecológica de Fitomedicamentos, além da chamada Rota da Biodiversidade, como estrategias que podem contribuir para validar os produtos amazônicos e oferecê-los com segurança e qualidade para o mercado.
A pesquisadora Rita Milagres apresentou alguns portfólios de Embrapa relacionados com bioeconomia, como o desenvolvimento de energia quimica e tecnologias de biomassa, biotecnologias avançada aplicada ao agronegócio, bioinsumos, integração lavoura, pecuária e florestas, entre outros. A empresa mantém o maior banco de germoplasma da América Latina e o terceiro do mundo com mais de 110 mil acessos de 803 espécies.
Na Amazônia, as unidades da Embrapa abrigam bancos de germoplasma de açaí, camu-camu, castanha do Brasil, mandioca, e tem desenvolvido também projetos que valorizam o potencial da biodiversidade local, como melhoramento genético do Guaraná, manejo de açaizais, reprodução de pirarucu em cativeiro, descoberta de marcadores genômica de peixes amazônicos, e outros.
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