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TELESCÓPIO HUBBLE POPULARIZOU A ASTRONOMIA, DIZ BRASILEIRO
Brasília, 27 de abril de 2015 – Para o astrofísico brasileiro Rafael Eufrásio, que trabalha na Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), o telescópio espacial Hubble, que completou 25 anos no espaço na sexta-feira (24), inspirou uma geração inteira de novos cientistas.
“Desde selos de cartas, a roupas, gravatas e outros adereços é fácil perceber que o Hubble exerceu e exerce um papel fundamental em expor e criar interesse de crianças e jovens a seguirem carreiras científicas em geral”, afirma o pesquisador.
O instrumento, que orbita a Terra a 570 km de altitude, é resultado de uma colaboração entre a Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA).
Eufrásio trabalha desde 2008 no Goddard Space Flight Center da Nasa. Este centro é, entre outras atividades, responsável pelas operações do Hubble. Em seus projetos de pesquisa, que envolvem a identificação das características da formação das estrelas em galáxias entre 10 e 300 milhões de anos-luz da Terra, o brasileiro conta que o Hubble teve o papel de discernir detalhes nas imagens que nenhum dos outros telescópios proporcionava.
O equipamento, que pesa 11 toneladas, mede 13,2 metros de comprimento por 4,2 metros de diâmetro. Com um espelho primário de 2,4 metros de diâmetro, o Hubble tem 100 terabytes de dados arquivados e gera atualmente 140 gigabytes de dados brutos por semana.
Segundo o brasileiro, o Hubble garantiu imagens muito mais nítidas do que qualquer outro observatório na Terra e, por isso, muitos fenômenos inesperados foram revelados. “Isso mudou completamente o que entendíamos como astrofísica”, diz.
Um dos principais exemplos foi a pesquisa que confirmou a expansão acelerada do Universo. A descoberta, que levou ao Nobel de 2011, foi feita por observações de explosões de supernovas obtidas pelo Hubble e por outros telescópios terrestres.
Revelações – Aprender sobre o ciclo de vida das estrelas foi uma das razões para a construção do telescópio. Por ele operar acima das distorções e dos efeitos bloqueadores da atmosfera do planeta, os astrônomos esperavam poder contemplar um passado mais distante, analisando gerações de estrelas e galáxias que se formaram mais perto do Big Bang, a explosão que teria dado início ao Universo, cerca de 13,7 bilhões de anos atrás.
O Hubble revelou, além disso, buracos negros no coração de galáxias cuja existência até então a ciência conseguia apenas supor. Ele também fez um milhão de imagens de corpos celestes, alguns dos quais nos confins do cosmos.
A história do Hubble não foi só feita de imagens impressionantes e descobertas revolucionárias. Eufrásio lembra que, por um defeito no polimento do espelho, o telescópio inicialmente produziu imagens borradas, o que só foi ajustado na primeira missão de conserto, em dezembro de 1993, quando astronautas substituíram um dos instrumentos pelo Corrective Optics Space Telescope Axial Replacement (Costar).
“O Costar é de fato os ‘óculos’ (ou ‘lentes de contato’) do Hubble. Até hoje, cinco missões de conserto foram enviadas, com os astronautas substituindo instrumentos e giroscópios por equipamentos de ponta. A última missão foi em 2009 e hoje se espera que o Hubble continue funcionando como está, pelo menos, até 2020.”
Acesso – Qualquer pessoa de qualquer país pode solicitar o uso do Hubble em pesquisas, desde que justifique cientificamente o uso, diz Eufrásio. O comitê julgador deve entender que aquele é o melhor uso do instrumento. “A comunidade nacional é bem ativa e tem se tornado cada vez mais competitiva, especialmente com o possível ingresso do Brasil no Observatório Austral Europeu (European Southern Observatory, ESO) e com a participação de brasileiros em diversas colaborações para desenvolvimento de telescópios futuros.”
A Nasa espera manter o Hubble em operação até pelo menos 2020. Seu sucessor, o Telescópio Espacial James Webb, deve ser lançado em outubro de 2018. “Apesar de ser o sucessor científico do Hubble, ele terá habilidades complementares às do Hubble e não será responsável por ‘aposentar’ o Hubble”, explica Eufrásio.
Segundo ele, o novo telescópio produzirá imagens mais nítidas, mas o campo de visão será bem menor. “As capacidades que o Hubble tem de observar luz visível e ultravioleta ainda serão únicas.”
Fonte: G1