Notícias
INPE VAI USAR COMPUTADOR DE BORDO FEITO EM UNIVERSIDADE PARA MONITORAR MEIO AMBIENTE
Um computador de bordo desenvolvido na Universidade Federal do Ceará (UFC) será integrado a um projeto de coleta de dados ambientais por meio de cubesats do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Com baixo custo e alta confiabilidade, o equipamento, chamado Open OBC, é usado para controlar satélites de pequeno porte e fará parte da Constelação de Nanossatélites para Coleta de Dados Ambientais (Conasat), uma iniciativa do Centro Regional do Nordeste (CRN) do Inpe.
A peça foi projetada para ser compatível com plataformas de cubesats – satélites com 10 centímetros de altura e até 1,33 quilo de massa – e tem padrão de hardware e software abertos. Cabe ao computador de bordo processar as informações recebidas, além dos dados gerados pelos outros subsistemas do dispositivo. Ele também organiza os dados obtidos pelos diversos sensores instalados no aparato, gerencia e comanda a carga útil; e trata as telemetrias a serem enviadas para a Terra e os telecomandos recebidos pelo satélite.
“O OpenOBC é diretamente responsável pelo sucesso da missão. Ele foi desenvolvido para ser o mais robusto possível, mas obedecendo às restrições para projetos do padrão cubesat”, explica o professor do Departamento de Engenharia de Teleinformática da UFC, João Cesar Moura Mota.
Uma das vantagens do computador de bordo, desenvolvido ao longo de 18 meses, é o baixo custo e a alta confiabilidade. Mesmo com a importação de componentes para a confecção da placa de circuito impressa, o custo é reduzido por ser manufaturada no Brasil – o preço final fica em cerca de US$ 70, enquanto no mercado a mesma peça custa mais de US$ 100.
“Foi possível reduzir o custo pelo fato de o processador possuir algumas características de tolerância a falhas e, com isso, economizamos com componentes externos que realizam essas mesmas funções”, afirma o engenheiro de teleinformática David Mota, que baseou sua tese de mestrado na UFC na construção do OpenOBC.
O computador de bordo já foi eletronicamente testado e está apto à incorporação com os demais subsistemas dos cubesats integrantes do projeto Conasat que serão lançados ao espaço no futuro.
“Fico feliz em saber que um equipamento que desenvolvi vai estar em um satélite. Espero, de alguma forma, estar contribuindo para o crescimento tecnológico do Ceará e do Brasil”, diz David Mota.
Oportunidade de capacitação
A iniciativa Conasat tem um diferencial: a parceria com universidades federais próximas ao CRN, notadamente a do Rio Grande do Norte (UFRN), além da UFC. O OpenOBC é fruto direto dessa ação. Entre os objetivos estão a formação de recursos humanos em áreas estratégicas para o setor espacial – especialmente para aplicações voltadas ao Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA).
“Nas universidades, temos as mais diversificadas competências e talentos que são necessários para dominar as tecnologias críticas e de acesso restrito, imprescindíveis ao desenvolvimento de sistemas espaciais completos. Com essas parcerias, buscamos fomentar a formação, a captação e a desejável fixação de especialistas qualificados para dinamizar as atividades espaciais no nosso país”, ressaltou o chefe do CRN, Manoel Carvalho.
Além do computador de bordo, outros dois equipamentos para cubesats foram desenvolvidos no âmbito do Conasat: o transponder DCS, construído por meio de uma colaboração entre o CRN/Inpe e a UFRN, e um transmissor para plataformas automáticas de coleta de dados ambientais (PCDs) construído por professores do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN).
Coleta de dados ambientais
O uso de satélites para o monitoramento de dados do meio ambiente é uma necessidade que vem sendo suprida pelo Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA) desde 1993, quando entrou em órbita o primeiro equipamento projetado e construído no Brasil, o SDC-1. Atualmente, o sistema é composto por três satélites, duas estações de controle e recepção, boias oceanográficas e cerca de 800 PCDs espalhadas por todo o território nacional.
Todo esse sistema tem sido usado em diversas áreas, principalmente no monitoramento de bacias hidrográficas, na previsão meteorológica e climática, nos estudos de correntes oceânicas e da química da atmosfera, nas análises dos níveis de poluição e no prognóstico e mitigação de desastres naturais.