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Engenheiras brasilienses selecionadas pela AEB iniciam Mestrado na China
Da esquerda para a direita: Letícia Barros, Marcia Silva e Ana Paula Nunes - Foto: Gleice Oliveira
Com a evolução da corrida espacial no mundo e a necessidade de profissionais especializados na área, a Agência Espacial Brasileira (AEB), em parceria com a China, selecionou três engenheiras brasilienses, Ana Paula Castro Nunes, 26 anos, Letícia Santos Lula Barros, 23, e Márcia Aline Ribeiro Silva, 23 são as primeiras mulheres brasileiras a cursar o Master Program on Space Technology Applications (MASTA), mestrado na área espacial, na Beihang University of Aeronautics and Astronautics (BUAA), em Pequim, na China.
A seleção acontece desde 2015, mas as engenheiras aeroespaciais, graduadas pela Universidade de Brasília (UnB) fazem parte da quarta turma selecionada para o MASTA do Centro Regional para Ciência Espacial e Educação Tecnológica na Ásia e no Pacífico (RCSSTEAP – China).
Segundo as estudantes, a ida para o país asiático foi um sonho. Com o conhecimento e a experiência adquiridos, durante o curso, as jovens pretendem incentivar outras colegas a participar da seleção e no futuro contribuir com o Programa Espacial Brasileiro.
As aulas na universidade chinesa iniciaram no mês de setembro, Ana Paula optou pelo Direito e Política Espacial, Letícia e Marcia pela Tecnologias em Microssatélites (Micro-Sat Tech). A previsão é que o curso seja concluído em dois anos, ou seja, no segundo semestre de 2020.
Para o presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, essa é uma oportunidade criada com a China, principalmente pela seriedade e relevância que a Beihang University trata os estudantes de todo o mundo, experiência, segundo ele, que pode ser comprovada com outros jovens que já concluíram o curso. A expectativa é que o curso e o número de vagas sejam ampliados para que mais pessoas tenham essa oportunidade.
Expectativa
Formada em 2017 pela Universidade de Brasília (UnB), Ana Paula buscava uma especialização e chegou a ser aprovada no mestrado do Instituto Tecnológico e Aeronáutica (ITA) para estudar propulsão hipersônica, mas quando soube da aprovação no MASTA não hesitou em escolher a oportunidade de estudar na China.
A estudante participou de um intercâmbio, durante a graduação na Universidade de Glasgow, na Escócia, Reino Unido. Para ela, a opção em estudar Direito e Política Espacial aconteceu em razão de ser um dos poucos cursos no mundo nessa área. “Sempre tive curiosidade em saber como seriam aplicadas as leis em questões relacionadas ao espaço”, afirmou a engenheira.
“Quando escolhi o curso pesquisei o cenário do Direito Espacial no Brasil e constatei que existem poucos profissionais. Acredito que a minha formação em Direito Espacial possa me proporcionar várias oportunidades, além de ser uma forma de contribuir com o desenvolvimento do setor espacial brasileiro”, explicou.
Quanto ao ensino na Beihang University, Ana Paula ressalta que o nível do curso é elevado e que a estrutura da universidade está superando suas expectativas. “Estou confiante na qualidade do ensino, antes de vir para cá verifiquei em minhas pesquisas que a universidade possui uma excelente estrutura, assim como um corpo docente experiente e preparado”, destacou.
Experiência
A experiência de Letícia Barros na área espacial começou cedo, na escola ela participou da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), mas foi na graduação que passou por experiências marcantes e decisivas para o seu futuro profissional. Na época da faculdade, em 2015, a estudante fez intercâmbio na Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos Estados Unidos, onde estudou uma matéria da área espacial e astronáutica, além de trabalhar em pesquisas com satélites, voltadas para o acoplamento de cubsats.
Letícia também participou de competições voltadas para o desenvolvimento de projetos aeronáuticos, construção e lançamento de foguetes. No mestrado na China, Letícia estuda Tecnologias em Microssatélites, a área foi escolhida com base em suas experiências acadêmicas e por ser um setor que está em ascensão, tanto no Brasil como em outros países.
“Optei pelo curso de tecnologia de microssatélite por causa das atividades anteriores, ou seja, trabalhos e estudos que realizei durante a graduação. Outro ponto crucial que pesou na minha escolha foi pensando no futuro, pois hoje essa área é uma das que mais oferece oportunidades profissionais”, ressaltou a estudante. A engenheira foi a escolhida para representar os alunos estrangeiros e fazer o discurso de abertura do mestrado.
Questionada sobre o processo de adaptação na China, ela disse estar empolgada com a oportunidade de viver em outro país e que admira a cultura dos países asiáticos. “Tenho uma boa relação com a cultura chinesa, gosto da comida, da arquitetura e espero nesses dois anos conhecer o máximo de pessoas e do país, mas o maior desafio nessa nova jornada é aprender o mandarim, idioma oficial da China, já que na universidade também temos que estudar o idioma”, afirmou Letícia.
Diferencial
A engenheira Márcia Aline, graduada no segundo semestre de 2018, estuda Tecnologias em Microssatélites na universidade chinesa. No período da faculdade, a estudante fez estágio no Instituto de Aviação de Varsóvia, na Polônia, onde trabalhou na área de gerenciamento de projetos; e na UnB realizou uma pesquisa na área de materiais no programa de iniciação científica da universidade.
Para Márcia, a experiência internacional e o envolvimento com projetos relacionados à área espacial contribuíram na hora da seleção para o mestrado. “Acredito que os estudantes devem aproveitar todas as oportunidades e experiências que a universidade oferece, pois escolhi estudar Tecnologia de Microssatélites em razão da experiência que adquiri na área de propulsão e materiais”, explicou.
Ao falar dos desafios culturais e da adaptação no novo país, Márcia disse encarar a mudança com tranquilidade e que não costuma passar apuros nesse processo. “Fico apreensiva pela mudança radical na minha vida, mas não tenho dificuldades com mudanças. Nesse momento, meu foco é agarrar a oportunidade de estudo que é muito boa, e, provavelmente, se eu ficasse em Brasília essa qualificação seria mais difícil”, afirmou a estudante.
O MASTA é um programa do Centro RCSSTEAP, instituição educacional que busca promover o uso pacífico de tecnologias espaciais em benefício da humanidade, melhorar o nível de educação e formação de profissionais, assim como a aplicação de ciência e tecnologia espacial dos países membros do Centro, como a Argélia, Argentina, Bangladesh, Bolívia, Brasil, China, Indonésia, Paquistão, Peru e Venezuela.
Informações sobre os cursos oferecidos pelo Programa MASTA em 2018, como estrutura da universidade e corpo docente do mestrado clique aqui