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Como lançar um satélite para o espaço
No dia 1º de abril, foi lançado o nanossatélite AlfaCrux, pela SpaceX, em Cabo Canaveral, na Flórida/EUA. Trata-se de um projeto realizado em conjunto entre a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), a Agência Espacial Brasileira (AEB) – autarquia vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) –, a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) e a Universidade de Brasília (UnB).
“O AlfaCrux é a demonstração de que os investimentos, sejam públicos ou privados, em setores inovadores de nossas universidades, podem gerar não só conhecimentos, mas também produtos de alto valor agregado com benefícios para a sociedade. O AlfaCrux parte de uma proposta acadêmica que pode, sim, resultar em aplicações concretas em comunicação tática e outros serviços de conectividade em áreas remotas”, afirmou o presidente da AEB, Carlos Moura.
A expectativa é que, em órbita, o equipamento possa demonstrar tecnologias via satélite para aperfeiçoar: sistema de coleta de dados, comunicação tática (defesa nacional) em banda estreita, além de ofertar uma experiência prática para alunos e professores no desenvolvimento e operação de uma missão espacial.
“O projeto tem um grande potencial de impacto social ao demonstrar soluções que podem contribuir para melhorar o monitoramento agrícola e promover comunicação em zona de desastres. O AlfaCrux é muito estratégico, pois permite coletar informações em larga escala sobre nossos ativos naturais, parâmetros climáticos e, dessa forma, apoiar tomadas de decisão no contexto da agricultura de precisão, planejamento social, entre outros benefícios”, afirma o coordenador do AlfaCrux, Renato Borges.
A estação de comando e controle em solo, desenvolvida no âmbito do projeto, é mais uma vantagem, pois viabilizará novos lançamentos sem custos adicionais, além de cooperações em outras missões nacionais e internacionais, garantindo o desenvolvimento científico contínuo. A equipe do AlfaCrux é formada por aproximadamente 30 integrantes, sendo dez professores, dois analistas na área de tecnologia da informação da UnB, dois engenheiros oficiais da defesa e 24 estudantes dos diferentes cursos de engenharia da UnB.
“Estamos muito satisfeitos em apoiar o projeto AlfaCrux, pois ele envolve alunos, na faixa etária de 20 a 24 anos, o que potencializa esse despertar tão importante para a ciência. O nosso objetivo, hoje, é transformar o Distrito Federal na terra da oportunidade e, por isso, resolvemos financiar 100% esse projeto”, destaca o diretor-presidente da FAPDF, Marco Antônio Costa Júnior.
O projeto
O projeto nasceu do aumento de interesse dos alunos pelo setor aeroespacial, e começou com o trabalho do professor Renato Borges, no projeto LAICAnSat, da Universidade de Brasília, que trabalhava com lançamentos de balões estratosféricos. “A UnB estava iniciando seu curso de Engenharia Aeroespacial e fui convidado para participar das atividades”, disse Renato.
Apaixonado pelo setor, o convite foi algo que deixou o pesquisador muito feliz. “O interesse pelo espaço surgiu muito antes da minha entrada na Engenharia. Eu sempre fui muito apaixonado pelo setor. Isso fez parte da minha adolescência, da minha infância”, disse.
Criado em 2013, o LAICAnSat é uma ação do Laboratório de Aplicação e Inovação em Ciências Aeroespaciais (LAICA) com uma série de atividades aplicadas às áreas de meteorologia, sensoriamento remoto, estudos atmosféricos e sistemas de controle, navegação e recuperação de carga. Integram a iniciativa professores e estudantes dos cursos das Engenharias Aeroespacial, Eletrônica e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica.
Em um evento em Arequipa, no Peru, no final de 2018, para apresentar os resultados do projeto, o professor Renato teve a percepção de que o próximo estágio do projeto deveria ser a construção de um nanossatélite. Surgiu, então, o projeto do AlfaCrux. “Começamos a esboçar os primeiros conceitos de operação. A gente estava vendo como trazer uma ação educacional, qual o aspecto científico a gente gostaria de lidar e o que era estratégico na nossa visão“, falou Renato.
Já em 2019, foi assinado um Memorando de Entendimento (MoU) entre FAPDF, AEB e a UnB para estabelecer cooperação técnica para o desenvolvimento do projeto AlfaCrux.
O professor faz questão de realçar o trabalho de vários parceiros na formulação e construção do projeto, como a Anatel e a Finatec. “Queria destacar o profissionalismo e atenção de todos os nossos parceiros. Nós somos extremamente gratos”, disse.
Com a chegada da pandemia de Covid-19, houve vários desafios logísticos e financeiros para a efetivação do projeto. Apesar de várias frentes de trabalho já estarem bem adiantadas, que englobavam vários subsistemas do projeto, foi necessária uma série de ações de adaptação, como o atraso do lançamento, por exemplo. “A Covid-19 colocou o mundo em outro modo de operação“, disse.
A equipe de Renato fez contato para lançamento com a empresa ExoLaunch, uma empresa que trabalha com os principais veículos lançadores do mundo, e constataram que a melhor opção seria a empresa SpaceX e seu modelo Falcon 9, com sua missão Transporter-4 dedicada a pequenos satélites. “Para nós, foi fantástico pelo que a empresa representa e seus projetos audaciosos. A gente estava bastante satisfeito com o encaminhamento que foi dado”, disse Renato.
Com o sucesso do lançamento, o professor Renato espera que o AlfaCrux sirva de inspiração para outras equipes e que jovens invistam no setor. “A gente precisa de um número cada vez maior de pessoas atuando no setor. Quando estou conversando com alunos e buscando novos membros para nossa equipe, uma das questões que acho fundamentais é o brilho no olho, aquela expectativa em relação ao trabalho. A competência técnica e o conhecimento, nós estamos aqui para trabalhar. Nós temos um corpo docente competente nas mais diferentes universidades brasileiras. O interesse e a persistência são algo que precisamos muito dessa turma que está chegando”, falou Renato.
Sobre a AEB
A Agência Espacial Brasileira (AEB), órgão central do Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE), é uma autarquia pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), responsável por formular, coordenar e executar a Política Espacial Brasileira.
Desde a sua criação, em 10 de fevereiro de 1994, a Agência trabalha para viabilizar os esforços do Estado Brasileiro na promoção do bem-estar da sociedade, por meio do emprego soberano do setor espacial.
Coordenação de Comunicação Social - CCS