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CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS APROXIMA BRASILEIRAS NA NASA
Brasília, 15 de abril de 2015 – O programa Ciência sem Fronteiras (CsF) foi o elo responsável pelo encontro entre duas cariocas, Rosaly Lopes e Fabíola Magalhães, que descobriram suas afinidades na área de Astronomia ao atuarem juntas no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e localizado em São José dos Campos (SP). As cientistas brasileiras fizeram trajetórias de formação inversas e, recentemente, iniciaram um trabalho de parceria na Agência Espacial Norte-Americana (Nasa).
Ainda menina, aos quatro anos de idade, Rosaly começou a se interessar pelos assuntos do Cosmos ao assistir noticiários sobre Iuri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo espaço. E como muitos jovens de sua época, aos 18 anos, a ex-garota de Ipanema saiu do Rio para estudar Astronomia na Universidade de Londres, Inglaterra, pela falta de estrutura no Brasil. Lá, se encantou com os vulcões, ao cursar uma disciplina sobre a geologia dos planetas, e iniciou a sua trajetória de pesquisas, descobertas, publicações e prêmios.
A carreira da cientista foi coroada pelos mais de 20 anos de atuação na Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), onde esteve à frente da Missão Cassini (que explora, com um satélite, o planeta Saturno e suas luas). Rosaly é também considerada uma das maiores especialistas em vulcões do mundo. Ela encontrou 71 deles ativos em Io, lua de Júpiter. Por esse feito, entrou para o Guiness americano, o livro dos recordes. Hoje, com 58 anos de idade, a astrônoma brasileira chefia o departamento de ciências planetárias no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa, na Califórnia, responsável pela coordenação de 80 profissionais. Leia mais.
Já a trajetória acadêmica da pesquisadora Fabíola Magalhães, de 33 anos, transcorreu no Brasil, onde se graduou em Astronomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e cursou o mestrado em Astrometria pelo Observatório Nacional (ON/MCTI). Atualmente, ela é doutoranda em Geofísica Espacial pelo Inpe. A jovem, que foi inspirada pelos livros de divulgação científica do astrônomo norte-americano, Carl Sagan, hoje vive a realidade de estudar os astros e os vulcões em parceria com a doutora Rosaly, na Nasa.
Vulcanismo
Orientada pelo físico Walter Gonzalez, da Divisão de Geofísica Espacial do Inpe, Fabíola atua na agência espacial norte-americana com uma bolsa sanduíche pelo programa CsF e estuda a influência do vulcanismo em Io e no campo magnético de Júpiter. “O que queremos é compreender melhor como ocorrem essas interações entre Io e Júpiter, e qual a Física envolvida por trás. Júpiter vem a ser o maior planeta do nosso Sistema Solar e o que possui a maior magnetosfera (envoltório produzido pelo campo magnético, capaz de proteger o planeta do vento solar)”, explica.
Segundo a pesquisadora, o projeto engloba uma área ainda não muito explorada e com muitas questões em aberto. “Só pela parte inovadora, já fico bastante satisfeita com o projeto que venho desenvolvendo mas, além disso, espero ser capaz de compreender um pouco mais profundamente cada uma das diversas áreas que o trabalho abrange. Desta forma, minha primeira expectativa é alcançar resultados satisfatórios e torcer para que os mesmos venham a contribuir com informação relevante para a comunidade científica”, planeja.
Uma oportunidade “incrível” para a brasileira que nunca pensou na possibilidade de trabalhar na Nasa. “A experiência tem sido fascinante de poder conhecer e discutir ideias com pessoas que apenas conhecia por nome em artigos. Com certeza, por isso, já vale a viagem. Uma coisa que pela qual sempre me interessei, e que a Nasa tem de sobra, são as missões espaciais. E algo que achei fascinante é saber que a sala de controle das missões fica logo ali, num prédio bem pertinho ao meu”, declara.
Intercâmbio
Para Rosaly Lopes, que voltou ao Brasil em 2012, como visitante especial pelo programa CsF, a parceria com Fabíola representa a continuidade da sua pesquisa sobre as causas e os efeitos no sistema magnetosférico (exterior da atmosfera de um astro) ao redor Júpiter e a relação com as erupções vulcânicas. “Estamos fazendo a maior parte do trabalho em termos de análises de dados, o que se estenderá até o fim do ano”, conta a Rosaly. “Eu estudo a atividade dos vulcões de Io e achamos que essa talvez seja a influência principal da variabilidade do torus. E a Fabíola está analisando dados para ver se existe este relacionamento. Isso foi um benefício para mim também, porque me envolveu num aspecto de pesquisa novo”, salienta.
Para a pesquisadora, o intercâmbio permitiu atuar na área de sua especialidade e intensificar a cooperação entre as agências da área espacial dos dois países. “A geologia dos planetas é muito pouco estudada no Brasil, que se concentra em outros campos de ciência astronômica e planetária. Tenho, então, a oportunidade de envolver estudantes e fazer crescer esta área no País. Por exemplo, em 2013, dei aulas num curso de Pós-Graduação, no Observatório Nacional, sobre geologia dos planetas e escrevi o capítulo de um livro que foi editado pelo Observatório. Dei também muitas palestras no Inpe e em alguns congressos no Brasil,” relata.
Rosaly Lopes conta que os compromissos com a Nasa dificultam a sua fixação por longos períodos no Brasil, o que não impedirá o intercâmbio de conhecimentos. “O Inpe é um lugar ótimo, com cientistas e engenheiros de grande calibre”, avalia. “E, por outro lado, hoje em dia, com computadores e Skype, podemos trabalhar juntos sem passar muito tempo no mesmo lugar”, justifica. “Estou servindo como ponte entre o Inpe e o JPL. Existem outros projetos, de pesquisadores brasileiros aqui no JPL, estou fazendo as conexões entre os pesquisadores e facilitando a colaboração”.
Na avaliação de Rosaly, a ciência no Brasil se desenvolveu muito desde a época que saiu do País em busca de oportunidades. “O Brasil agora já está entrando no grupo de países que têm programa espacial. Essa foi uma das razões pelas quais o JPL me deu permissão para passar um tempo no nosso País, na esperança de fomentar mais projetos de colaboração, principalmente, em missões espaciais de observação da Terra”, ressaltou a cientista, que é entusiasta do programa CsF pela iniciativa de enviar estudantes brasileiros ao exterior, como é o caso de Fabíola.
“Eles praticam outra língua e podem ver como funcionam instituições de alto nível, em outras partes do mundo”, avalia.
Fonte: MCTI