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BRASILEIROS TERÃO TEMPO DE OBSERVAÇÃO DE SUPERTELESCÓPIO
Brasília, 19 de maio de 2015 – Dotados de espelhos com diâmetro superior a 20 metros de resolução 10 a 15 vezes maior do que a do telescópio espacial Hubble, o instrumento de observação do Universo mais bem-sucedido dos últimos 25 anos, os supertelescópios ópticos baseados em terra firme devemo elevar a pesquisa astronômica e cosmológica a outros patamares na próxima década.
Essa nova classe de observadores gigantes dos céus terá uma capacidade de gerar dados nos comprimentos de onda da luz visível e do infravermelho sobre planetas, estrelas e galáxias sem paralelo na história da humanidade.
Com eles, os astrofísicos esperam, por exemplo, produzir as primeiras imagens de planetas extrassolares semelhantes a Terra e, talvez, encontrar evidências irrefutáveis de vida em mundos ao redor de outras estrelas que não o Sol. O Giant Magellan Telescope (GMT) está previsto para ser o primeiro supertelescópio a entrar em atividade. Ainda sem estar totalmente terminado, deve começar a funcionar em 2021. A meta é, no ano seguinte, estar totalmente operacional, com 100% de sua capacidade. Este, ao menos, é o plano por ora.
Projeto de US$ 1 bilhão tocado por um consórcio de sete universidades e instituições norte-americanas, dois centros de estudos astrofísicos da Austrália e o Instituto de Astronomia e Ciência Espacial da Coreia do Sul, o GMT incorpora, oficialmente desde dezembro passado, as instituições de pesquisa do estado de São Paulo ao seu grupo de sócios.
Naquela ocasião, após ter submetido à proposta de entrada no GMT a um processo de análise de aproximadamente três anos, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) liberou a primeira das oito parcelas anuais de US$ 5 milhões que garantirão aos astrofísicos de universidades paulistas 4% do tempo de observação do equipamento e um representante no seu conselho de administração.
O supertelescópio será construído a 2.500 metros de altitude no sul do deserto de Atacama, no Chile, em um sítio do Observatório de Las Campanas, onde a Carnegie Institution for Science, uma das instituições norte-americanas parceiras da empreitada, mantém telescópios desde o início dos anos 1970.
“No passado, se não tivéssemos entrado nos telescópios Gemini e Soar, a astrofísica brasileira teria definhado”, garante João Steiner, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), coordenador do projeto que colocou as instituições paulistas no supertelescópio. “Até o fim da próxima década, o mesmo poderia ocorrer se não tivéssemos fechado um acordo como esse com o GMT.”
Rede – Desde o ano 2000, a ciência feita no Pico dos Dias – o principal observatório situado em território nacional, em Minas Gerais, que dispõe de três pequenos telescópios, o maior com espelho de 1,6 m de diâmetro – apresenta tendência de estagnação ou queda.
Já a produção de artigos científicos de astrofísicos brasileiros escritos a partir de observações no Gemini e Soar cresce 17% ao ano. Hoje, são 40 “papers” a cada 12 meses. Os astrofísicos esperam que a entrada no GMT represente um novo impulso à área.
O quartel-general da parceria com o GMT ficará na USP, que trabalhou em prol do acordo e concentra a maior parte da produção científica em astrofísica do estado, mas os grupos de pesquisa de outras universidades paulistas também poderão submeter projetos para uso do tempo de observação no supertelescópio.
“Os investimentos recentes da Fapesp em projetos como o GMT, o Llama e o CTA criaram um potencial enorme para que São Paulo se torne um polo internacional de astrofísica”, afirma Augusto Damineli, também do IAG, outro pesquisador envolvido diretamente nas negociações que levaram à entrada de São Paulo como sócio do supertelescópio. “Queremos montar uma rede paulista de astronomia, aumentar a produção científica e o tamanho das pós-graduações e investir em divulgação da ciência.”
Além do GMT, dois projetos, também vultosos, disputam a corrida dos telescópios gigantes: o Thirty Meter Telescope (TMT), iniciativa de US$ 1,2 bilhão bancada por um consórcio internacional de instituições de pesquisa dos Estados Unidos, Canadá, Japão, China e Índia, que será construído num ponto a mais de 4 mil metros de altitude dos Observatórios de Mauna Kea, no Havaí, onde há mais de uma dezena de telescópios instalados; e o European Extremely Large Telescope (E-ELT), empreitada de pouco mais de 1 bilhão de euros patrocinada pelos Estados-membros do Observatório Europeu do Sul (ESO), a ser instalado a 3 mil metros de altitude no topo do Cerro Amazones, na região de Antofagasta, no deserto de Atacama.
O TMT e o E-ELT terão, respectivamente, espelhos de 30m e de 39m de diâmetro. Serão, portanto, maiores do que o GMT, cujos sete espelhos de 8,4m funcionarão em conjunto como se fossem um só espelho de 24,5m, diâmetro duas vezes e meia maior do que o dos maiores telescópios terrestres hoje em atividade, como os dois Keck, no Havaí. O Brasil não terá acesso ao TMT, e a utilização do E-ELT, o projeto mais ambicioso do ESO, depende da ratificação do acordo federal com o observatório europeu.
Hoje, entre os cerca de 1.900 exoplanetas confirmados desde 1995, apenas entre uma e duas dezenas de mundos extrassolares se assemelham realmente a Terra, a julgar pelas exíguas informações disponíveis. Ou seja, poucos parecem ser os exoplanetas rochosos situados na chamada zona habitável, com temperaturas amenas e condições ambientais ideais para abrigar água líquida e fomentar vida.
O lançamento da pedra fundamental do GMT ocorrerá em 11 de novembro próximo, no Chile. O evento marca o início das obras de engenharia para edificação do observatório que abrigará o supertelescópio.
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp