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BRASIL CONSTRÓI CÂMERA DE GRANDE PORTE PARA OBSERVAÇÃO ASTRONÔMICA
Foto: Divulgação/ Centro de Estudios de Física del Cosmos de Aragón – Telescópio do Observatório de Javalandre
Brasília, 20 de março de 2015 – Nos próximos meses, o Observatório Astronômico de Javalambre (OAJ), na região de Aragão, na Espanha, inicia um mapeamento do Universo observável a partir do hemisfério Norte durante quatro anos, com o objetivo de produzir um mapa tridimensional com centenas de milhões de galáxias, compreendendo um quinto de todo o céu do planeta.
Para isso, serão utilizados dois telescópios com grande campo de visão, sendo um menor – com espelho de 80 centímetros de diâmetro e uma câmera de 85 megapixels (milhões de pixels) acoplada – e um telescópio principal, com espelho de 2,5 metros de diâmetro, equipado com uma câmera de 1,2 gigapixel (bilhão de pixels), com capacidade de produzir imagens em 59 cores de cada estrela, galáxia, quasar, supernova e objeto do sistema solar observado.
Batizada de JPCam, a câmera óptica de 1,2 gigapixel será a segunda maior no mundo para uso em astronomia – a maior em operação tem 1,4 gigapixel e está instalada no telescópio Panoramic Survey Telescope and Rapid Response System (Pan-STARRS), da University of Hawaii. Há uma câmera ainda maior em construção, com capacidade de 3,2 gigapixels, que será utilizada no Large Synoptic Survey Telescope (LSST), mas com previsão para entrar em operação em 2022, no Chile.
Tanto a JPCam como a câmera de 85 megapixels estão sendo construídas com a participação de pesquisadores brasileiros no âmbito do Projeto Temático “O Universo em 3D: astrofísica com grandes levantamentos de galáxias”, apoiado pela Fundação de Apoio a Pesquisa de São Paulo (Fapesp).
“A JPCam possibilitará produzir imagens em 59 cores de quase cada pixel do céu observado, o que é algo absolutamente novo”, avalia Laerte Sodré Junior, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) e coordenador do Projeto Temático.
“Existem instrumentos astronômicos que fazem isso, mas em uma região minúscula do céu e não com a quantidade de filtros de imagem que a JPCam terá. Com isso, será possível abrir uma nova janela na Astronomia”, diz Sodré.
Responsabilidade – Os pesquisadores brasileiros são responsáveis pela parte mecânica da câmera, incluindo um dispositivo que controlará a entrada de luz e as bandejas de filtros de imagem de 14 detectores. O subsistema óptico do instrumento será construído por uma empresa inglesa contratada pela colaboração astronômica, que tem a participação de universidades e instituições de pesquisa do Brasil e da Espanha.
A participação nacional no projeto é financiada pela Fapesp e por outras instituições de fomento à pesquisa no país. “O governo da Espanha financiou a construção do observatório e dos telescópios e o Brasil se responsabilizou pela construção das câmeras”, informa Sodré.
A câmera JPCam é um dos instrumentos que pesquisadores brasileiros trabalham para desenvolver em grandes projetos de observação astronômica que entrarão em operação nos próximos anos.
Outro grupo de pesquisadores do IAG-USP, em colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Observatório Nacional (ON) e o Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), também está desenvolvendo uma câmera de 85 megapixels que será acoplada a um novo telescópio, com espelho de 87 centímetros de diâmetro, que está em instalação no Observatório Internacional de Cerro Tololo, no Chile, com apoio da Fapesp.
Este telescópio mapeará durante três a quatro anos o Universo observável no hemisfério Sul e completará as observações realizadas pelo telescópio menor do Observatório de Javalambre. Com isso, será possível observar mais um sétimo de todo o céu, cobrindo toda a região visível do espectro eletromagnético, dizem os pesquisadores da área.
“O telescópio de Cerro Tololo deve começar a produzir dados já em agosto”, diz Sodré. “Esse levantamento astronômico deve resultar em descobertas muito importantes para a astronomia”, estima.
Nova era – De acordo com Sodré, os primeiros instrumentos científicos para projetos astronômicos desenvolvidos no Brasil foram para os telescópios do Observatório do Pico dos Dias, em Minas Gerais, inaugurado em 1980, e operado e mantido pelo LNA.
A maioria dos instrumentos foi desenvolvida pelas próprias universidades e instituições de pesquisa porque até então não havia um modelo de parceria com empresas, explica João Steiner, professor do IAG-USP.
“Naquela época não havia essa possibilidade e cada universidade e instituição de pesquisa tinha suas próprias oficinas mecânicas e eletrônicas e seus engenheiros, e desenvolviam tudo internamente. A contratação de serviços de empresas só começou na metade da década de 1980”, lembra Steiner.
De acordo com os pesquisadores, uma “nova era” do desenvolvimento de instrumentação científica para projetos astronômicos foi iniciada em 2000, quando foram inaugurados o Observatório Gemini – cujas operações iniciaram em 2004 com dois telescópios “gêmeos”, um nos Andes chilenos e outro no Havaí – e o Southern Observatory for Astrophysical Research (Soar, na sigla em inglês), inaugurado nos Andes em 2005.
O Brasil conta com 6,5% de participação nas observações do Gemini, cujos telescópios têm espelhos principais com 8,1 metros de diâmetro. No Soar, com espelho de 4,2 metros de diâmetro, a participação nacional é de 30%.
“Apesar do sucesso científico da participação brasileira de 6,5% nas observações e 12% das publicações de artigos resultados de pesquisas realizadas no observatório em 2014, não fomos muito bem-sucedidos nas estratégias para desenvolver instrumentação científica no Gemini, mas aprendemos algumas lições sobre como não fazer determinadas coisas”, disse Steiner. “Já no SOAR, verificamos que contratar indústrias para ajudar a desenvolver instrumentos científicos é o melhor caminho.”
Fonte: Agência Fapesp