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Unidade de aprendizagem agrícola brasileira está instalada em complexo de pesquisa no Mali
O último dia da visita oficial do Diretor-Adjunto da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) ao Mali foi concluída com êxito essa segunda-feira (14). O Embaixador Demétrio Bueno Carvalho teve a oportunidade de conhecer a mais significativa contribuição da cooperação brasileira ao Mali: a “Unidade de Aprendizagem Agrícola” localizada há cerca de 12km de Bamako, na Estação Experimental de Sotuba do Instituto de Economia Rural (IER) do Mali.
Dentro das instalações do IER, existe um conjunto de pequenos prédios, cercados de placas de identificação que permitem compreender a razão do Brasil estar ali presente: trata-se de um dos resultados do projeto de cooperação técnica Cotton-4+Togo , coordenado pela ABC e que completa 10 anos de execução em 2019. Com o objetivo de contribuir para a melhoria da produtividade do algodão em cinco países da região noroeste do continente africano, a “Unidade de Aprendizagem Agrícola” brasileira, em Sotuba, tornou-se referência no Mali, Benim, Burkina Faso, Chade e Togo, que são os parceiros do projeto Cotton-4+Togo.
Ali são realizadas atividades de pesquisa e de capacitação relacionadas com as três principais áreas de atuação do projeto: i) manejo integrado de pragas, ii) melhoramento genético e iii) utilização de sistema de plantio direto sob cobertura vegetal. O conhecimento técnico é da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), instituição parceira do projeto. Com base nesse conhecimento compartilhado pela Embrapa, os países do Cotton-4+Togo têm sido capaz de aumentar sua produtividade de algodão e garantir renda e segurança alimentar para um maior número de agricultores e suas famílias.
Durante a visita ao local, o Diretor-Adjunto da ABC pôde observar como o Brasil tem aplicado os seus recursos financeiros destinados à cooperação técnica. Em encontro com o Diretor do IER, Hamadou Traore, o malinense afirmou que a qualidade da cooperação prestada pelo Brasil é tão elevada, que eles seguirão a cooperar e trocar conhecimento técnico com outros países africanos da região, mesmo quando terminar o projeto com o Brasil.
“Os nossos dez anos de cooperação com o Brasil foram muito dinâmicos. O Brasil levou em conta as nossas necessidades, não nos trouxe um modelo imposto. A cooperação reforçou e melhorou a nossa tradição em produção de algodão. Estamos agora concluindo a segunda fase do projeto e esperamos poder continuar cooperando com o Brasil nesse tema” , concluiu Traore.
O Diretor-Adjunto da ABC, por sua vez, demonstrou-se satisfeito em ver as instalações “do Brasil”, no complexo de pesquisa agrícola do Mali. “Com o nosso prédio aqui, fica concreta a presença do Brasil. Estou muito feliz de estar aqui e ver, na prática, os resultados da nossa cooperação. Conseguimos criar um centro de formação de formadores para os cinco países do projeto, em que eles vêm aqui e aprendem técnicas que depois usarão nos seus países. E o Mali tem a função de coordenar essa dinâmica” , salientou o embaixador brasileiro.
Semente brasileira e cobertura vegetal
O Mali está entre os principais produtores de algodão da África e grande parte da sua população rural depende dessa cultura para sobrevivência. De forma surpreendente, uma semente brasileira, trazida no âmbito do projeto, tem apresentado excelentes resultados. 40% dos produtores de algodão do Mali, na safra 2018-2019, usaram em seus campos a variedade de algodão brasileira BRS 293, introduzida pelo projeto Cotton-4+Togo, e tiveram aumento importante na produção. Novos testes estão sendo feitos na estação experimental em Sotuba para identificar a melhor combinação genética entre a semente brasileira e uma variedade malinense, de modo a incrementar ainda mais a sua produtividade.
A delegação brasileira visitou os campos experimentais de Sotuba, cuja área cultivada é de cerca de 3,5 hectares, dividida em parcelas. Na parcela destinada aos testes experimentais que utilizam as práticas brasileiras, está um diferencial: a cobertura vegetal. A técnica, utilizada pela Embrapa, permite melhor conservação do solo e da água, assegurando produtividades superiores mesmo em condições climáticas adversas. O solo, mesmo em períodos de entressafras, fica coberto com biomassa específica que permite protegê-lo da ação direta do sol, diminuindo assim as perdas de água por evaporação e consequentemente aumentando a eficiência do uso da água do solo nas plantações futuras.
Segundo a instituição de pesquisa brasileira, o cultivo do algodoeiro após as plantas de cobertura eleva a produtividade em aproximadamente 30%. E os agrônomos malinenses confirmam a eficácia da utilização dessa metodologia. Para Fagaye Sissoko, agrônomo do IER e responsável técnico da estação experimental do projeto Cotton-4+Togo em Sotuba, além da cobertura vegetal, outra técnica bastante eficiente, compartilhada pela Embrapa, foi a de Sistema de plantio direto (SPD), em que existe uma rotação de culturas, na mesma parcela de terra, a cada safra. “As tecnologias compartilhadas pelo Brasil permitiram melhorar tanto a qualidade do nosso solo como a produtividade do nosso algodão” , afirmou Sissoko.
A rotação de culturas proposta pelo Brasil tem ainda uma outra vantagem: a diversificação dos produtos cultivados, que podem depois ser consumidos, comercializados ou utilizados para ração animal. Além disso, o cultivo é feito de forma consorciada, outra técnica que aumenta a qualidade do solo e a produtividade. O algodão, por exemplo, é plantado em conjunto com alguma leguminosa e com algum tipo de capim, combinação que amplia a fixação natural de nitrogênio no solo e diminui a quantidade de adubo extra que necessitaria ser adicionado durante o crescimento do algodão, reduzindo assim o custo total de produção.
Nas parcelas experimentais de Sotuba, essas diferentes técnicas são testadas e, posteriormente, compartilhadas com os produtores malinenses. O crescimento da utilização da variedade de algodão brasileira BRS 293 entre os produtores de algodão no Mali é um claro indício dos resultados do projeto Cotton-4+Togo. Segundo os especialistas malinenses, essa variedade produz pelo menos o dobro de outras variedades, mesmo em condições de plantio que ainda não agregaram outras tecnologias de cultivo e manejo da plantação.
Outro número do qual se tem registro, resultado da aplicação das técnicas compartilhadas no âmbito do projeto, é do aumento da produtividade de milho. A produção aumentou de 800 kg por hectare para cerca de 5 mil kg por hectare. Esse dado permite verificar que os resultados da cooperação brasileira ultrapassaram aqueles relacionados com o algodão.
Para Sissoko, a cooperação brasileira tem um grande diferencial: “Além de serem extremamente competentes tecnicamente, os cientistas da Embrapa foram sempre abertos, amigáveis e prontos para trocarem experiências conosco. Eles nunca vieram ao Mali com a posição de que eram melhores ou de que sabiam mais do que nós, mas que tínhamos coisas para trocar. E, assim, nós trocamos muito, ao longo desses dez anos. E, hoje, podemos ver claramente os excelentes resultados frutos da nossa cooperação com o Brasil” , concluiu, entusiasmado, já ao fim da visita da delegação brasileira.
Saiba mais sobre o projeto Cotton-4+Togo .
Autor: Janaina Plessmann
Fotos: Cláudia Caçador