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Técnicos de Myanmar fazem imersão no Instituto Butantan para aprimorar produção local de soros antivenenos
A iniciativa é voltada para o compartilhamento de conhecimentos sobre produção de antivenenos como parte do projeto “Melhoramento de metodologias e técnicas de produção de soro antiofídico em Myanmar – fase II: qualidade do antiveneno”, coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores, em parceria com o Instituto Butantan e os Ministérios da Saúde e da Indústria de Myanmar.
A ação começou em 2023 e tem prazo de dois anos, com previsão de ida de pesquisadores do Butantan a Myanmar, até 2025, para avaliação dos processos de produção local de soros antiveneno.
A diretora de produção de soros do Instituto Butantan, Fan Hui Wen lembrou que o treinamento realizado visou a melhoria dos processos e métodos de produção. “Nessa etapa do projeto, o foco foi na melhoria dos processos de obtenção dos venenos, preparo de antígenos, controles do processo, além da imunização e coleta de plasma”, afirmou.
Durante as atividades no Instituto, os técnicos de Myanmar afirmaram que há um número reduzido de profissionais especializados no país, o que limita a implementação de cuidados veterinários específicos e a realização de análises para controle do processo da formação de pools de veneno, e do plasma produzido a partir da imunização com os antígenos derivados.
Campo
Adicionalmente, os especialistas visitantes passaram quatro dias na Fazenda São Joaquim, no interior de São Paulo, acompanhando a preparação de antígenos para imunização de cavalos, o processo de imunização desses animais e a coleta automatizada de plasma destinado à produção dos soros do Butantan.
A experiência de conhecer estes processos na Fazenda São Joaquim, onde vivem mais de 800 cavalos, foi resumida por Mya Nila Win, de Myanmar, em quatro palavras: excelência, inovação, cooperação e colaboração.
“Nessas duas semanas aprendemos novos conceitos também, como a plasmaférese automatizada, o que é totalmente novo para mim. Como veterinário, adorei ver como mudou a fazenda, conhecer mais sobre a saúde dos cavalos, sobre o manejo e todo o sistema aplicado lá. Foi muito interessante”, afirmou Hsu Pyae Kyaw.
Hsu Pyae Kyaw esteve no Butantan em 2015, na primeira fase do programa, mas afirma que a segunda experiência foi bastante diferente.
“A plasmaférese automatizada é algo novo porque, em 2015, eu não vi isso antes. Percebo um maior desenvolvimento, com novas estruturas, novas fábricas, novas lideranças. Fico muito feliz de ver tantas mudanças boas”, reiterou.
Primeira Fase
Na primeira fase do projeto, ocorrida entre 2014 e 2016, a cooperação brasileira auxiliou o governo de Myanmar na ampliação da produção do soro antiofídico e na melhoria da qualidade e eficácia do produto. Na época, pesquisadores do Instituto Butantan foram ao país asiático para capacitar técnicos locais e alguns cientistas mianmarenses vieram ao Brasil para se aprimorar.
Segundo a diretora de produção de soros do Butantan, por meio do envolvimento no projeto e das demandas dos colegas asiáticos, foi possível a troca mútua entre técnicos de ambas nações. “Foi uma grande oportunidade de crescimento para nossos técnicos conhecer experiências profissionais e culturais diversas”.
Cenário
Myanmar sofre com o alto número de acidentes com as serpentes Daboia siamensis e Naja kaouthia, além da escassez de recursos científicos e tecnológicos, por ser um país eminentemente agrícola. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), quase metade da população (49,7%) vive abaixo da linha da pobreza.
Com 2,7 vezes o tamanho do estado de São Paulo, a nação asiática registra mais de 15 mil acidentes ofídicos por ano, segundo levantamento realizado em 2014. No Brasil, onde o território é muito maior, em 2022 foram registrados 30 mil acidentes com picadas de serpentes, segundo o Ministério da Saúde.
Credito: Instituto Butantan