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Senegaleses vêm ao Brasil para reunião do comitê gestor do Projeto PAIS-Natangué
A próxima reunião do comitê gestor do Projeto “Fortalecimento de práticas agroecológicas para o estabelecimento de sistema participativo de certificação no programa de fazendas ‘Natangué’ no Senegal” – PAIS Senegal – já está marcada para acontecer em setembro, no Rio de Janeiro. Essa foi uma das decisões da última missão técnica que aconteceu entre os dias 10 e 26 de junho, no Senegal.
Participam da reunião três senegaleses ligados à Agência Nacional de Integração e Desenvolvimento Agrícola (ANIDA). Outra atividade prevista em continuidade ao projeto, cujos objetivos finais são garantir a conversão para a produção agrícola orgânica e a certificação participativa naquele país, é a capacitação de 12 agricultores senegaleses (quatro participantes da primeira fase e oito da segunda fase), além de quatro conselheiros agrícolas.
A capacitação pretende demonstrar para os agricultores e técnicos de campo senegaleses e gestores presentes, a real capacidade produtiva de sistemas agroecológicos, além de apresentar experiências bem sucedidas de produção, associativismo e comercialização de produtos orgânicos certificados pela Associação de Produtores Biológicos do Rio de Janeiro – ABIO , parceira do projeto. A ideia é mostrar os benefícios da venda direta para a formação e ampliação dos mercados de produtos orgânicos, assim como o funcionamento do Sistema Participativo de Garantia.
Visita de campo no Senegal
Durante os trabalhos realizados em junho, técnicos brasileiros e senegaleses visitaram proprietários rurais nos municípios de Thieppe e Kolda, além das propriedades no entorno de Dakar. A equipe técnica, formada pelo consultor Aly Ndiaye e pelo prof. Antônio Abboud, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) , foi acompanhada por representantes da Agência Nacional de Integração e Desenvolvimento Agrícola (ANIDA).
A reunião de abertura dos trabalhos, na sede da ANIDA, em Dakar, serviu para os presentes revisarem os pontos discutidos na visita ao Brasil, em abril de 2019, e confirmarem o entendimento que os senegaleses têm sobre a importância dos Sistemas Participativos de Garantia, os SPGs, e sobre a modalidade de produção agrícola orgânica. Para o consultor do PAIS Consultoria em agroecologia, Aly Ndiaye, o projeto “está no caminho certo e representa um grande avanço para a agricultura sustentável no Senegal”.
A equipe visitou 20 propriedades rurais escolhidas pela ANIDA para esta segunda fase do projeto, além de visitas feitas a alguns agricultores que participam desde a primeira fase. Os técnicos fizeram o acompanhamento das ações de elaboração do plano de manejo que dará base para a conversão para agricultura orgânica e também orientaram os agricultores sobre a implantação de redesenho de suas propriedades.
Avanços e Desafios
A visita a cada propriedade serviu para que os técnicos fizessem uma análise situacional e sugerissem melhorias e medidas de adequação para garantir os objetivos do projeto.
As propriedades que participam desde a primeira fase, principalmente no entorno de Dakar, já apresentam avanços consideráveis. Observa-se melhoria nas condições de vida, como a construção de novas casas, aumento e diversificação da produção, além da redução do uso de defensivos agrícolas e aumento na produção de esterco, com criação de aves, por exemplo, e a prática intensiva de compostagem.
É o caso do Sr. Beydi Ndaw que tem formação superior em agricultura e uma propriedade bem desenhada, com rotação de culturas e planejamento de produção. Para o prof. Antônio Abboud, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), o agricultor é bem organizado e sua propriedade pode ser considerada modelo para o projeto. “Trata-se de um produtor de grande potencial para o funcionamento do futuro SPG- Senegal, sua propriedade pode ser usada como vitrine” , atesta Abboud.
Já as propriedades visitadas em Thieppe e Kolda mostraram desafios significativos, especialmente com relação ao uso indiscriminado de defensivos agrícolas, muitas vezes incentivados pelos técnicos que dão assistência local. Muito proprietários demonstraram insegurança na produção orgânica especialmente devido a receio com pragas e expectativa negativa de venda dos produtos orgânicos no mercado.
Outro grande problema constatado é a falta de água na região e o uso indevido dos recursos hídricos. A irrigação por gotejamento ainda é pouco praticada e a arborização das propriedades ainda está muito incipiente.
A equipe técnica brasileira deverá visitar novamente aquele país para participar de formação com os técnicos e agricultores sobre uso de produtos alternativos no controle de pragas e doenças e uso de adubos verdes.
Sementes
Um dos pontos importantes pretendidos pelo projeto é a busca pelo aumento da agro biodiversidade por meio da inserção de sementes e mudas trazidas do Brasil. Ao todo, foram entregues, durante a visita, 20 variedades de sementes, entre elas seis tipos de leguminosas, com o objetivo de garantir o enriquecimento dos solos e proporcionar aos agricultores a experiência na produção dessas espécies.
A equipe brasileira também pontuou o potencial das culturas de melão, uvas, batata-doce e aboboras. Variedades diferentes dessas culturas deverão ser introduzidas em missões próximas.
O projeto “PAIS Senegal” é coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e pelo governo do Senegal, e implementado em parceria com a UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO), PAIS - Consultoria em Agroecologia e Agência Nacional de Integração ao Desenvolvimento Agrícola do Senegal (ANIDA).
Autor: Claudia Caçador