Notícias
Projeto Shire-Zambeze realiza missão de avaliação final
Uma região com solo e clima propícios para a produção do algodão, com uma concentração de propriedades rurais familiares que cultivam grande parte de suas terras. As zonas são também identificadas como áreas de expansão para o cultivo algodoeiro com alto potencial produtivo. Essas regiões abrangem os vales dos rios Shire e Zambeze, respectivamente nos países africanos Malawi e Moçambique. Foi nesse local que surgiu, em 2014, o “ Projeto Regional de Fortalecimento do Setor Algodoeiro nas Bacias do Baixo Shire e Zambeze ”, que está prestes a ser concluído.
Para realizar a avaliação final da iniciativa, uma equipe de profissionais das instituições parceiras envolvidas iniciou, no dia 28 de outubro, uma missão no Malawi e encontra-se, até o dia 8 de novembro, em Moçambique. Representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Centro Internacional de Agricultura Tropical da Colômbia (CIAT) são acompanhados pelo analista de projetos da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) , Fábio Tagliari, que está coordenando os trabalhos do projeto, e por representantes das instituições parceiras moçambicanas.
A missão de avaliação final tem como objetivo analisar os impactos social, ambiental e institucional ocorridos desde que a troca de experiências entre os dois países africanos e o Brasil tiveram inicio. A metodologia empregada na avaliação é a “Ambitec-Agro”, usada há mais de 20 anos pela Embrapa e que consiste em um sistema de avaliação dos impactos multidimensionais alcançados por meio das inovações tecnológicas agropecuárias implementadas. Já o CIAT tem um objetivo mais específico na avaliação: os impactos econômicos da produção de algodão a partir de sementes certificadas.
“Ainda somos patrões”
Nessa segunda-feira (4), em Moçambique, a primeira área visitada foi a do distrito de Moatize, próximo a Tete, cidade localizada no centro-norte do país. A comunidade de Nelungas possui 6 produtores familiares envolvidos com o Shire-Zambeze. Todos participaram da reunião de avaliação com a equipe técnica.
Depois de uma explicação geral sobre a finalidade da missão, os especialistas dividiram-se em grupos com 2 produtores cada, para aplicação de um questionário.
Daniel Malacha, há 3 anos trabalhando no campo sob orientação do projeto, avalia que sua vida mudou muito. Ele cita o aprendizado de técnicas de plantio do algodão, desde a semeadura até o armazenamento e destaca a assistência técnica que recebe ininterruptamente. Ele sublinhou que, antes do início do projeto, não tinha a garantia da compra do produto por parte das grandes empresas. “ Desde o início do projeto temos a garantia de que o algodão vai ser vendido. Ainda somos patrões ”, vibra.
Não é só a sensação de ainda ser patrão que empolga o produtor rural. Daniel Malacha, já conseguiu ver os resultados no bolso: aumentou seu rebanho de bovinos e caprinos e sua criação de aves, adquiriu 2 burros para ajudar no transporte da produção, pintou a sua casa e comprou utensílios domésticos, entre eles uma TV que aguarda o momento de ser ligada, assim que a energia chegar ao local, o que deve acontecer em breve.
Sementes certificadas
Esta é a primeira vez que o CIAT vem à região do Shire-Zambeze com o objetivo de avaliar os impactos econômicos da produção de algodão a partir das sementes certificadas que são produzidas a partir das sementes base do projeto.
Os avaliadores de equipe de impacto do CIAT, Ricardo Labarta e Byron Reyes, coletaram, no Malawi, depoimentos de 113 produtores de sementes certificadas. E, na etapa de Moçambique, se separam do grupo para visitar a região de Cuamba, onde 300 produtores estão trabalhando com sementes certificadas. A metodologia dessa análise, de cunho unicamente econômico, leva em consideração comparativos entre aqueles produtores que utilizam as sementes certificadas e aqueles produtores que não usam as sementes.
Flavio Avila, que além de ser pesquisador da Embrapa é também membro efetivo do Comitê de Coordenação do Projeto, testemunhou, ao final do primeiro dia, que mesmo sem tabular todas as respostas dos questionários e chegar a uma análise formal, já percebe que o projeto tem transformado as comunidades nas regiões onde foi implantado. Uma transformação simples, mas eficaz. “ Sem muita mudança no sistema de produção local já houve um ganho considerável para a comunidade ”, atesta.
Autor: Cláudia Caçador