Notícias
Projeto que lançou joias do Deserto do Saara é concluído com sucesso
Foi realizada esta semana, em Tamanrasset, sul da Argélia, cerimônia de encerramento do projeto “Transferência de conhecimento para a produção de gemas lapidadas, joias e artesanato mineral” , iniciativa de cooperação técnica entre Brasil e Argélia desenvolvida com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico da Argélia através da modernização dos seus meios de produção de joias e artesanato mineral, com a utilização de pedras preciosas do Saara.
Por meio de uma parceria estabelecida entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) , a Associação Brasileira de Gemas e Joias (ABRAGEM) e o governo da Argélia, conhecimento técnico brasileiro foi compartilhado com 81 artesãos argelinos, sendo 2 mulheres, nas técnicas de gemologia, lapidação (artesanal e facetada), ourivesaria, fundição de joias, design de joias (manual e 3D), artesanato mineral e cooperativismo. Estes tornaram-se multiplicadores das experiências adquiridas, já tendo eles próprios formado mais uma centena de artesãos e artesãs. As técnicas mais modernas de produção de joias possibilitaram aos artesãos e artesãs melhores condições físicas de trabalho, maior produção, joias produzidas com maior qualidade, além do aumento da renda.
Até então, a produção de joias na Argélia era realizada de modo artesanal (artesãos sentados no chão), com a transferência das técnicas sendo passada de pai para filho, o que limitava o número de pessoas que podia praticar o ofício, além de resultar em uma baixa produtividade de joias, devido ao tempo despendido para elaborar cada peça. Além de trazer técnicas mais modernas de produção, utilizadas no Brasil, com a doação de maquinários específicos que possibilitam melhores condições de trabalho aos artesãos, o projeto equipou e fundou a Escola-Piloto de produção de joias e artesanato mineral de Tamanrasset, trazendo ainda ao país a técnica de Artesanato Mineral, antes inexistente. Assim, é realizado o aproveitamento de 100% de cada pedras, para a confecção de joias e esculturas.
De acordo com Benzarour Choukri, responsável pelo projeto junto ao governo argelino, "Antes, as pessoas não sabiam o que era lapidar ou identificar uma pedra preciosa, hoje muitos sabem. As joias produzidas nesta região tinham alguns defeitos, hoje não tem mais. Antes os artesãos criavam as joias da sua cabeça, hoje em dia contam com o conhecimento de design de joias, tanto manual como 3D. Antes os artesãos trabalhavam no chão, hoje trabalham num ateliê com máquinas instaladas. A Escola está se tornando conhecida, recebe visitas de turistas e faz parte do circuito turístico do país. Hoje os locais sabem do valor que as pedras do Saara têm. Agora existe um mercado das pedras preciosas da região, o que não existia antes. É o início, para nós, mas tenho certeza que de um brilhante trajeto" , destacou em suas palavras.
O representante ressaltou ainda a importância da iniciativa para os jovens, que antes não tinham projetos pessoais. "É muito importante que os jovens possam olhar o futuro de forma diferente. Isto é o que traz o desenvolvimento de qualquer região."
Além das 8 capacitações realizadas na Argélia, 26 artesãos argelinos também foram ao Brasil em 2017, à cidade de Ouro Preto, participar de mais duas semanas de formação, cada um em sua especialidade, além de visitarem instituições brasileiras especialistas no tema. Esta experiência mereceu grande destaque na imprensa local brasileira. Pelo Brasil, ao longo dos dez anos de projeto, cerca de 14 professores da ABRAGEM estiveram envolvidos na iniciativa, ora deslocando-se à Argélia para formações mais longas de duração (cerca de 45 dias por turma), além dos docentes envolvidos nas capacitações realizadas no Brasil.
Para os professores brasileiros, o projeto possibilitou-lhes conhecerem as técnicas tradicionais de produção de joias da Argélia, conhecimento que é, normalmente, restrito às famílias tradicionais da região. Os mesmos puderam também trocar experiências com uma cultura absolutamente diferente da brasileira, aumentando a percepção de tolerância e respeito pelas diferenças. Apesar das dificuldades de idioma, foi possível transferir o conhecimento brasileiro com sucesso. O exemplo disso, é que foram criadas relações de amizade entre professores e alunos, que perduram através das redes sociais, com contínuo aconselhamento e aviso de novidades relacionadas com a profissão.
De acordo com Harilton Vasconcelos, Presidente da ABRAGEM, o sucesso do projeto se dá, não só pelo empenho e dedicação dos professores brasileiros envolvidos na iniciativa, que deixaram suas famílias e compromissos profissionais para, durante 90 dias deslocarem-se à Argélia para formar os artesãos argelinos nas suas especialidades, mas também pelo auto grau de comprometimento e dedicação dos coordenadores argelinos pelo projeto, que teriam sempre encontrado soluções para os desafios que foram surgindo ao longo do projeto. "Destaco ainda a participação das alunas mulheres, que se dedicaram com todo empenho , apesar do preconceito e paradigma existente. Elas foram e são flores que perfumam os jardins do deserto " , ressaltou.
Evento de encerramento do projeto
Na cerimônia de encerramento, apresentações feitas por coordenadores do projeto tanto do lado brasileiro como do argelino, revelaram o êxito da iniciativa, que lançou para o mundo joias e esculturas de artesanato mineral, feitos com pedras preciosas e semi-preciosas do Saara. Para além da inovação histórica, o projeto trabalhou componentes de inclusão social, ao integrar entre os artesãos formados, indivíduos comuns que não pertenciam às tradicionais famílias produtoras de joias da região, culminando então com a formação da única cooperativa não familiar do país. Além disso, promoveu a quebra de paradigmas ao capacitar mulheres, que estão inspirando outras a também desejarem ter uma profissão e conquistar a sua independência social e financeira, aspecto ainda incomum na comunidade tuaregue.
Em seu relato, uma das artesãs formadas pelo projeto, e que já tem até a sua própria loja para vendas da joias que produz, Tandarat Benguaoui, destacou a importância de ser uma das pioneiras na região. "Sinto orgulho de ser a primeira mulher a ingressar na escola e estar abrindo o caminho para outras mulheres" , afirmou.
O projeto, que durou dez anos e movimentou cerca de 3 milhões de dólares, divididos entre os dois países, trouxe para a cidade de Tamanrasset a primeira Escola de Joalheria e Artesanato Mineral da Argélia, na qual também foram ensinados artesãos de outras 18 regiões do país, com o objetivo de multiplicação do conhecimento. Na cerimônia de encerramento do projeto, foi anunciada a aquisição de uma impressora 3D, pelo governo argelino, que poderá imprimir os desenhos de joias criados na Escola, o que sofisticará ainda mais a produção ali realizada.
De acordo com o Diretor Regional de Turismo, o sucesso do projeto abre portas e novos horizontes para o artesanato local, que chegará não só a outras regiões da Argélia, mas também ao comércio internacional. Para o Sr. Choukri, a iniciativa é importante para a economia local, ao valorizar as pedras locais, e serve também de ponto de partida para iniciativas semelhantes em outras Câmaras de Artesanato do país. "Porém, sabemos que esta é somente a primeira etapa. Agora nós como argelinos, precisamos continuar com o projeto e fazê-lo crescer. O que estamos fazendo aqui é plantar uma semente: esta precisa ser cuidada e replantada em todas as regiões da Argélia" , reforçou.
O representante argelino destacou ainda que o projeto gerou esperança e promoveu maior auto-confiança dos artesãos. "Se quiser mudar o destino de alguém, você dá competência e confiança. A principal lição, a meu ver, é que qualquer mudança tem que vir da própria pessoa. A formação é um meio que, a partir dela, pode-se adquirir conhecimento e vontade de mudar. Todos os artesãos formados em Tamanrasset sabem que agora eles já tem uma competência e uma formação, basta decidir como aproveitar e usar este conhecimento" , afirmou Choucri.
Como representante da Embaixada do Brasil na Argélia, o Secretário Eduardo Sfoglia discursou em nome do Embaixador brasileiro no país. "O governo brasileiro considera este projeto da cooperação entre o Brasil e a Argélia como exemplo perfeito de uma relação Sul-Sul. Esta iniciativa será um marco para a exploração conjunta de outras possibilidades de cooperação no setor" , afirmou.
Um dos grandes desafios agora será, sem dúvida, a comercialização dos produtos ali confeccionados. Com este propósito, o projeto apoiou ainda a formação de uma cooperativa, que pretende apoiar os artesãos na identificação de oportunidades de mercado para a venda das joias, tanto a nível nacional como internacional. Como objetivo futuro, os artesãos argelinos desejam ainda contar com o apoio brasileiro, em uma eventual próxima fase do projeto, para a criação de um laboratório de gemologia, no qual poderá ser realizada a identificação correta das pedras preciosas do Deserto do Saara ali descobertas.