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Processo brasileiro de deslintamento de sementes muda a realidade de plantio de algodão em Moçambique
Os avaliadores de impacto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) , que estiveram em Moçambique para contribuir para o relatório da fase final do “Projeto Regional de Fortalecimento do Setor Algodoeiro nas Bacias do Baixo Shire e Zambeze” , tiveram uma experiência diferente nesta quinta-feira (7).
Flavio Avila e Graciela Vedovoto, acompanhados de Fábio Tagliari, analista de projetos da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) , visitaram o Centro Regional de Transferência de Tecnologia do Algodão (CRETTA), sediado na fábrica do Instituto do Algodão de Moçambique (IAM) , em Guro, e conheceram um pouco mais alguns dos processos que são diferenciais do Shire-Zambeze: o deslintamento (retirada do remanescente de algodão que recobre o caroço) e o preparo de sementes para o campo.
O técnico José Manjate, que trabalha no CRETTA, explicou detalhadamente todo o processo por que passa o caroço do algodão desde o deslistamento e lavagem da semente até o preparo preventivo para prevenir o ataque de pragas nas plantas. “Esse é o grande boom do projeto” , diz Manjate. “Entregamos para o produtor a semente deslintada e o impacto disso é significativo com claro aumento de produtividade, tanto no plantio como no replantio do algodão” .
Segundo o agrônomo Alexandre Pelembre, supervisor do projeto Shire-Zambeze em Moçambique, esta é a primeira vez, desde que o país começou a produzir algodão, em 1938, que a planta é produzida a partir de sementes deslintadas. Pelembe lembra que com o linter aderido à semente, a planta tem dificuldades durante a sua emergência. “Muitas vezes a semente germina mas não consegue emergir porque as fibras impedem ou atrasam esse processo” , explica. “Assim, mesmo que consiga emergir, o gasto de energia por parte da planta é muito grande e isso pode comprometer o desenvolvimento do algodão” , explica.
Dilson Brito, técnico do IAM, ressalta que uma das muitas vantagens do processo de deslintamento, associado ao preparo com defensivo preventivo às pragas, é que o aproveitamento é de cerca de 88% das sementes. “A uniformidade das plantas e a presença de plantas mais saudáveis são visíveis e isso diminui, e muito, os custos do produtor” .
Impactos
A visita dessa quinta-feira ao CRETTA teve como principal objetivo a aplicação dos questionários de avaliação com o foco no impacto institucional do projeto . Todos os técnicos envolvidos responderam aos questionários, exatamente como tem sido feito com os produtores durante as duas últimas semanas, tanto em Moçambique, como no Malawi, em que se está buscando avaliar os impactos sociais, ambientais e econômicos da inciativa.
A avaliadora da Embrapa Graciela Vedovoto disse que foi importante conhecer parte do trabalho executado pelos envolvidos no centro de treinamento. Perguntada sobre a experiência em campo nos dois países, Graciela salientou que a vinda ao campo é sempre muito gratificante. “Nós que fazemos parte do grupo de avaliação de projetos costumamos brincar que ficamos com a melhor parte do processo já que chegamos na fase final e recebemos sorrisos e agradecimentos” , sorri. “Mas é sempre bom ressaltar que há toda uma cadeia de profissionais e processos até chegar a esse ponto e muito trabalho envolvido por parte de diversos atores” .
O relatório de avaliação final, com análise do impacto multidimensional que será elaborado a partir dessa missão, será instrumento que poderá permitir a realização de uma segunda fase do projeto Shire-Zambeze para garantir que tanto malwaianos como moçambicanos possam usufruir dos benefícios do fortalecimento da produção do algodão, além da sua sustentabilidade.
Autor: Claudia Caçador