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Países da América Latina Promovem Ações de Educação Alimentar para Combate ao Desperdício de Alimentos nas Escolas
“É imperativo aprofundar a reflexão sobre os impactos do desperdício, sobretudo neste contexto de pandemia em que vivemos” , afirmou o Embaixador Ruy Pereira, Diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores, (MRE), durante a abertura do Diálogo sobre Desperdício de Alimentos nas Escolas: Desafios e Possibilidades , promovido pela Rede de Alimentação Escolar Sustentável (RAES), transmitido pelas redes sociais da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 27/04, para os países da América Latina e Caribe. O encontro virtual, assistido por mais de 2.200 telespectadores ao vivo, promoveu a troca de experiências entre os países integrantes da Rede para a construção de conhecimentos e boas práticas relacionadas à mitigação do desperdício de alimentos em ambientes escolares.
Ruy Pereira recordou que a aliança do Brasil com a FAO, no âmbito da cooperação trilateral Sul-Sul, foi firmada há mais de 12 anos, e que “o tema da alimentação escolar sempre foi estruturante e desafiador, uma vez que representa alternativa concreta para o combate à fome e à pobreza, assim como para a promoção do desenvolvimento econômico e da inclusão social” .
Já o representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, relembrou que 2021 foi declarado pela ONU como o Ano Internacional de Frutas e Verduras, com o objetivo de impulsionar seu consumo e conscientizar a sociedade sobre seus benefícios nutricionais, além de incentivar políticas de redução de desperdícios. Zavala destacou que frutas e verduras são os alimentos que mais sofrem desperdício. “No caso de frutas e verduras, cerca de 20 a 25% são desperdiçados, porque, além de serem perecíveis, são produtos que mais sofrem com o transporte” , disse. “ É preciso fazer um esforço efetivo para a aquisição de frutas e verduras da agricultura familiar, incentivando os circuitos curtos de transporte e comercialização. ”
O representante da FAO destacou uma das maiores deficiências da região: a ausência de estatísticas e informações adequadas sobre o tema. “ Há necessidade de estatísticas mais claras sobre o desperdício de alimentos nas escolas para melhor estabelecer comparações adequadas e um melhor planejamento das ações”, disse. Afirmou também que a RAES “pode servir como agente de mudança no Brasil e nos países da região” .
O presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Marcelo Lopes da Ponte, disse que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), durante as suas 6 décadas de existência, evoluiu de um modelo emergencial para um modelo integrado, que inclui a participação de todos os setores da sociedade, inclusive das comunidades atendidas. “ O PNAE cresceu não só em abrangência, mas também em qualidade, oferecendo refeições diversificadas, que atendem a critérios nutricionais específicos e se vinculam às culturas locais das regiões brasileiras, combatendo não somente a desnutrição, mas também a má nutrição .” O Programa, segundo Ponte, atende diariamente mais de 40 milhões de alunos com alimentação escolar. São servidas mais de 50 milhões de refeições diárias.
Desperdício na Região
O Diretor de Política e Sistemas Alimentares do Escritório da FAO para a América Latina e Caribe, João Intini, apresentou o cenário regional na área de perdas e desperdícios de alimentos. Segundo Intini, é importante saber quais recursos ambientais, pessoais e econômicos são investidos na produção de alimentos. “ Combater as perdas e desperdícios de alimentos é uma oportunidade para mudar o padrão de consumo, voltar a consumir alimentos frescos e saudáveis .” Ele também defendeu tecnologia, criatividade e cooperação para mitigar o problema.
Desperdício nas Escolas
A Coordenadora Regional do projeto Consolidação dos Programas de Alimentação Escolar na América Latina e Caribe, da FAO, Najla Veloso, apresentou algumas reflexões sobre o desperdício de alimentos e sua relação com o ambiente escolar. Veloso afirmou que o desperdício no ambiente escolar ocorre em vários espaços e tem responsabilidades partilhadas por vários atores. A coordenadora destacou a importância do planejamento para prevenir ou mitigar o desperdício nas escolas, destacando, entre as soluções possíveis, a otimização do aproveitamento dos resíduos orgânicos e não orgânicos produzidos durante o preparo e o consumo dos alimentos. “ A melhor prevenção é ter cardápios adequados e saudáveis, de acordo com os hábitos alimentares de cada país ”, afirmou.
A Experiência Brasileira
Karine Santos, Coordenadora Nacional do PNAE do Brasil, apresentou as ações do FNDE para reduzir o desperdício de alimentos nas escolas, com base na política de alimentação escolar do País. Segundo a coordenadora, “ a alimentação escolar tem um grande impacto na sociedade ”, destacando a universalidade do programa brasileiro, que atinge mais de 150 mil escolas em todo o País. Dentre as estratégias de educação alimentar e nutricional, Santos apontou ações como concursos de receitas para aproveitamento de alimentos e uso das contracapas de livros pedagógicos, distribuídos gratuitamente nas escolas públicas da educação básica, com mensagens sobre alimentação saudável.
Sobre a questão do desperdício de alimentos nas escolas, a coordenadora do PNAE apresentou dados de uma pesquisa realizada junto aos nutricionistas do Programa em 24% dos mais de 5 mil municípios brasileiros. Cerca de 65% dos profissionais afirmam que o assunto faz parte da rotina e do planejamento das refeições. Em relação às perdas e desperdícios, 68% dos profissionais de nutrição classificam como baixo e 38% não sabem estimar o percentual de desperdício. A mensuração das perdas e desperdícios nas escolas foi realizada por meio do monitoramento e da pesagem do restante dos alimentos e de sobras limpas, da aplicação de teste de aceitabilidade e da observação visual, entre outros.
Visão Geral das Ações da FAO
O Oficial de Nutrição da FAO Mesoamérica, Israel Ríos, apresentou um panorama das ações realizadas pela Organização para combater a pobreza e a desnutrição na região. Entre 20 e 40% das crianças em idade escolar na América Latina estão com obesidade ou sobrepeso. “ É importante que os problemas de fome e desnutrição sejam enfrentados com base nos sistemas alimentares, fazendo com que a cadeia de abastecimento favoreça a disponibilidade e a produção de alimentos saudáveis, promovendo também ambientes alimentares saudáveis e sustentáveis .”
Ríos destacou que o apoio da cooperação Brasil-FAO em alimentação escolar gerou “uma revolução nos programas de alimentação escolar na região ”, afirmando que houve avanços em termos de política alimentar escolar, com base no direito humano à alimentação. Da mesma forma, destacou a importância da RAES como espaço para compartilhar experiências, aprendizados e promover o diálogo entre os países.
Gastronomia
O Diretor do Conselho Nacional de Assistência Escolar e Bolsas (JUNAEB) do Chile, Jaime Tohá, e o “chef” consultor da FAO e Diretor do Laboratório Gastronômico DA JUNAEB, Juan Pablo Mellado, apresentaram uma iniciativa que incluiu a gastronomia como estratégia para a redução do desperdício alimentar nos Programas de Alimentação Escolar do Chile, da Guatemala e da Colômbia.
Jaime Tohá destacou que o Laboratório Gastronômico, desenvolvido há 4 anos, reconhece as realidades alimentares dos territórios e povos indígenas e tem a comida como veículo de socialização e educação. “Tínhamos aporte nutricional e segurança, mas faltava o terceiro pilar: a gastronomia ”, acrescentou, explicando que, graças a essa iniciativa, houve um aumento na aceitação de alimentos por parte dos estudantes e, consequentemente, a diminuição do desperdício.
O “chef” Juan Pablo Mellado apresentou o projeto-piloto realizado pela FAO em escolas da Guatemala, da Colômbia e da República Dominicana para aumentar a eficiência do Programa de Alimentação Escolar (PAE) na região, por meio da inclusão de critérios e técnicas gastronômicas que permitem que os cardápios servidos sejam nutritivos e mais saborosos. No cardápio do PAE foram introduzidas técnicas gastronômicas, tais como: uso de especiarias e ervas aromáticas para realçar os sabores; cozinhar um caldo de base com ossos de frango, fazer refrigerantes com ingredientes naturais, temperos, e melhorar as práticas higiênicas, entre outros. Os impactos positivos demonstrados pelo projeto-piloto foram um aumento na aceitação do cardápio e uma diminuição nas perdas e desperdícios de alimentos nas escolas. “ Investir em gastronomia traz benefícios em termos de otimização do uso de recursos públicos ”, afirmou o “chef” chileno.
RAES
A Rede de Alimentação Escolar Sustentável (RAES) foi criada em 2018 e é promovida pelo Governo do Brasil, representado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE, autarquia vinculada ao Ministério da Educação), com apoio da FAO, no âmbito do projeto regional “Consolidação de Programas de Alimentação Escolar na América Latina e no Caribe”.
Criada no marco da atual Década de Ação pela Nutrição das Nações Unidas (2016-2025), a RAES busca apoiar os países na implementação e reformulação de programas de alimentação escolar, com base no acesso e na garantia do direito humano à alimentação adequada. Atualmente, a Rede é formada por 21 países da região.