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Evento organizado pela ABC reuniu representantes de oito países e da OTCA
Países amazônicos debatem o futuro da cooperação para o desenvolvimento sustentável da região
Belém reuniu, na manhã desta sexta-feira (04/08), representantes das unidades responsáveis pela cooperação internacional dos oito países-membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) para dialogar sobre estratégias e prioridades para avançar, por meio da cooperação internacional, em ações para contribuir para o desenvolvimento sustentável da região amazônica. Moderada pela Secretária Permanente da OTCA, Alexandra Moreira, a mesa redonda foi organizada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores (MRE), e esteve entre os painéis que abriram os Diálogos Amazônicos, que ocorrerão até o dia 06 de agosto, prévios à Cúpula da Amazônia (04 a 06 de agosto), espaço de diálogo amplo que precede a Cúpula de chefes da Estado da Amazônia (08 e 09 de agosto).
Sob o tema “O futuro da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento da Região Amazônica” , participantes do Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela apresentaram diferentes perspectivas, desafios e oportunidades comuns existentes, e que poderão ser impulsionadas pela visão e implementação de uma cooperação coordenada a nível regional.
Durante o encontro, Alexandra Moreira destacou que o desenvolvimento sustentável da Amazônia precisa levar em conta aspectos culturais, sociais e econômicos, além das questões ambientais. Em formato talk show, Alexandra conduziu o diálogo alternando a palavra entre todos os participantes e reunindo, no último bloco, perguntas da audiência, que contou com um público de 250 pessoas , incluindo representantes do governo, da sociedade civil, das universidades e de empresas privadas.
Sobre quais devem ser as prioridades para se avançar com o processo de desenvolvimento sustentável da região amazônica nos próximos anos, o Diretor da ABC, Embaixador Ruy Pereira, destacou temas comuns ao trabalho da Agência, como a segurança alimentar e nutricional e as diversas políticas que contribuem para a sua implementação, tendo como pano de fundo o combate à fome, além da necessidade de combate ao desmatamento ilegal. O diplomata mencionou, ainda, áreas e perspectivas inovadoras e necessárias para a sustentabilidade da floresta amazônica a bioeconomia e a conservação e proteção de seu patrimônio genético.
Pereira citou a importância da inclusão das mulheres, dos amazônidas urbanos e dos povos originários em todos os debates sobre o futuro da Amazônia. “Das 26 milhões de pessoas que vivem na Amazônia brasileira, 12 milhões estão em cidades com mais de 100 mil habitantes” , recordou. O Diretor da ABC falou sobre os impactos inegáveis de um continente interconectado, lembrando as palavras do Presidente Lula: “O que se faz num canto da América do Sul, repercute em outro. Por isso nossa cooperação é tão importante” , recordou.
Para Mónica Gonzalez, da Agência Presidencial para a Cooperação Internacional da Colômbia (APC-Colômbia), o desenvolvimento da Amazônia será amplamente impulsionado pelo fortalecimento de cadeias de produção que apoiam o desenvolvimento sustentável local. A representante do Equador, por sua vez, Embaixadora Isabel Albornoz, Subsecretária de Assuntos Econômicos e Cooperação, sublinhou a importância de se trabalhar por uma visão mais harmônica no que toca à utilização dos recursos naturais provenientes da região amazônica.
Candida Daniels, Diretora do Departamento de Cooperação Internacional do Ministério de Assuntos Estrangeiros e Cooperação Internacional da Guiana, recordou que a ciência e a tecnologia são aspectos fundamentais do desenvolvimento sustentável, e precisam estar integradas em qualquer ação na região.
José Antonio Norris, Diretor Executivo da Agência Peruana de Cooperação (APCI), falou sobre as mudanças climáticas e destacou a necessária reparação e inclusão dos povos originários nas ações de cooperação internacional. “Precisamos ter uma Amazônia com um rosto humano. A eles é quem devemos uma reparação histórica” , afirmou. Para o Diretor da APCI, os países amazônicos devem promover o fortalecimento da OTCA, como o único bloco regional que cuida exclusivamente da Amazônia.
Já Radjindredath Narain, Assessor de Políticas no Ministério de Planejamento Espacial e Meio Ambiente do Suriname, reforçou a necessidade de ampliação dos meios de financiamento da pesquisa científica relacionada às mudanças climáticas, mesmo aspecto mencionado por Ali Peña, Vice-presidente do Instituto Geográfico Venezuelano Simón Bolívar. Peña reforçou a importância do desenvolvimento econômico que leve em conta a proteção ambiental e das comunidades tradicionais.
No segundo bloco de intervenções, sobre as estratégias a serem adotadas para se promover o desenvolvimento sustentável da região amazônica, o diretor da ABC reiterou a importância da diversificação de parcerias e da implementação de ações regionais, como as desenvolvidas pela ABC em conjunto com a OTCA. O diplomata brasileiro destacou iniciativa já em curso na área de florestas e afirmou “A floresta em pé tem gente com ela; a floresta em pé não é santuário, nem relicário. E essa realidade, vivenciada todos os dias pelos povos que dependem diretamente da floresta viva para que possam também viver, essa realidade deve estar na base e nos fundamentos do futuro da cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, que, recordo, é o tema que nos convoca aqui hoje”.
A representante colombiana também reforçou a importância de que os conhecimentos dos amazônidas sejam respeitados e levados em conta quando da elaboração de ações de preservação das florestas. Mônica relembrou que sem a utilização sustentável dos recursos naturais e condições de vida dignas das populações amazônicas, não é possível garantir o desenvolvimento sustentável da região. “Precisamos visibilizar o bioma amazônico como elemento chave para resolver a crise climática global” , concluiu.
Para a embaixadora equatoriana, “O meio ambiente não reconhece fronteiras” , afirmou Isabel, que recordou o grande potencial de geração de renda existente na promoção do eco-turismo sustentável da Amazônia. A diplomata sublinhou ainda a necessidade de que o setor privado seja incluído nas ações que pensam o desenvolvimento sustentável da região. Candida, da Guiana, destacou a importância e potencial da cooperação Sul-Sul em temas como, por exemplo, o desenvolvimento de energias renováveis. Os representantes do Peru, Suriname e Venezuela mencionaram, igualmente, a cooperação Sul-Sul como potente ferramenta de troca de conhecimentos e de experiências exitosas.
Após o quadro final de perguntas e respostas, Ruy Pereira fechou o evento reafirmando o compromisso do Brasil em seguir com o diálogo ali iniciado, seja por meio da criação de um grupo de trabalho de cooperação, no âmbito da OTCA, seja pela realização de um novo evento semelhante a esse, realizado às margens da Cúpula. “Precisamos de mecanismos inovadores para o desenvolvimento da nossa região. Hoje, estamos criando um verbo, indispensável: Amazonizar. É preciso amazonizar tudo, sobretudo a cooperação internacional regional entre os nossos países” , concluiu.