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Manual de Boas Práticas em Agricultura Familiar no Semiárido é lançado em evento internacional
“Se não é possível vencer as adversidades de ordem natural do semiárido, é possível conviver com elas.” A frase do pesquisador e chefe geral da EMBRAPA Semiárido, Pedro Gama, resume as lições aprendidas que se encontram no “Manual de Boas Práticas da Agricultura Familiar no Semiárido do Brasil - Tecnologias Sociais para Captação, Manejo, Gestão e Uso da Água" , lançado na quinta-feira, 18/03: a de que ao invés de combater a seca é preciso conviver com ela e suas particularidades, buscando soluções e tecnologias que permitam essa convivência, de forma sustentável.
O Manual foi lançado em evento remoto, realizado em conjunto pelo Centro de Conhecimentos e Cooperação Sul-Sul e Triangular do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) , pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Semiárido) e pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores .
A publicação foi elaborada pelo FIDA, com base na missão técnica realizada à cidade de Petrolina-PE, no Brasil, em 2019, no âmbito do projeto de cooperação sul-sul trilateral Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome 2025, executado em conjunto pela ABC e pela FAO. A missão promoveu a troca de experiências entre pesquisadores da EMBRAPA Semiárido, representantes de três países do Corredor Seco da América Central (El Salvador, Guatemala e Honduras), Argentina e Colômbia sobre o tema do acesso e uso da água: captação, armazenamento, gestão e experiência em tanques.
O representante da ABC, Plínio Pereira, inaugurou o encontro recordando que a prática agrícola possui grande destaque nos projetos de cooperação Sul-Sul coordenados pela ABC. Para o analista, o compartilhamento de experiências na gestão e uso da água e ferramenta básica para a prática agrícola, contribui para minimizar as consequências negativas da seca na região e pode ser aperfeiçoada para aplicação nos demais países. “No marco da cooperação técnica brasileira, o desenvolvimento de capacidades, por meio de intercâmbio de boas práticas entre países em desenvolvimento, vem se consolidando como ferramenta concreta para o desenvolvimento local e apoiando a promoção de mudanças estruturais.”
Klaus Reiner, representante do FIDA no Brasil, enfatizou que o lançamento do manual não é somente relevante pelo grande foco que o Fundo tem nas áreas do semiárido brasileiro, mas também porque a publicação representa o trabalho conjunto de todos os parceiros na troca de experiências e na gestão de conhecimento, via cooperação Sul-Sul trilateral. “Este manual tem uma coleção das técnicas mais importantes que têm sido desenvolvidas, provadas e, agora, apresentadas com relevância para outras áreas do continente, que possuem condições e situações econômicas bastante similares”, ressaltou . “As soluções de uma região podem ser muito importantes para as demais e, dessa maneira, esperamos que este mesmo manual possa ser usado como documento de referência”.
Pedro Gama, chefe da EMBRAPA Semiárido, disse que o combate à seca, prática realizada por muitos anos na região, tem sido substituído pela convivência com o clima. “O principal legado de pesquisa da EMBRAPA Semiárido foi o de comprovar que um conjunto de alternativas tecnológicas simples e adaptadas para a pequena produção, como a captação, o manejo, a gestão e o uso de água, entre outras, pode tornar viável a prática da agricultura e pecuária nas áreas dependentes de chuva da região do semiárido e contribuir para a fixação do homem à terra ”, afirmou.
Missão em Petrolina
Durante uma semana, em novembro de 2019, o grupo internacional participou da Semiárido Show, feira de inovação tecnológica voltada para a agricultura, com minicursos e palestras, além de visitas de campo para conhecer as iniciativas socioeconômicas do Vale do São Francisco, como a produção de frutas, atividades de apoio à agricultura familiar e unidades de pesquisa e demonstração tecnológica.
Semiárido
Segundo Claudio Lasa, consultor responsável por sistematizar o Manual, o semiárido brasileiro abrange mais de 1 milhão de quilômetros quadrados do País, em cerca de 1.260 municípios de dez Estados diferentes. Ao todo, são 27 milhões de habitantes vivendo na região, o que corresponde a 12% da população brasileira. Destes, 8,6 milhões são habitantes rurais, com uma prevalência de 86% de agricultores familiares em um total de 75% das propriedades com, no máximo, 20 hectares.
Ao mesmo tempo que possuem grande abrangência, essas áreas sofrem com o processo de degradação e desertificação, especialmente devido à escassez de recursos hídricos. O processo de degradação está presente em 20 milhões de hectares do semiárido nacional. A média de chuvas na região é de 500mm por ano, com a peculiaridade de que as chuvas são irregulares, o que contribui ainda mais para o desafio na previsibilidade de ações.
Lasa apresentou, entre outros dados, os critérios que determinam boas práticas na agricultura familiar: além de serem experiências exitosas e terem sintonia com os contextos sociais nas quais são aplicadas, as práticas são resultado de trabalho conjunto de famílias, sociedade civil, movimentos populares e organizações. O consultor lembrou que aquelas práticas consideradas de excelência são as que ganham espaço e vão além das comunidades, influenciando as políticas públicas. “São práticas capazes de influenciar políticas públicas e que precisam do apoio de governos pare se multiplicar” , disse. “Atualmente, os agricultores e suas organizações têm capacidade de fazer isso. A experiência de articulação presente no semiárido brasileiro, com a construção de cisternas para consumo humano e para a produção de alimentos, é um exemplo disto”.
Rafael Zavala, representante da FAO no Brasil, demonstrou o desejo de que o Manual seja uma ferramenta de fortalecimento da cooperação entre os países e um incentivo para o contínuo intercâmbio de experiências, contribuindo para o desenvolvimento da América Latina. “O Manual é um documento muito importante e um marco relevante para o fortalecimento da agricultura familiar na região, uma vez que promove o conhecimento democrático e horizontal para esses produtores e produtoras que enfrentam diversas dificuldades, principalmente em regiões semiáridas.”
O lançamento da publicação faz parte de um esforço conjunto e contínuo entre ABC, FIDA, FAO e EMBRAPA Semiárido na promoção do diálogo e da cooperação entre as regiões semiáridas da América Latina e do Caribe, para melhorar a resiliência do meio rural a desastres e crises causadas pela seca e seus efeitos na segurança alimentar e nutricional.
O Manual está disponível em português e espanhol. Baixe os arquivos em pdf disponíveis abaixo:
Autor: Cláudia Caçador
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