Notícias
I Congresso de bancos de leite humano da CPLP reúne mais de 200 profissionais da saúde de Angola
O congresso adotou formato híbrido, permitindo a participação virtual de países além da comunidade lusófona. As sessões foram transmitidas ao vivo pelo YouTube da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, com tradução para francês, espanhol e inglês. Até o momento, perto de 3 mil pessoas assistiram a, pelo menos, um dos dias do congresso. Participaram ainda, de forma presencial, representantes do Brasil, Cabo Verde, El Salvador, Guiné Equatorial, México, Moçambique, Paraguai, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
A mesa oficial de abertura, realizada em 14 de maio, contou com a presença da Ministra da Saúde de Angola, Silvia Lutucuta; do Embaixador do Brasil em Angola, Rafael Vidal; da Ministra de Estado para Área Social, Dalva Ringote. Além disso, estiveram presentes remotamente o Secretário de Atenção Primária à Saúde do Brasil, Felipe Proenço, e o Diretor de Cooperação do Secretariado Executivo da CPLP, Manuel Lapão.
Na ocasião, o Embaixador do Brasil em Angola ressaltou que “o fortalecimento dos nossos sistemas nacionais de saúde é uma prioridade da agenda de cooperação técnica internacional do governo brasileiro, nos âmbitos multilateral, lusófono e bilateral".
Para a Ministra da Saúde de Angola, “é crucial promovermos o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade como uma das mais importantes medidas de saúde pública e baixo custo efetivo no nosso país”, sublinhou Silvia Lutucuta. Já a Ministra de Estado para Área Social, Dalva Ringote, madrinha dos bancos de leite humano em Angola, afirmou que o “caminho é recente, mas a vontade é aberta”. O banco de leite humano angolano foi inaugurado em 2019.
Ao longo dos três dias de congresso, médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, técnicos e outros profissionais de saúde, bombeiros, profissionais de segurança e do meio jurídico e gestores participaram de três minicursos, divididos em três módulos. As formações foram ministradas pelos maiores especialistas brasileiros sobre o assunto, entre representantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH/Fiocruz).
Temas como “Noções Básicas sobre o funcionamento de Bancos de Leite Humano”, “Amamentação”, e “Leite Humano como Recurso Terapêutico” foram apresentados de forma prática e acessível como exemplos contínuos, trocas de experiências e sessões de perguntas e respostas. Os profissionais angolanos formularam diversas perguntas ao longo dos três dias, em salas lotadas, com espírito de motivação e aprendizado contínuo.
Paralelamente, foi realizada reunião da rede de bancos de leite humano da CPLP, por meio da qual foi elaborada uma primeira versão do plano de ação da Rede e da Carta de Luanda, que representará os compromissos dos países-membros da CPLP com a consolidação, o fortalecimento e a ampliação da Rede.
Depoimentos
Para a embaixadora dos bancos de leite do Brasil, a atriz Maria Paula Fidalgo, que participou do congresso em Angola, o ponto alto da carreira dela encontra-se nessa experiência vivida no país africano.Segundo a pediatra Liliana Aragão, a participação no congresso possibilitou a atualização do conhecimento técnico empregado por ela durante os atendimentos relacionados à amamentação, para que o bebê recém-nascido, inclusive o prematuro, possa se beneficiar do leite materno, como fonte alimentar e terapêutica.
De acordo com Isabel Calixto, também pediatra, trata-se de “experiência ímpar. Eu saí do interior do país para participar do congresso. Com certeza já não sou a mesma, com esse aprendizado. Minha vontade é sair correndo para o serviço de neonatologia e colocar em prática tudo o que aprendi aqui”, afirma.
As especialistas brasileiras, que ministraram os minicursos também relataram satisfação em participar do congresso. Para Andréia Fernandes, médica neonatologista, da secretaria de saúde do Estado de São Paulo, “fazer parte dessa cooperação me torna uma pessoa melhor, um profissional melhor, inclusive para as nossas práticas brasileiras. Com certeza, eu retorno para o meu país tendo um outro olhar sobre a neonatologia, sobre as nossas práticas, e sobre como é importante essa troca para a evolução, tanto do Brasil, como dos países com os quais nós estamos compartilhando”, ressalta.
Alimento para a transformação social
Os bancos de leite humano sobressaíram como iniciativa estratégica para promover, proteger e apoiar o aleitamento materno. Desempenham um papel vital na coleta, no processamento e na distribuição de leite para bebês prematuros ou de baixo peso que não podem ser alimentados por suas mães. Ademais, oferecem, igualmente, suporte e orientação ao aleitamento materno.
O Brasil esteve em eviência por liderar a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo, conhecida por sua combinação única de baixo custo, alta qualidade e tecnologia avançada. Essa rede representa referência internacional e tem compartilhado suas estratégias com mais de 20 países na América Latina, América do Norte, Caribe e Europa.
A cooperação internacional brasileira que dissemina essa tecnologia é liderada pela ABC, em parceria com o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O trabalho da rede brasileira de bancos de leite humano foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como uma das iniciativas mais impactantes para o desenvolvimento humano no hemisfério sul.
Esse congresso representa um marco significativo para a cooperação entre os países da CPLP ao apoiar recém-nascidos em risco e lactentes, demonstrando o compromisso conjunto de alcançar metas globais de saúde e bem-estar infantil.
Pré-congresso
Na segunda-feira (13 de maio corrente), foram realizadas atividades do pré-congresso, na Maternidade Lucrécia Paim, em Luanda, em um dia pleno de trocas de experiências, conhecimento técnico e vivências entre os participantes.
Com a participação de mais de 100 pessoas, oriundas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Moçambique, Paraguai, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, o evento foi marcado pela fusão entre ciência, solidariedade, empatia, acolhimento e cooperação.
Pela manhã, uma sessão clínica sobre o tema "Leite humano - o melhor recurso terapêutico para o recém-nascido de risco" trouxe palestras técnicas de representantes da Fiocruz, do Instituto Fernandes Figueira, além de outros especialistas sobre o assunto. Participaram profissionais da saúde, médicas, enfermeiras, nutricionistas, técnicos, gestores.
À tarde, um grupo de mães e mulheres doadoras, também representantes de diversos países, inclusive com participação virtual, contaram suas experiências com amamentação, doação de leite, assistência ao aleitamento e inclusão de crianças e mães excluídas dos debates sobre o aleitamento materno.
Celebridades angolanas e a atriz e apresentadora brasileira Maria Paula, compuseram o grupo e falaram sobre como podem usar sua visibilidade para chamar a atenção para a importância da amamentação e da doação do leite materno.