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Horticultores haitianos conhecem tecnologias brasileiras
Dia de campo realizado no Haiti, no último dia 16, demonstrou variedades brasileiras de hortaliças, além de tecnologias sustentáveis de adubação e produção de sementes. Evento, promovido pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF), reuniu lideranças de mais de cem comunidades de uma das mais tradicionais regiões produtoras daquele país.
Cento e cinquenta produtores da região de Kenskoff, no Haiti, participaram, na última quinta-feira (16) de um dia de campo sobre tecnologias de produção de hortaliças. O evento foi promovido pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF), em parceria com a principal associação de produtores daquele país, a Afé Nég Combit (Multirão de Negócios Negro – em tradução livre).
O dia de campo contou com a presença do embaixador brasileiro no Haiti, Igor Kipman, do ministro Olyntho Vieira, coordenador-geral no Haiti da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do chefe-geral da Embrapa Hortaliças, Celso Luiz Moretti, além dos representantes do Ministério da Agricultura, Recursos Naturais e Desenvolvimento Rural do Haiti, Emmanuel Hugues Prophete, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Emmanuela Jacques, e representando a Embaixada do Chile no Haiti, Paloma Quevedo. Os produtores locais foram representados pelo líder da Afé Nég Combit, Padre Jean Occides Cico, e pela líder da comuna de Le Fevre, Marguerithe Nicolas.
Os participantes representaram mais de cem comunidades de produtores da região de Kenskoff, localizada a cerca de 20 quilômetros da capital Porto Príncipe, e um dos principais centros de produção de hortaliças do país. Na ocasião, os produtores puderam conhecer mais de 40 variedades brasileiras de hortaliças avaliadas no Haiti. São materiais desenvolvidos pela Embrapa, como as cenouras Brasília e Alvorada, as cebolas Conquista e Alfa Tropical, o repolho União e o brócolis Ramoso de Brasília, entre outros, além de produtos de uso tradicional no Brasil, como o tomate Santa Clara.
Os materiais exibidos permitirão aos produtores locais amenizar um dos principais gargalos da produção: a dependência de sementes externas. De acordo com o pesquisador Nuno Rodrigo Madeira, os agricultores haitianos utilizam, sobretudo, variedades de clima temperado, muitas vezes não adaptadas às condições de produção da região. "Outra questão é que muitas vezes os produtores não têm condições de produzir suas sementes, seja porque os materiais utilizados são híbridos, seja porque as características agronômicas das variedades utilizadas não permitem o florescimento nas condições climáticas da região. Os materiais introduzidos pela Embrapa, por serem adaptados ao clima tropical, viabilizam a produção de sementes aqui mesmo no Haiti”, explica.
Outro fator de dependência abordado pelo projeto são os adubos. Segundo o pesquisador Francisco Vilela Resende, o projeto foi concebido tendo em vista o esgotamento do solo da região e a grande dependência dos produtores de adubos externos. "Nós estamos trazendo essas tecnologias de adubos verdes e de produção de compostos orgânicos visando reduzir a dependência de adubos químicos pelos produtores da região.”
Para o padre Jean Occides Cico, o dia de campo será um marco para a região. "As mudanças serão vistas a partir de hoje. Os líderes viram o trabalho na estação experimental e, com a distribuição de sementes e ferramentas para os trabalhadores, a realidade da região vai começar a mudar."
A líder da comuna de Lefevre, Marguerithe Nicolas, onde se localiza a estação experimental utilizada pelo projeto, traduziu a expectativa dos produtores locais com as informações transmitidas pela equipe da Embrapa Hortaliças: "Hoje, eles mostraram como a gente pode produzir nossa própria semente, nosso próprio adubo, e isso trouxe muito prazer para Afè Nèg Combit. Como Padre Cico sempre diz, os camponeses devem conduzir seus destinos com suas próprias mãos.”
Projeto também subsidia novas ações
Além da transferência de tecnologia de produção, o projeto, iniciado em agosto de 2008, traz ainda um componente estratégico, a caracterização de toda a cadeia produtiva de Kenskoff. "A caracterização dessa cadeia pode vir a sensibilizar outros parceiros no sentido de uma contribuição mais ampla, como a melhoria das condições de transporte da produção”, explica o pesquisador Edson Guidicci Filho, ao ressaltar que a atividade deverá subsidiar a adoção de novas ações na região, seja por parte do governo haitiano, ou por organismos internacionais.