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Perfil - Francisco Domingos – Angola
Ele está em Brasília participando do Curso de Formação para Diplomatas oferecido pelo Instituto Rio Branco, do Itamaraty.
Enquanto o sacrifício na vida pessoal se traduz em uma experiência profissional única, ou “um privilégio”, como ele mesmo classifica a oportunidade do intercâmbio no Brasil, Domingos está ansioso para o retorno ao seu país onde pretende compartilhar com seus colegas diplomatas angolanos tudo o que aprendeu e vivenciou.
O Curso tem uma programação intensa que combina aulas regulares, seminários, conferências e viagens de estudo. O currículo, robusto, inclui disciplinas como política internacional, direito internacional, economia e história da política externa brasileira. Há também conteúdos mais especializados: administração pública, técnicas de negociação, cyber diplomacia e diplomacia pública, além de módulos profissionalizantes em planejamento diplomático, prática consular e promoção comercial. Para completar, são oferecidas aulas nas seis línguas oficiais da ONU — árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo.
Internacionalização
A turma de 2024 é diversa. Além de estudantes brasileiros, há diplomatas do Peru, do Equador e de seis nações africanas: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Para o coordenador-geral de ensino e estudo no Instituto Rio Branco, Conselheiro Fernando Arruda, a presença desses diplomatas estrangeiros é o resultado de uma longa tradição de cooperação internacional. “O curso de formação diplomática do IRB existe desde 1946, mas foi só em 1976 que começamos a incluir diplomatas de outros países, inicialmente para apoiar as nações africanas que estavam conquistando sua independência”, conta Arruda. “Com o tempo, o programa foi se expandindo para outras nações. ”
Na semana que antecedeu a cerimônia de formatura dos estudantes, marcada para o dia 27/09, Arruda gravou depoimentos de todos os estudantes estrangeiros, buscando registrar suas experiências e avaliar os impactos dessa cooperação internacional. Nos relatos, um sentimento se destacou: além do aprendizado técnico, as relações interpessoais, a amizade e o apoio entre os colegas foram marcantes.
Domingos reforça o valor desse intercâmbio entre colegas africanos e sul-americanos. “Passei na Escola Diplomática Venâncio de Moura, em Angola, mas o Rio Branco acabou por agregar muita coisa em mim profissionalmente, mas não só isso”, enfatiza. “Ter o privilégio de conhecer pessoas de nacionalidades diferentes e partilharmos muitas coisas em comum, mesmo nos momentos mais sensíveis, foi extremamente gratificante.”
Um desses momentos desafiadores ocorreu com o próprio Domingos. O diplomata de São Tomé e Príncipe, Ailson Lopes Gonçalves, também participante do curso, revelou o acolhimento e a relação interpessoal dos diplomatas brasileiros com os estrangeiros. “Ainda nem tínhamos a amizade de hoje, mas quando a mãe do Francisco faleceu os alunos brasileiros propuseram dividir os custos de uma passagem aérea para que ele pudesse ir à Angola assistir ao seu funeral”, recorda. “Essa turma é composta por alunos profissionalmente muito bons, mas também muito humanos”.
A experiência dos estrangeiros no Brasil parece ir além da diplomacia. A vivência que, ao longo dos meses, se transformou em um aprendizado sobre solidariedade e companheirismo. “A diplomacia é intercâmbio cultural, um intercâmbio de pessoas, é a troca de experiências, de expertises, é a aproximação entre governos, é o cortar de burocracias, é negociação, é mediação, é a utilização de bons ofícios para o bem de outrem”, conclui Domingos, com a certeza de que o sacrifício, sim, valeu a pena.