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Especialistas senegaleses conhecem práticas agroecológicas no Brasil
De 22 a 26 de abril, oito especialistas senegaleses estiveram no Rio de Janeiro, em missão técnica realizada no âmbito do Projeto “Fortalecimento de práticas agroecológicas para o estabelecimento de sistema participativo de certificação no programa de fazendas ‘Naatangué’ no Senegal”, iniciativa de cooperação desenvolvida por meio de uma parceria entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (Abio) e a PAIS Consultoria. Representantes dessas instituições também participaram da semana de visitas de estudo.
Entre as atividades realizadas, a delegação senegalesa visitou a União das Associações e Cooperativas dos Pequenos Produtores Rurais do Rio de Janeiro (Unacoop), onde puderam dialogar sobre os desafios da produção agroecológica. Eles foram também ao Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA), mais conhecido como Fazendinha Agroecológica, onde conheceram experiências de cultivo em sistema agroecológico. Em Soropédica, visitaram a Pesagro, especializada em pesquisa em agricultura orgânica e onde assistiram a demonstrações de fabricação de calda sulfocástica, para o combate a doenças, e calda bordalesa, usado como fungicida. Também foram conhecidas experiências na produção de adubo, hemoterapia, ervas medicinais e produção de sementes.
Foram realizadas, também, visitas a dois produtores em Cachoeira do Macacu, nas quais os técnicos senegaleses tiveram a oportunidade de conhecer as propriedades e participar das reuniões, conhecendo os critérios e passos para a obtenção de certificação orgânica. Entre os benefícios da produção orgânica, os agricultores brasileiros relataram que, para eles, a melhora na saúde é um grande incentivo para a produção orgânica, não só pessoalmente mas também dos trabalhadores, que antes reclamavam muito durante a aplicação de pesticidas. Outro fato relevante é que defensivos químicos consumiam entre 40% e 50% da renda mensal, além do fato de que, apesar da produção orgânica ser menor do que a convencional, ela seria mais lucrativa por se não gastar tanto com produtos químicos.
Os especialistas africanos tiveram ainda a oportunidade de conhecer duas feiras orgânicas, organizadas pela Abio, no Leblon e em Ipanema, ocasião em que conheceram a organização da feira, a política de preço e interagiram com os feirantes. A sede da Embrapa Solos também foi palco de visitas. Os técnicos conheceram um laboratório móvel e outros laboratórios para diferentes analises de solo e assistiram a palestras sobre políticas públicas voltadas para pequenos produtores, especialmente o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).
A Professora Rubia Wegner fez uma apresentação sobre viabilidade econômico-financeira das unidades agroecológicas implantadas pelo projeto. Foram utilizados dados colhidos na missão que participou no Senegal (outubro-novembro de 2018). O objetivo da apresentação foi de sistematizar elementos para tornar factível o projeto quanto a suas premissas de geração de renda entre os agricultores e sua fixação no campo bem como facilitar a construção das atividades relacionadas com a próxima missão de técnicos brasileiros no Senegal.
Na parte da manhã do dia 26 de abril foram feitas duas visitas na região no Brejal, em Petrópolis. Em um primeiro momento foi visitada uma propriedade rural, totalmente certificada, que além de vegetais produz frangos e ovos orgânicos. Os técnicos senegaleses puderam ter uma visão do processo de produção e das regras envolvendo esse setor. Depois foi feita uma reunião no galpão da Associação de Produtores Orgânicos do Brejal (APOBREJAL). O diretor da associação compartilhou algumas informações importantes: a criação da Abio (30 anos atrás) foi importante para alavancar a produção orgânica no estado, pois possibilitou a venda direta; não é possível a exportação, pois os produtos da região são perecíveis e devem ser consumidos em pouco tempo; 20% da renda da associação é utilizada em logística, há 30% de perda (incluindo todas as etapas da cadeia), os produtos que retornam das feiras são utilizados para alimentação animal.
Na parte da tarde foi feita reunião de finalização da missão. Os técnicos senegaleses agradeceram a organização da missão e salientaram a maneira com que foram recebidos em todas as visitas, fazendo alusão à palavra “teranga”, que em wolof significa hospitalidade. A delegação levantou várias lições aprendidas durante a missão no Brasil, dentre elas:
- é possível adaptar a organização brasileira à estrutura existente no Senegal,
- durante a missão foi possível conhecer vários elementos do circuito e a sinergia entre eles (produção de sementes, controles de pragas e doenças, distribuição da vegetação, mercado consumidor, envolvimento das universidades e centros de pesquisa, papel do Estado),
- é preciso encontrar nichos de mercado no Senegal e quem já produz orgânico no país,
- seria interessante incentivar e fortalecer a feiras,
- um aspecto importante a segurança de comercialização, haja vista a importância do PAA e PNAE,
- é importante organizar um plano de capacitação junto aos agricultores,
- no Senegal há problema com o manejo de água, o que não parece ser a realidade vista durante a visita no Brasil,
- foi possível constatar que é possível produzir orgânico em grande escala,
- grande importância da organização dos produtores e que para isso não é preciso uma estrutura de escritório e
- os problemas devem ser corrigidos assim que apareçam.
Ao final foram discutidas as próximas atividades a serem executas em 2019:
- missão técnica para instalação de novas unidades agroecológicas (junho, 2019),
- reunião do comitê gestor (junho, 2019),
- missão para análise de mercado e organização de sistema de certificação orgânica (setembro, 2019) e
- formação de agricultores senegaleses no Brasil (outubro, 2019).