Notícias
Encerra-se com grande êxito cooperação em cirurgia cardiovascular pediátrica na Argélia
Os membros da missão cirúrgica do projeto de cooperação em cirurgia cardiovascular pediátrica, Doutores José Alberto Caliani, Rodrigo Barcellos Ferreira de Araújo e José Hamilton de Carvalho Torres, partiram dia 16/12/2007, após cumprirem intenso programa de atividades em Argel. No total, foram operadas 17 crianças portadoras de má formação congênita do coração, patologia grave que acomete hoje cerca de 3.100 crianças em toda a Argélia.
De acordo com o Dr. Caliani, as operações foram acompanhadas por vários médicos argelinos, que não apenas puderam aprender as técnicas cirúrgicas mais adequadas e modernas, mas também foram treinados em boas práticas e processos que asseguram o ambiente e as condições apropriadas para o sucesso das operações. Várias deficiências foram identificadas pela equipe brasileira e corrigidas durante a missão (como falta de instrumentos adequados para operar crianças, uso inadequado do banco de sangue, entre outros fatores). Os médicos brasileiros procuraram também instilar uma cultura distinta nos cirurgiões argelinos, ainda pouco convencidos de que a criança não é um "adulto em miniatura", mas necessita ser encarada como um ser à parte, que demanda cuidados especiais.
Para o Dr. Salah Eddine Bourrezak, Chefe do serviço de cirurgia cardíaca do hospital Mohamed-Abderrahmani, onde foram realizadas as operações, assim como para outros cirurgiões argelinos daquele hospital, a equipe brasileira aportou conhecimentos e práticas fundamentais para capacitar o lado argelino a realizar com sucesso cirurgias dessa natureza. Na sua visão, essa cooperação precisa ter continuidade, uma vez que transmite um saber teórico e prático sem o qual a Argélia continuará dependendo do envio das crianças doentes para o exterior, a um custo que atinge mais de 40.000,00 euros por paciente. Apenas as famílias mais abastadas ou a minoria ínfima que consegue o apoio do Estado conseguem enviar as crianças para tratamento na Europa.
Conforme Dr. Caliani, os médicos brasileiros tiveram de se adaptar às condições locais, nem sempre as mais adequadas para a realização das cirurgias. Muitos cirurgiões, informa o doutor, sobretudo de países desenvolvidos, recusariam operar crianças maiores de 3 anos de idade, devido aos riscos envolvidos e à maior complexidade da intervenção. Os brasileiros, contudo, aceitaram operar crianças mais velhas, de 11 e até 15 anos, algumas esperavam há mais de 10 anos pela operação que salvaria suas vidas. A capacidade de adaptação da equipe brasileira, sua flexibilidade e, sobretudo, a empatia que estabeleceram com a equipe médica local e os próprios pacientes constituem elementos adicionais que contribuíram para o sucesso da missão.
Ao visitar o hospital e constatar o resultado concreto de crianças que poderão doravante ter uma vida normal, depois de passarem pelo risco da morte prematura, não se pode deixar de reconhecer que o projeto de cooperação, pelo resultado humano alcançado, já terá encontrado sua justificação. Para além da cooperação como instrumento de projeção dos interesses nacionais no cenário mundial, a missão cardíaca constitui exemplo paradigmático da dimensão ética da política externa brasileira, talvez ainda pouco reconhecida pelos estudiosos das relações internacionais, mas que certamente não deixaria indiferente quem tivesse a oportunidade de testemunhar o brilho no olhar dessas crianças que, graças às intervenções cirúrgicas da equipe brasileira, recuperaram o direito de brincar, correr e viver a vida em toda sua plenitude.(Benoni Belli, Brasemb Argel)