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Educação e comunidade andam juntas na Guiné-Bissau
O acesso à educação primária é um dos pilares fundamentais para o maior desenvolvimento de qualquer sociedade. Esse é, inclusive, o propósito do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4: “Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”.
O projeto de cooperação técnica trilateral, “Jovens lideranças para a multiplicação de boas práticas socioeducativas” , desenvolvido há dez anos por meio da cooperação brasileira na Guiné-Bissau, permitiu à comunidade São Paulo, nos arredores da capital Bissau, contar com uma nova escola primária, mais próxima para as crianças do bairro. No âmbito da iniciativa, foi construído o Centro Educacional Amizade São Paulo (CEASP), inaugurado em 2014.
O CEASP é uma escola do primeiro ciclo do ensino básico que atende estudantes do primeiro ao sexto ano, distribuídos nos períodos da manhã e da tarde. Mas o CEASP é, também, uma escola de currículo integrado, que desenvolve todas as suas atividades na perspectiva da educação integral incluindo, para tal, atividades de educação formal e não formal, integradas ao currículo formal do Ministério da Educação da Guiné-Bissau .
Para além das disciplinas obrigatórias, as crianças têm acesso a atividades de apoio à aprendizagem, cultura, arte, esporte e lazer. O espaço é ainda frequentado pelas famílias dos alunos, que participam das diversas atividades oferecidas, como os empreendimentos comunitários, as oficinas e os eventos.
Entre os empreendimentos previstos para geração de renda da escola está a horta comunitária, cuja responsabilidade está a cargo do agricultor guineense Felix Sambu, de 39 anos. Em uma pequena horta localizada na lateral da escola, na qual Felix trabalha de forma voluntária, diariamente, nos horários em que não está no seu trabalho formal, já estão a dar fruto 16 alimentos, entre eles tomate, abóbora, pimenta e berinjela.
Felix afirma que aprendeu sobre técnicas de cultivo quando migrou para outros países do norte da África para trabalhar. “Quando voltei, decidi usar o conhecimento que adquiri lá em benefício da minha comunidade” , relatou. “O meu sonho é que possamos produzir alimentos suficientes para servir as crianças da escola, a comunidade e depois ser vendida. Espero que os rendimentos gerados pelos nossos alimentos sejam suficientes para pagar a matrícula das crianças do CEASP, assim elas não precisarão mais se preocupar com o dinheiro da matrícula.”
O agricultor tem uma filha de 6 anos que também estuda no CEASP. Para cuidar da horta comunitária, um grupo de 10 voluntários da comunidade se reveza diariamente, para regas no período de seca, e proteção das plantas na época das chuvas. “Precisamos cuidar delas todos os dias, assim como cuidamos da nossa saúde” , conclui o dedicado responsável pelo empreendimento.
O projeto é coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e implementado em parceria com a UNESCO, Instituto Elos, Fundação Gol de Letra, Secretaria de Educação da Prefeitura de Vitória (ES) e o governo da Guiné-Bissau.
Um pouco da história
A escolha do nome do Centro Educacional Amizade São Paulo foi feita em assembleia realizada em outubro de 2014 pela Associação Amizade, instituição local guineense cuja solicitação de apoio ao Brasil, em 2009, motivou o início desse projeto. Uma carta escrita por representantes da Associação fora enviada, naquele ano, à Fundação Gol de Letra solicitando apoio para a construção de uma escola no bairro. Articulação liderada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) tornou então possível a resposta positiva ao pedido de cooperação.
Após diversas etapas e a construção conjunta do CEASP ter sido concluída em 2014, foi apresentada à então ministra da Educação de Guiné-Bissau, Maria Odete Costa Semedo, a proposta para que a gestão escolar do Centro fosse feita de forma compartilhada: governo + comunidade.
Em seus cinco anos de funcionamento, a escola atendeu 1.000 crianças e adolescentes com idades entre seis e 14 anos na educação formal e não formal, que participaram de diversas atividades oferecidas.
Autor: Janaina Plessmann