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Dia Mundial do Algodão: Parceiros inauguram série de eventos sobre posicionamento da cotonicultura na região
Investimentos em tecnologia, cooperativismo, sustentabilidade e ética no campo foram discutidos durante o evento
Publicado em
14/10/2021 15h28
Atualizado em
03/04/2023 16h00
O Dia Mundial do Algodão de 2021, em 07/10, foi celebrado com o webinário
“Comemorar o Dia Mundial do Algodão na América Latina e na África para reposicionar e valorizar o algodão”
, organizado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores(MRE), em conjunto com a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO)
, no âmbito do projeto de Cooperação Sul-Sul Trilateral + Algodão.
O evento permitiu o diálogo, a troca de experiências e o reconhecimento de estratégias setoriais em níveis nacional, regional e internacional, para enfrentar a crise da COVID-19, que afetou o setor no biênio 2020/2021. Durante os sete encontros previstos, serão discutidas melhorias para a articulação da rede de valor desta
commodity,
que impacta a vida de cerca de 100 milhões de produtores em 75 países do mundo.
O Embaixador Demétrio Bueno de Carvalho, Diretor-Adjunto da ABC, abriu o evento, recordando que os
impactos multifacetados da pandemia da COVID-19 foram sentidos pelos países da América Latina, Caribe e África. Segundo ele, ações de fortalecimento das capacidades de toda a cadeia de valor do algodão, desde a produção, ao trabalho decente e à comercialização da fibra e dos subprodutos do algodão, por meio da cooperação internacional brasileira, têm contribuído para identificar desafios e soluções inovadoras comuns entre o Brasil e os países cotonicultores parceiros das iniciativas.
O diplomata lembrou a relevância da data:
“estamos alinhados com os objetivos propostos pela OMC para a comemoração deste dia. Por meio do amplo portfólio de projetos que englobam o programa de cooperação brasileiro para o fortalecimento da cotonicultura em países em desenvolvimento, alcançamos resultados de grande importância para o setor, dando visibilidade internacional ao algodão, cuja produção se encontrava adormecida em alguns países”
, disse
Rafael Zavala, Representante do Escritório da FAO no Brasil, lembrou que o projeto +Algodão busca fortalecer o setor algodoeiro dos países parceiros, apoiando suas competitividade e sustentabilidade, alinhando suas ações para a segurança alimentar e nutricional, superação da pobreza rural e Agenda 2020-2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.
“Há muitos desafios para o sistema de produção do algodão latino-americano, assim como para seu posicionamento no mercado”
, disse Zavala.
“Com certeza, alianças como esta contribuem de maneira efetiva para o fortalecimento deste setor.”.
O projeto regional +Algodão, que faz parte do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO, foi firmado, em 2012, entre a ABC, o Instituto Brasileiro de Algodão (IBA) e a FAO para contribuir para o desenvolvimento sustentável do setor algodoeiro em sete países parceiros: Argentina, Paraguai, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador e Haiti.
A Coordenadora Regional do Projeto +Algodão, pela FAO, Adriana Gregolin, destacou que uma das contribuições deste projeto se dá pelo modelo de gestão adotado, que vai desde ações operacionais até técnicas.
“É um modelo trilateral que envolve o Governo brasileiro, com suas instituições cooperantes, um organismo internacional, que neste caso é a FAO, e os países associados com suas respectivas organizações e representações”
, disse.
Com relação à região, Gregolin complementou:
“O que nos move na América Latina? O que queremos daqui em diante? Intensificar boas práticas geradas por meio da cooperação. Queremos seguir desenvolvendo e disseminando ferramentas digitais, impulsionar desenvolvimento de maquinário adaptado para apoiar a agricultura familiar, trabalhar o associativismo, o cooperativismo, gerar valor agregado ao algodão, estabelecer alianças público-privadas e intensificar resultados”
.
Tecnologia e Associativismo
Um consenso entre os palestrantes do webinário foi o de que apenas por meio do investimento em tecnologia e do estímulo à organização dos produtores de algodão em torno de associações e cooperativas é que é possível crescer e levar o setor adiante.
Haroldo Cunha, Diretor Executivo do
Instituto Brasileiro do Algodão (IBA)
– instituição financiadora dos projetos de cooperação técnica brasileiros na área do algodão, coordenados pela ABC/MRE - ressaltou que a organização do setor, assim como da cadeia de produção, foi o que permitiu a retomada e o crescimento da cotonicultura verificados, nos últimos 15 anos, no Brasil e, consequentemente, passível de replicação nos países associados aos projetos.
“Se essa estrutura não tiver sido consolidada nos países parceiros dos projetos, criando agentes locais de transformação, capacitados e organizados para manter o trabalho ao longo do tempo, todo o avanço ao longo desses anos terá um fim”
, lembrou.
“O encadeamento de ações, por meio do desenvolvimento dos aspectos técnicos, organizacionais e de mercado, é essencial para fazer com que o algodão se desenvolva, ou ressurja, em cada uma dessas regiões”
.
A retomada do cultivo do algodão no Brasil se deu a partir do ano 2000, baseada em alta tecnologia e, o mais importante: associativismo e cooperativismo”
, lembrou Márcio Portocarrero, Diretor Executivo da
Associação Brasileira de Produtores de Algodão (ABRAPA)
, ao fazer um panorama histórico da cotonicultura no Brasil. Portocarrero disse que os produtores brasileiros são líderes mundiais em produtividade de algodão sem sistema de irrigação, com 1.800 kg por hectare, enquanto os americanos, principais concorrentes do País, produzem 900 kg por hectare plantado.
“Foi também nessa época que entendemos que, para sermos competitivos e eficientes. nós tínhamos que nos unir, nos organizando em associações e cooperativas.”
ElMamoun Amrouk, Especialista em
Commodities
da FAO, confirmou as mesmas impressões dos especialistas brasileiros. Para o economista, a única maneira de o algodão competir a longo prazo com as fibras sintéticas, que hoje tomam 17% do mercado mundial, é por meio de inovação e tecnologia.
“Para que o algodão seja competitivo neste difícil mercado,
é preciso inovar e investir em tecnologia, para que a produção seja melhorada”,
disse.
“Não somente tecnologias, mas também estruturas inovadoras, novos modos de realizar negócios e usar os recursos disponíveis, que é o que está sendo buscado nos projetos que temos na região”.
Sustentabilidade e Boas Práticas.
Outros parceiros envolvidos nos projetos de cooperação também participaram do evento e fizeram importantes contribuições para aspectos cada vez mais decisivos, no que diz respeito à produção do algodão mundial: a sustentabilidade e o incentivo a boas práticas no processo de produção da fibra. Isso porque, cada vez mais, o consumidor está buscando garantias de que os produtos por ele consumidos são produtos que não utilizam defensivos agrícolas, nem o trabalho infantil em sua cadeia de produção.
A representante da
Organização Internacional do Trabalho (OIT),
Fernanda Barreto, que encabeça o Projeto “Algodão com Trabalho Descente”, parceria entre a ABC, OIT e países da América Latina e África, disse que o foco do projeto nos países em que é implementado tem sido no combate ao trabalho infantil, por meio de diversas ações e campanhas de conscientização, assim como via inspeção das condições de trabalho, especialmente quanto à segurança e à saúde. Barreto afirmou que não há como garantir sustentabilidade na produção do algodão se toda a cadeia não for sustentável.
“Não há como ser sustentável se não olharmos cuidadosamente para as condições de trabalho do conjunto da cadeia do algodão”
. Ela realçou, ainda, a importância do enfoque de gênero para que haja estratégias mais inclusivas nos projetos, outro desafio no meio rural.
Albaneide Peixinho, representante do Centro de Excelência contra a Fome, do
Programa Mundial de Alimentos (PMA),
em Brasília, falou sobre o projeto “Além do Algodão”, parceria entre a ABC, o IBA e o PMA, para garantir a segurança alimentar nos países parceiros, associada ao desenvolvimento da cotonicultura. Peixinho falou sobre a relevância da produção de alimentos consorciada ao algodão para garantir a segurança alimentar dos produtores familiares.
“Até 2025, cerca de 36 das maiores e mais renomadas marcas de roupa usarão algodão certificado”
, disse. Dessa forma, segundo a nutricionista, tanto o algodão certificado como o alimento de qualidade devem caminhar juntos.
Lorena Ruiz, economista do
Comitê Consultivo do Algodão (ICAC)
, lembrou da importância de garantir a produção têxtil e de roupas da maneira mais sustentável e ética possível. Um fator que, segundo ela, para alguns países da América Latina e Caribe torna-se um desafio, uma vez que muitos dos produtores familiares desses países são de pequeno porte e não possuem programas de sustentabilidade que os ajudem a estabelecer metas e medidores identificáveis da produção sustentável.
“Mesmo que estejam produzindo de forma sustentável, muitos produtores não conseguem garantir para as marcas que sua matéria-prima é, de fato, cultivada de maneira mais sustentável”.
Ruiz ressalta que este é um desafio atual da região porque estima-se que, em 2025, 30% da produção de algodão deverá ser sustentável para atender à demanda do mercado mundial.
Autor: Cláudia Caçador