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Desenvolvimento do Cooperativismo Rural em Botsuana
O setor agrícola em Botsuana é responsável pelo sustento de cerca de 90% da população rural do país. Apesar disso, ele representa hoje apenas 3% do PIB anual, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento Agrícola e Segurança Alimentar (MDASA) da nação africana. A exploração de minerais, como o diamante, ainda é dominante enquanto principal atividade comercial. Em meio a esta realidade, o desemprego na área rural, principalmente entre os jovens, se torna cada vez maior.
Com o objetivo de encontrar alternativas e soluções para reverter este quadro, o governo de Botsuana buscou o apoio técnico do Brasil para o desenvolvimento de um projeto de fortalecimento do Cooperativismo Rural no país.
A iniciativa se concretizou por meio de um projeto de cooperação técnica, promovido pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) em colaboração com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) , instituição especialista no tema. Do lado botsuanês, o projeto foi conduzido pelo MDASA, em parceria com o Ministério do Investimento, Comércio e Indústria (MITI).
A primeira fase do projeto, que durou três anos (2014-2017), promoveu importantes avanços no setor. Com a condução de uma iniciativa piloto, próxima à capital Gaborone, foi constituída a “Cooperativa de Horticultores de Kweneng North” , a primeira da região. Operacional desde dezembro de 2017, a instituição conta atualmente com cerca de 10 membros, sendo 6 homens e 4 mulheres.
Apesar dos poucos meses de funcionamento, os cooperados já começam a ver os primeiros resultados. Recentemente, ganharam uma licitação para fornecerem os seus produtos ao Ministério da Defesa de Botsuana. Serão responsáveis por prover parte dos alimentos servidos aos soldados do país.
A cooperativa vende também para redes de varejistas e participa de “Dias de Mercado” promovidos pelo governo, que reúne diversos produtores e suas cooperativas para a comercialização direta dos produtos, tanto para indivíduos como para instituições públicas, colocando os produtores em contato direto com o consumidor final.
Entre os principais alimentos cultivados estão: abóbora, acelga, alface, batata, batata doce, beterraba, brócolis, cebola, cenoura, couve, frutas cítricas, melancia, pimenta e tomate.
Em uma visita a três propriedades de Kweneng North, realizada por uma delegação brasileira da ABC e da OCB, foi possível visualizar o auto comprometimento dos produtores com a iniciativa. Apesar de compartilharem os desafios que ainda encontram, como a coleta, armazenamento e distribuição apropriada dos alimentos; diversificação dos produtos cultivados; custo dos insumos; acesso ao mercado; entre outros, eles acreditam que estão no caminho certo.
Com a cooperativa, os membros acreditam que será possível promover a geração de empregos e o aumento da renda dos agricultores da região de Kweneng North. Para a melhor gestão da instituição, foi elaborado um plano estratégico de gestão, com duração de oito anos.
“Apesar de termos uma população pequena no país, de 2 milhões de pessoas, sabemos que podemos chegar a elas com os nossos produtos. Hoje, grande parte dos nossos alimentos vem da África do Sul. Mas sabemos que podemos ser nós a alimentar a nossa população” , declarou Kagiso Nkago, presidente da Cooperativa. “As cooperativas agrícolas são um meio importante para a redução do custo de produção” , ressalta.
Para a Diretora do Departamento de Negócios Agrícolas, do MDASA de Botsuana, Kelebonye Tsheboeng, o seu país não pode depender do comércio de diamantes. “Os minerais são finitos. A agricultura não. Queremos que as pessoas se envolvam com a agricultura e estimulem a economia rural. Tenho certeza que este projeto está contribuindo com isto” , afirmou.
Atualmente, o Brasil é o país no mundo com o maior número de cooperativas, sendo referência na gestão deste tipo de instituições. Ao gerar emprego, as cooperativas contribuem para a diminuição da pobreza, promoção da segurança alimentar, aumento de renda e da qualidade de vida no meio rural.
Vale ressaltar que, por meio da cooperação técnica, o Brasil não impõe modelos a serem aplicados em outro país, mas sim compartilha o conhecimento que já construiu para que cada um adapte à sua realidade. Adicionalmente, o Brasil não realiza a transferência financeira de recursos, em iniciativas de cooperação técnica, mas sim de experiências e boas práticas, através do conhecimento especializado das instituições públicas brasileiras.
Autor: Janaina Plessmann