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Da agricultura ao saneamento: Cotton Solos e o desenvolvimento comunitário no Mali
Os (as) especialistas brasileiros (as) envolvidos (as) com este tema no projeto Cotton Solos, representantes da UFLA, UFMT e especialista do MDA, identificaram, a partir dos diagnósticos realizados na vila de Bandiagará II, ações simples que poderiam ter impacto importante na qualidade de vida da população.
A primeira frente de trabalho foi a instalação de banheiros secos para substituir as latrinas que ainda existem na vila e que são fontes de contaminação da água, além de estarem localizadas nos espaços onde as crianças brincam e vivem.
Foram instalados vasos sanitários segregadores, que separam a urina das fezes. Em cima dessas últimas, é jogada uma pequena porção de mistura de calcário, ureia e cinzas, de modo a inativar patógenos. Esse material fica armazenado em um balde, localizado abaixo do vaso. Após o balde alcançar seu volume máximo, o material fica estocado por 2 meses e é utilizado como adubo orgânico na agricultura de forma segura.
Outra atividade realizada foi o compartilhamento de técnicas de produção e construção utilizando adobe, uma prática tradicional e bastante apropriada para essa região da África mas que, dependendo da forma de produção e execução, sofre um desgaste muito rápido com a ação das chuvas, que costumam ser intensas em determinados períodos do ano.
A proposta é aprimorar esse adobe e torná-lo resistente e impermeável. Estes cuidados evitam reparos anuais e melhoram sensivelmente a qualidade das construções locais. Portanto, a valorização do adobe promove melhor qualidade de vida, com conforto térmico e sustentabilidade ambiental.
Outra componente importante, que trouxe expressivo impacto social em termos de saúde coletiva foi a melhoria dos poços freáticos já existentes na vila. Durante a missão de diagnóstico, foi observado nos poços que a qualidade da água não estava apropriada para o consumo humano.
Assim, os poços existentes foram “encamisados” internamente com manilhas de concreto e tampas de proteção com acesso para inspeção, e instalação de bombas manuais para facilitar a retirada da água. O piso da área do entorno foi cimentado, e muretas para proteção foram construídas para evitar contaminações externas, por exemplo de animais.
A bomba manual permitiu também otimizar o tempo das mulheres, que culturalmente são responsáveis por buscar a água para cozinhar, limpar a casa, banho e outros afazeres domésticos. Hoje há 12 poços desse tipo na vila.O projeto constatou, também, que esses poços não são suficientes para atender todas as necessidades de Bandiagará II, especialmente no período da seca. Então propôs uma outra ação, que é a captação de chuva a partir das calhas dos telhados, com a instalação de uma caixa de 5.000 litros como experiência piloto. Há previsão da instalação de mais 20 caixas coletoras de água de chuva. Poços profundos serão também perfurados para garantir agua em quantidade e qualidade.
Outro desafio identificado foi a quantidade de poeira, durante o período da seca, varridos pelo vento para dentro da vila. Diante disso, foi apresentada uma proposta de se instalar uma cortina de vento com a implantação de 400 árvores no entorno da vila.
Todo esse trabalho, desde a identificação dos desafios como a construção de possíveis estratégias para superara-los, é feito de forma participativa, envolvendo a maior diversidade possível de moradores da comunidade.
Visando a sustentabilidade financeira dessas ações, a comunidade está se articulando, de forma a criar uma cota anual, para cada núcleo familiar, para que eventuais necessidades de manutenção possam ser realizadas com a maior brevidade possível.
Numa última fase, serão desenvolvidas ações preventivas relativas ao intenso período de chuvas, de modo a evitar o surgimento de criadores de mosquito dentro ou nas proximidades da vila.
O projeto "Preservação do Potencial Produtivo das Zonas Produtoras de Algodão no Mali - Cotton Solos" é coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores (MRE), e realizado em parceria com a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e o governo do Mali, por meio da Companhia Malinense de Desenvolvimento Têxtil (CMDT), com financiamento do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A iniciativa tem promovido, desde 2019, o compartilhamento de conhecimento técnico e de práticas agrícolas que já são utilizadas com êxito no Brasil, em contextos de solo e clima semelhantes aos do Mali, de modo a aumentar a produtividade de algodão utilizando práticas de conservação, manejo e fertilidade do solo mais eficientes e sustentáveis.