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Cooperação e Diplomacia
Atualmente, o Brasil desenvolve dois projetos de cooperação técnica com Botsuana, sendo o outro na área da saúde. Implementados com base nos princípios da Cooperação Sul-Sul, em que a horizontalidade das relações está entre os principais pilares, o comprometimento e envolvimento do governo parceiro é fundamental para o andamento exitoso das iniciativas.
No caso do projeto “Desenvolvimento do Cooperativismo Rural em Botsuana” , os Ministérios responsáveis pela implementação da iniciativa no país (Ministério do Desenvolvimento Agrícola e Segurança Alimentar - MDASA; e Ministério do Investimento, Comércio e Indústria - MITI) contaram com apoio técnico direto da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) .
Em 2014, três representantes do MDASA participaram de duas capacitações no Brasil: uma na área de criação de um plano piloto de uma cooperativa modelo, ministrada pela OCB; e outra sobre produção sustentável de hortaliças, organizada pela Embrapa Hortaliças.
Lucky Ramongalo, extensor rural do MDASA, foi um deles. Ele ressalta que, por meio das capacitações, pôde ampliar o seu conhecimento e melhorar o apoio que presta aos agricultores. “Estamos muito satisfeitos em ver que agora os agricultores de Kweneng North estão se organizando e trabalhando juntos” , ressaltou.
Outra participante do intercâmbio realizado no Brasil foi a economista agrícola do MDASA, Shandulo Atholang. A jovem profissional relata ter aprendido bastante com a experiência, principalmente no que diz respeito ao maior controle de preço dos alimentos, que beneficia o trabalho dos agricultores . “No Brasil, existe um preço mínimo dos alimentos, definido semanalmente por uma empresa pública. Em Botsuana, quem determina os preços pagos aos agricultores familiares são os grandes varejistas” , relata Shandulo.
Para a Ministra-Adjunta do MDASA, Mmadima Nyati, as cooperativas representam um meio de empoderamento dos cidadãos. “Quando as pessoas estão juntas, suas vozes podem ser ouvidas muito mais alto do que se estiverem sozinhas. Estamos agora com altas taxas de desemprego. Por isso, este projeto veio no momento certo. A Cooperativa de Kweneng North será um modelo para todas as outras do país” , afirmou a representante do Governo.
O governo de Botsuana possui também um Centro de Treinamento em Cooperativismo, que fornece capacitações gratuitas para aqueles interessados em constituírem suas próprias instituições.
De acordo com o Diretor de Cooperativismo do MITI, Motse Otlhabanye, o conhecimento adquirido por meio deste projeto de cooperação técnica com o Brasil será levado a outras cooperativas do país, através da Associação das Cooperativas de Botsuana (Botswana Cooperative Association - BOCA).
Marang Motlaleng, diplomata responsável por acompanhar o projeto em representação do Ministério das Relações Exteriores e Cooperação de Botsuana, afirma que a cooperação promovida pelo Brasil “sai do meio governamental e chega às pessoas” . Motlaleng ressalta que, antes da iniciativa, havia competição entre os agricultores da região, onde há agora colaboração.
A cooperação horizontal é um mecanismo importante que permite o estreitamento das relações entre os países, assim como a troca de conhecimentos. “São sempre os dois lados que aprendem algo. Este é o espírito da cooperação técnica brasileira. Vamos agora construir a próxima fase do projeto. Juntos, podemos ir mais longe” , declarou o representante da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) , Nelci Caixeta, Coordenador-Geral de Cooperação Técnica com a África, Ásia e Oceania.
As relações diplomáticas entre o Brasil e Botsuana começaram em 1985, sendo que o acordo que regulamenta a cooperação técnica entre ambos data de 2005. Em março de 2009, o governo brasileiro abriu sua Embaixada no país.
Próximos passos
Em conjunto, a delegação brasileira, os Ministérios parceiros botsuaneses e os cinco membros do Conselho Administrativo da Cooperativa de Kweneng North desenharam, durante três dias, a segunda fase do projeto. Por meio de atividades participativas, foram identificados temas prioritários para o desenvolvimento das atividades de cooperação técnica que comporão o documento de projeto, ainda em fase de finalização e validação pelas duas partes.
Com duração prevista de aproximadamente três anos, a iniciativa promoverá atividades de intercâmbio para a consolidação do conhecimento adquirido na primeira fase, assim como a superação dos desafios identificados como possíveis de serem superados por meio da cooperação técnica.
Para o Presidente da Cooperativa, Kagiso Nkago, seria interessante conhecer, na prática, como as pequenas cooperativas agrícolas são geridas no Brasil. Para tal, será avaliada a possiblidade da realização de uma atividade de intercâmbio, em que representantes da Cooperativa de Kweneng North visitarão o Brasil para conhecer algumas instituições brasileiras que possuem características semelhantes às da correspondente africana.
“Queremos aprender como vocês estão gerindo as cooperativas no Brasil. Já progredimos bastante, mas sabemos que podemos aprender ainda mais com vocês para que a nossa instituição seja sustentável” , declarou o agricultor.
A delegação brasileira deverá retornar ao país ainda este ano, para validação final do documento de projeto e posterior assinatura do mesmo.
Autor: Janaina Plessmann