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Brasil inaugura 3° Banco de Leite Humano na África
Foi realizada hoje em Luanda, capital de Angola, na Maternidade Lucrécia Paim, a inauguração do terceiro Banco de Leite Humano no continente africano, fruto da cooperação técnica promovida pelo Brasil.
O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou em Angola essa manhã especialmente para participar da cerimônia de inauguração, que foi realizada pela Ministra da Saúde de Angola, Sílvia Lutucuta.
Em suas palavras, o Ministro Mandetta recordou que todas as crianças do mundo tem direito ao aleitamento materno e que é responsabilidade dos governos criarem as condições para que esse direito possa ser exercido. “Não existe fórmula artificial que se assemelhe, nem de perto, do aleitamento materno, que deve ser a primeira, segunda, terceira, quarta opção. O Brasil esteve e continuará a estar à disposição de Angola, nosso país irmão, para, através da cooperação, compartilhar todas as nossas boas práticas de saúde, de modo a contribuir para a criação de uma sociedade com mais saúde e qualidade de vida em Angola” , declarou Mandetta. " Tuna Sakidila ", finalizou o Ministro, que quer dizer "muito obrigado", na língua angolana "Kimbundu".
O “Projeto piloto de implantação e implementação de Banco de Leite Humano em Angola" , pioneiro no país, coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e implementado tecnicamente pelo Ministério da Saúde (MS) , por meio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) , viabilizou a implantação da primeira unidade de coleta e processamento de leite humano em Angola.
A unidade será referência para a criação de imanente rede de Bancos de leite no país, segundo afirmou hoje a Ministra Lutucuta, em suas palavras, durante a cerimônia. Ademais funcionará como ferramenta de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno. Lutucuta também destacou a importância, para a saúde de Angola, da cooperação longínqua com o Brasil, além de referir outras áreas importantes nas quais gostaria de ampliar a cooperação com o Brasil, como a de transplante de órgãos, entre outras. "O Banco de Leite vai nos ajudar a diminuir as nossas taxas de mortalidade neonatal, especialmente dos bebês que, por razões diversas, não teriam acesso ao leite humano" , destacou.
Além de equipar o Banco de Leite Humano, o projeto de cooperação capacitou toda a equipe técnica do hospital que irá trabalhar no Banco de Leite da maternidade Lucrécia Paim, de modo que eles sejam também multiplicadores desse conhecimento no país africano.
A delegação brasileira conta, além do Ministro da Saúde do Brasil, com a presença da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, do Coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano pela Fiocruz, João Aprígio, do Diretor-Adjunto da ABC, Embaixador Demétrio Bueno Carvalho, além de outros integrantes do MS e da ABC.
Para Nísia Trindade, a Fiocruz sente-se honrada em fazer parte de tal iniciativa, especialmente "tratando-se de ações, como o Banco de Leite Humano, que constroem pontes entre dois continentes, através de um ´Rio chamado Atlântico´. São pontes da saúde. São pontes da vida" , afirmou. O Diretor-Adjunto da ABC reforçou a importância dos Bancos de Leite para a cooperação técnica internacional promovida pelo Brasil: "Trata-se de um dos mais bem-sucedidos projetos da cooperação técnica brasileira. O que queremos é fazer ainda mais com Angola: ampliar capacidades de nosso parceiro com a formação de recursos humanos e o compartilhamento de conhecimentos e experiencias para a formulação e execução de suas políticas nacionais" , afirmou o Embaixador Carvalho.
Para João Aprígio, que foi homenageado pela equipe do Banco de Leite Humano de Angola e mereceu uma sala com o seu nome, devido às suas contribuições históricas para a promoção do tema, tanto no Brasil como internacionalmente, "Felizes são os povos que compreendem que investir em Bancos de Leite Humano é um investimento no crescimento futuro do país. No Brasil, há mais de três décadas, fazemos esse investimento, de baixo custo associado, e que contribuiu expressivamente para a redução da nossa mortalidade neonatal. E continuamos a contar com centenas de ativistas, dessa causa, que acreditam que cada contribuição individual conta. Parabéns a Angola, pelo dia de hoje! "
Banco de Leite de Angola
Com uma equipe composta por 25 especialistas, entre enfermeiras, fisioterapeutas, nutricionistas e analista de sistemas, o Banco de Leite de Angola já conta com 50 dadoras regulares. “A necessidade de leite é muito grande, porque dos beneficiários constam as crianças abandonadas que estão acolhidas nos orfanatos” , afirmou a coordenadora do projeto de Banco de Leite Humano e do Núcleo de Amamentação pelo governo de Angola, a médica Elisa Gaspar. Além da unidade da Maternidade Lucrécia Paim, foram também montados quatro postos de coleta de leite, em Luanda, nas maternidades Augusto Ngangula, Cajueiros, Hospital Geral de Luanda e Avô Cumbi.
A Dra. Elisa afirma que há 20 anos tem esse sonho, de inaugurar um Banco de Leite Humano em Angola, e que tem acompanhado o tema em diversos eventos internacionais da área de saúde, graças a interlocuções também feitas pelo Brasil. "A minha vida mudou, quando conheci os Bancos de Leite Humano, em um evento internacional, há muitos anos atrás, onde conheci o Dr. João Aprígio. Estou muito contente de, finalmente, termos conseguido. Se cada um de nós escolher uma cauda diferente para lutar, e for até o fim, Angola estará diferente daqui há alguns anos!" , concluiu.
Na cerimônia de inauguração, participou a maior doadora, até então, do recém-inaugurado BLH. Domingas Sabino, de 41 anos, é enfermeira da Maternidade e mãe de Misael Sabino, de 1 ano e 6 meses, que ainda continua a ser alimentado, de forma complementar, com o leite materno. Domingas já doou um total de 50 litros para o Banco de Leite Humano. Quando questionada o porque doa leite, Domingas não hesita: "Doo pelos bebês que não tem leite materno. Porque não compartilhar o melhor que tenho nesse momento, se sei que há bebês que precisam? "
O que é um Banco de Leite Humano?
O Banco de Leite Humano (BLH) é um serviço de atenção à saúde, normalmente localizado dentro dos hospitais públicos para promoção do aleitamento materno e execução das atividades de coleta, processamento e controle de qualidade do leite humano doado, para posterior distribuição sob prescrição do médico ou nutricionista, para os bebês cujas mães não estejam produzindo leite suficiente, de acordo com as necessidades do recém-nascido.
O leite é especialmente importante em casos de bebês prematuros. Os Bancos possuem ainda uma estrutura adequada para estocagem do leite materno doado, após processamento; como também realiza trabalhos de investigação, educação, informação e aconselhamento sobre o aleitamento materno.
Entre os principais impactos para os recém-nascidos, do aleitamento materno, está a redução da mortalidade neonatal e a proteção contra diversas doenças, como desnutrição, diarreia e outras doenças do trato gastrointestinal.
No Brasil, já existem 224 Bancos de Leite Humano e 215 postos de coleta. Por meio da cooperação técnica internacional, a ABC, o MS e a Fiocruz já implantaram mais de 110 Bancos de Leite Humano, em mais de 20 países da América Latina e Central, Península Ibérica e África onde, além de Angola, Moçambique e Cabo Verde já foram contemplados.
Rede Global de Bancos de Leite Humano
Como resultado da cooperação técnica internacional brasileira foi constituída a Rede Global de Bancos de Leite Humano , reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, no âmbito da Rede Global, estão também constituídas as Redes de Banco de Leite Humano da CPLP e Mercosul, assim como, na semana passada, a dos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Fotos: Janaina Plessmann/ABC e Newton Palma/Ministério da Saúde
Autor: Janaína Plessmann