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Brasil e Paraguai realizam intercâmbio sobre atenção integral à primeira infância
Primeira infância e troca de experiências. Cuidadores, educadores e diversos profissionais que atuam na área de cuidados infantis ampliam repertório para a construção de caminhos construtivos, com trocas de experiências.
Com esse espírito, a fronteira Brasil-Paraguai foi palco, entre 26 e 29 de fevereiro corrente, de intercâmbio entre profissionais que atuam em programas governamentais de atenção à primeira infância. Do lado brasileiro, participaram profissionais que atuam no Programa Criança Feliz, do governo federal; no caso do Paraguai, no Plano Nacional para o Desenvolvimento Integral da Primeira Infância.
No total, 75 educadores(as) itinerantes e coordenadores(as) locais do Ministério da Infância e da Adolescência do Paraguai e visitantes vinculados ao Programa Criança Feliz do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil (MDS), além de representantes de instituições estaduais e municipais brasileiras estiveram em Ciudad del Este para participar do “Intercâmbio de experiências para fortalecer o trabalho com cuidadores, visando ao desenvolvimento de crianças de 0 a 3 anos”.
Foram quatro dias de atividades que permitiram aos participantes compartilhar estudos de caso reais sobre seu dia-a-dia, escutar relatos de famílias paraguaias assistidas pelos programas que incluem visitas domiciliares a crianças de 0 a 3 anos, trocar reflexões sobre a importância desse tipo de assistência social a famílias mais vulneráveis, além de realizar visita a um espaço de desenvolvimento infantil (EDI) para crianças de até 3 anos, chamado Kunu´ũ, ‘dar carinho’ na língua guarani.
Para os 16 visitantes brasileiros provenientes dos municípios de Amambai, Aral Moreira, Coronel Sapucaia, Iguatemi, Ponta Porã e Porto Murtinho (Mato Grosso do Sul), um ponto alto do intercâmbio foi a visita ao EDI Kunu´ũ, da cidade de Hernandarias, nos arredores de Ciudad del Este, onde são atendidas cerca de 63 crianças. O espaço visa ao desenvolvimento integral de cada criança. Kunu´ũ faz parte da estratégia interministerial paraguaia, cujas ações visam a atender famílias mais vulneráveis desde a gravidez até os 08 anos de idade.
Maria Lucia Ribeiro, secretária de desenvolvimento social do município de Porto Murtinho (MS) que acompanhou o intercâmbio, ressaltou a importância da troca de aprendizados para ela e a equipe do município, no âmbito do Programa Criança Feliz: “quem muda o rumo da história, muda a história. E é isso que o Proqrama Criança Feliz faz.”
Para Tuanny Souza Ramos, coordenadora-geral de programas intersetoriais na secretaria nacional de assistência social do MDS, “o Brasil ser o escolhido para compartilhar a experiência de trabalho com a primeira infância demonstra que estamos no caminho certo para priorizar políticas para essa etapa de vida tão importante”.
A oficina foi desenvolvida no âmbito do projeto de cooperação técnica "Intercâmbio de experiências para o fortalecimento do trabalho com cuidadores, visando ao desenvolvimento de crianças de 0 a 3 anos", implementado em conjunto pelo Ministério da Infância e da Adolescência (MINNA), com o apoio do Vice Ministério da Economia e Planejamento, da República do Paraguai, como parceiro solicitante; a Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), Família e Combate à Fome e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores, na qualidade de coordenadora. A Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), do Ministério alemão de Cooperação Econômica para o Desenvolvimento (BMZ), atua como parceiro facilitador.
Desenvolvimento
Nos EDIs, as salas são divididas com vidros, para permitir integração entre todos e, ainda, para que as crianças possam se despedir da mãe. Há hortas para que as crianças cuidem dos alimentos, ervas e temperos, a fim de se familiarizarem com o que consomem. Um plano alimentar é feito por nutricionistas e adaptado à faixa etária dos pequenos.
Os cuidadores exploram todos os espaços da escola. As divisórias de vidro, por exemplo, são pintadas e usadas como lousas. Os cuidadores agem levando em consideração os limites do corpo dos pequenos, no momento da troca de fraldas, e os cuidados com a higiene pessoal, explicando à criança cada ação em curso. A agenda de atividades é bem flexível e as crianças têm liberdade para brincar com insetos, jogar e fazer brincadeiras. Afinal, acolhimento e afeto são ferramentas para o desenvolvimento infantil pleno e saudável.
Itinerante
Outra ação de destaque é o processo de visitas itinerantes domiciliares realizadas no Paraguai. Para Maria Estela Martinez, mãe de Aron, de um ano e cinco meses, esses encontros quinzenais com os educadores têm contribuído enormemente para o desenvolvimento de seu filho, tanto do ponto de vista da fala como da integração social. Ela observa grande diferença, em comparação com os outros quatro irmãos mais velhos, que não receberam esse tipo de estímulo infantil desde cedo.
Mario Lazan, educador itinerante paraguaio, realiza visitas domiciliares a famílias sem oportunidade de colocar seus filhos em espaços escolares, como os EDIs. “Para mim, é uma satisfação ter essa oportunidade de ganhar confiança das famílias, entrar em suas casas e poder compartilhar com elas esse espaço de aprendizado mútuo, transmitindo conhecimentos que poderão contribuir para o desenvolvimento de seus filhos e filhas, desde tão pequenos. Notamos também os benefícios de conversar com os pais sobre sua atuação enquanto cuidadores”, relata.
Para Nilda Riquelme, especialista em desenvolvimento infantil no MINNA, que acompanhou o projeto desde o início, as trocas de experiências entre os profissionais dos dois países permitiram aos visitadores sociais paraguaios rever algumas práticas até então utilizadas. Após uma capacitação realizada em dezembro de 2023, um exemplo é a percepção de que as visitas deveriam ter como enfoque os cuidadores das crianças, mais do que a própria criança, pois são as pessoas que estão com os pequenos todos os dias. Essa compreensão teria surgido com a troca de experiências com o Brasil. “Esse projeto ajudou a acreditarmos que podemos desenvolver políticas que respeitem os direitos das crianças no Paraguai”, ressaltou.
Josué Nunes Neto, analista de projetos da ABC, acredita que “o Brasil sai fortalecido depois desse intercâmbio, em razão dos testemunhos afirmativos e das experiências de impacto compartilhadas com o Paraguai”.
Maria José Galeano, assessora técnica de projetos da GIZ, do Ministério alemão de Cooperação Econômica para o Desenvolvimento (BMZ), sublinhou a importância do projeto, no sentido de qualificar o trabalho dos educadores itinerantes, de modo que as famílias que recebem as visitas ampliem seus recursos de cuidados e desenvolvam ambientes saudáveis para o desenvolvimento pleno das crianças.