Notícias
Brasil contribui para redução do analfabetismo em São Tomé e Príncipe
A cooperação do Brasil com STP para o combate ao analfabetismo iniciou-se muito antes da instalação da embaixada brasileira no país. Após a conquista da independência, em 1975, o pedagogo Paulo Freire criou uma forte relação com São Tomé e Príncipe e desenvolveu então diversas iniciativas de combate ao analfabetismo. Porém, nenhuma destas ações envolvia diretamente o governo brasileiro.
Com a apresentação de uma demanda formal de cooperação, pelo governo de STP ao Brasil, no ano de 2000, iniciou-se um importante projeto, com várias fases de implementação. Foram organizadas sucessivas ações de capacitação de educadores e educadoras santomenses, com a vinda de professores e professoras do Brasil. Muitos permaneciam em STP por cerca de um mês, para viajarem pelo país e conhecerem melhor a realidade do analfabetismo, predominante nas zonas rurais.
É importante mencionar que a Associação brasileira AlfaSol (Alfabetização Solidária) , organização parceira na iniciativa, teve um papel fundamental para o sucesso do projeto, como ressalta a dona Helena.
“A AlfaSol deu capacitação aos coordenadores dos nossos polos, espalhados pelo país. Eles pensavam na sustentabilidade do projeto a longo prazo. Desenvolvemos apostilas, para os alunos e para os professores, adaptadas à nossa cultura. Aprendemos muito com o Brasil. Conseguimos com que muitos jovens e adultos, em situação de vulnerabilidade ou de extrema pobreza, que nunca tinham pegado num lápis ou ido à escola, escrevessem os seus nomes pela primeira vez na vida” , relata, emocionada.
Muitos alunos decidiram, inclusive, continuar com os seus estudos. Alguns chegaram a realizar um curso superior. O programa, que chegou a ter cerca de 110 turmas espalhadas pelas duas ilhas, conta hoje com 64 polos de alfabetização, que atendem jovens e adultos, a partir dos 19 anos. Até hoje, mais de 22 mil jovens e adultos santomenses foram alfabetizados.
Português, matemática e ciências integradas são as disciplinas lecionadas no programa. “Ensinamos também, utilizando estas matérias, sobre temas relacionados à saúde e ao meio-ambiente, sempre relacionando com a realidade santomense, como os problemas enfrentados pelo país no que se refere à extração de areia, à exploração de tartarugas, entre outros.”
Em 2011, o projeto de cooperação técnica com o Brasil foi formalmente concluído mas, por ter se tornado uma política pública, durante este período, as ações de alfabetização de jovens e adultos continuam a ser executadas no âmbito de um programa do “Departamento Técnico e Profissional de Educação de Jovens e Adultos” do Ministério da Educação de STP, área que foi dirigida pela dona Helena, entre 2007 e 2011.
Helena contou ainda algumas histórias que a marcaram, ao longo destes anos, como a de um senhor que se alfabetizou, aos 80 anos. Para poder receber a sua aposentadoria, ele tinha que deixar registrada a sua digital. Após concluir o curso, pôde assinar o seu nome completo, pela primeira vez na vida.
“Conseguimos dar continuidade às ações e a tudo que aprendemos como, por exemplo, começar o ano letivo dando uma formação e reciclagem aos nossos colegas, professores de alfabetização. Este projeto de cooperação com o Brasil, para a alfabetização de adultos em STP, foi uma das melhores coisas que nos aconteceu” , concluiu.
A educadora Maria do Carmo do Espírito Santo, de 57 anos, já era professora, com muitos anos de experiência, quando se envolveu com o projeto. Após ter recebido formação específica como alfabetizadora em 2004, no âmbito da iniciativa de cooperação com o Brasil, tem contribuído para a diminuição do analfabetismo no seu país. Hoje ela atua como coordenadora do Distrito Água Grande, e tem dezenove professores sob sua responsabilidade. “Um país com analfabetos não evolui. O projeto foi um balão de oxigênio para nós” , afirmou Maria do Carmo.