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Brasil capacita técnicas e cientistas mulheres na África
Da Estação Experimental de Sotuba, unidade de pesquisa científica construída com o apoio da cooperação brasileira em Bamako, capital do Mali, é possível ver pequenas casas de adobe que se agrupam ao redor da unidade. Elas pertencem às famílias das mulheres que participam da colheita do algodão produzido nos campos da Estação. A remuneração pelo dia de trabalho não é alta mas, quando o algodão floresce, Sotuba se enche de mulheres e crianças, que brincam nas plantações enquanto esperam pelas mães.
“ As mulheres ficam o dia todo no sol colhendo o algodão. É assim em todas as plantações de algodão do Mali ”, relata o extensionista rural Sidiki Diarra.
Sidiki é o responsável por compartilhar as novas tecnologias que aprendeu com o projeto “ Cotton 4 + Togo ”, fruto da cooperação brasileira, com os produtores de algodão malineses. A iniciativa, coordenada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) , em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e com financiamento do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) , vem promovendo mudanças significativas nos paradigmas tecnológicos do setor algodoeiro do Mali, Chade, Burquina Faso, Benim e Togo.
Aïché Traoré também trabalha na cadeia produtiva do algodão no Mali. A técnica realiza pesquisas no interior do laboratório de controle de pragas da Estação de Sotuba. Aïché participa da produção da vespa Tricrograma, que, quando liberada na plantação de algodão, ajuda no controle biológico de pragas. De acordo com a técnica de laboratório, ela é uma exceção:
“ O mais comum é ver as mulheres do lado de lá do laboratório, colhendo e plantando o algodão, quando chega a época ”, explica Aïché.
O Brasil coopera com diferentes países da África para fortalecer a produção de algodão de pequenos produtores locais, atividade com grande impacto econômico e social em muitas nações do continente: em alguns casos, ela é uma das principais fontes de renda dos agricultores e suas famílias.
A ABC e a Embrapa, em parceria com os governos de Moçambique e Malawi, desenvolvem o projeto de cooperação em cotonicultura, “ Cotton Shire-Zambeze ”, desde 2015. No caso do Quênia, Tanzânia e Burundi, a iniciativa “ Cotton Victoria ” é implementada em conjunto com a Universidade Federal de Lavras (UFLA) , desde 2016.
Para além da inovação tecnológica, o Programa de cooperação Brasil-África na área do algodão trabalha componentes de inclusão social e de gênero. A Analista de Projetos da ABC, Camila Ariza, conta que, assim como no Mali, não é comum ver mulheres trabalhando na pesquisa ou nas áreas administrativas da cadeia de produção do algodão nos países parceiros do “ Cotton Victoria ”, mas a cooperação com o Brasil está ajudando a mudar esse paradigma:
“ Quando a gente vai no campo, tem um número enorme de mulheres, cerca de 70% a 80%. Mas nos laboratório a realidade é outra. O que a gente tenta é que haja, pelo menos, uma equidade de gênero nos treinamentos. Se as mulheres trabalham tanto no campo, porque elas não devem ser capacitadas? ”
A inclusão de mulheres nas formações realizadas no âmbito dos projetos é uma ferramenta importante para garantir que elas também possam ocupar os espaços tradicionalmente reservados aos homens, dentro dos escritórios e laboratórios. Este foi o caso de Aïché, que participou de cursos conduzidos pela Embrapa no Mali e hoje trabalha no laboratório da Estação de Sotuba.
A cientista queniana, Teresa Okyo, foi uma das pesquisadoras que receberam treinamentos no Brasil, oferecidos pela UFLA. Ela conta que, no Quênia, as mulheres estão começando a ocupar cargos importantes, mas a realidade ainda é difícil:
" Recentemente, o Quênia se abriu para ter mulheres em situações de direção. Com isso, começaram a ver que as mulheres também podem ser boas líderes, mas ainda é muito difícil ser uma pesquisadora em ambientes dominados por homens ", relata Teresa.
De acordo com Camila, garantir que uma porcentagem das vagas das capacitações seja reservada para as mulheres ainda é um grande desafio, mas é uma maneira eficaz de tornar a produção algodoeira mais inclusiva:
“ O campo é um ambiente muito machista. Infelizmente, os países ainda são muito relutantes quando a gente coloca essa questão de gênero, mas no caso do ‘Cotton Victoria’, por exemplo, a gente conseguiu assegurar que, pelo menos, 30% das vagas das capacitações sejam para mulheres ”.
Saiba mais sobre o compromisso da ABC com a igualdade de gênero: http://www.abc.gov.br/imprensa/mostrarConteudo/970
Autor: Isabelle Marie/ Agência Brasileira de Cooperação (ABC)