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Avaliação de Impacto do Projeto Shire-Zambeze continua em Moçambique
As entrevistas com os produtores rurais familiares moçambicanos que participam do “Projeto Regional de Fortalecimento do Setor Algodoeiro nas Bacias do Baixo Shire e Zambeze” continuam acontecendo até sexta-feira (8) nos distritos de Chitima, Guro e Bárue. Os avaliadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) estão percorrendo as comunidades nas quais existem agricultores familiares participantes do projeto, para realizar avaliação final do projeto .
Acompanhados de representantes locais do projeto Shire-Zambeze, os avaliadores buscam entender os impactos das iniciativas desde o seu primeiro ano de implantação até o momento. A data final de execução do projeto é 31 de dezembro e essa avaliação será um instrumento importante para a tomada de decisão de sua continuidade, já em análise e negociação.
Os questionários foram aplicados em todas as comunidades visitadas. Flavio Avila, avaliador da Embrapa, ressalta que somente será possível uma conclusão depois de terminadas todas as visitas e tabulados os resultados. No entanto, alguns aspectos já estão bem claros, especificamente o impacto socioeconômico junto aos beneficiários. “Ficou claro que houve uma melhora de vida dos produtores” , afirma. “Isso se reflete na compra de bens que são usados, inclusive, para melhorar ainda mais a produção agrícola como arados, carroças, animais e diferentes insumos” , afirma.
Daniel Tanga, delegado do Instituto do Algodão de Moçambique (IAM) , responsável pelos distritos de Manica e Tete, afirma que a participação das famílias na produção do algodão, no âmbito do projeto, tem sido um veículo de segurança alimentar. “Com o aumento da produção e mais rendimento o produtor diversifica a alimentação não só naquilo que ele planta como naquele alimento que ele compra, porque passa a ter poder aquisitivo” .
A produção consorciada é uma das práticas incentivadas pelo Projeto Shire-Zambeze. Todos os produtores beneficiados produzem, junto com o algodão, o gergelim, amendoim, milho, feijão, entre outros alimentos.
Prêmio
A avaliação de impacto dos especialistas é feita com base em uma metodologia elaborada pela Embrapa chamada “Ambitec-Agro" que avalia o impacto de projetos do ponto de vista socioeconômico, ambiental e institucional, ou seja, de forma multidimensional.
O Ambitec-Agro faz parte de um processo de avaliação de impactos da pesquisa agropecuária da Embrapa que recebeu, na última terça-feira (10), o prêmio da 23ª edição do Concurso Inovação no Setor Público , promovido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), na categoria “Inovação em Processos Organizacionais no Poder Executivo Federal”.
Flavio Avila, atual gerente de Inteligência Estratégica da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas, e Graciela Vedovoto, avaliadora de impacto da empresa, foram informados sobre a premiação pelos colegas do Brasil enquanto se deslocavam de um povoado a outro no interior de Moçambique.
Mulheres
Um outro aspecto já percebido pelos avaliadores foi o aumento da participação das mulheres e jovens na produção do algodão e plantios consorciados. Seja com trabalho no campo ou na tomada de decisão, as mulheres têm se envolvido mais.
No povoado de Calangache, que fica no distrito de Chitima, a reunião de recepção da delegação brasileira não envolveu apenas os produtores, como aconteceu em demais povoados durante a missão. Ali, mulheres e crianças participaram da reunião em que houve sugestões para o projeto, assim como nas respostas ao questionário de avaliação.
Foi o caso de Jéssica Diquissone, esposa do produtor Bernardo Diquissone. Eles participam do projeto há 3 anos. Ambos receberam as capacitações durante os “Dias de Campo” realizadas no Centro de Transferência de Tecnologia do Algodão – CETTRA, que fica em Guro. Jéssica é, segundo os representantes locais do projeto, uma forte gestora da produção familiar. Ela é também incentivadora do marido no sonho de aumentar ainda mais a produção que já dobrou, passando de uma para duas toneladas por hectare.
Já Rosíria Belardo, casada há 33 anos com Júlio Ojone Belardo, apoia o marido na produção. Os 4 filhos já não moram mais em Chitima. Apenas o casal sustenta a produção agrícola. Mesmo mantendo-se discreta, Dona Rosíria fez questão de ouvir as perguntas e respostas do questionário que foi aplicado pelos especialistas da ABC e da Embrapa, embaixo de uma frondosa árvore na propriedade do casal.
Autor: Claudia Caçador