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Alternativas à utilização de areia, na construção de casas em STP
Márcio Ribeiro, 38 anos, e Ebeny Pinheiro, 40, são engenheiros, naturais de São Tomé e Príncipe (STP). Ambos realizaram a sua formação superior em Cuba, sendo o primeiro em Engenharia Química e o último em Engenharia Civil. Para além de diversas circunstâncias de vida que os aproximam, Márcio e Ebeny têm ainda em comum o objetivo de contribuírem para o desenvolvimento do seu país, a partir do conhecimento que adquiriram no exterior.
Os dois estão também envolvidos no projeto “Desenvolvimento Urbano em São Tomé e Príncipe (STP): Política Habitacional e Metodologias Não-Convencionais de Construção” , iniciativa de cooperação Sul-Sul realizada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) em parceria com a Caixa Econômica Federal (CAIXA) e o governo de STP.
Em entrevista concedida à ABC, é possível verificar a paixão e comprometimento de ambos com o objetivo central do projeto, que é encontrar alternativas para a construção de habitações. Atualmente, em STP, utilizam-se principalmente tijolos de concreto que, para além de caros, são importados; areia, que é extraída das praias do arquipélago, e tem causado sérios danos, como a extinção de praias devido à retirada de areia; e a madeira, que é cortada de forma indiscriminada, com as consequências ambientais que surgem desta prática.
A partir de uma solução desenhada conjuntamente por Brasil e STP, no âmbito do projeto, chegou-se à conclusão de que a metodologia de “solo-cimento”, para a produção de tijolos ecológicos, poderia ser uma alternativa. Como resultado, duas “casas-protótipo“ foram construídas, como exemplo da aplicação teórica à prática. Adicionalmente, no processo de construção das casas, foi possível verificar a viabilidade da utilização desta metodologia, além de serem levantados os desafios e mais-valias da mesma.
Márcio é atualmente Diretor do Laboratório de Engenharia Civil de São Tomé e Príncipe , entidade responsável por realizar os testes necessários que garantem a qualidade dos tijolos utilizados nas construções. Após o levantamento de quais regiões de STP apresentavam solo adequado para a produção de tijolos de “solo-cimento”, foram desenvolvidos os experimentos específicos de absorção de água e resistência. Em sua avaliação, Márcio refere que, para além de ser uma técnica significativamente mais barata, os tijolos de solo-cimento dão um maior “conforto térmico” às casas. Como STP apresenta um clima quente e húmido, a maior parte do ano, estes tijolos deixam as residências “menos abafadas”. “Acredito que esta seja uma boa solução para o país” , afirmou.
O Diretor destacou ainda a importância que o projeto teve na ampliação dos seus conhecimentos enquanto Engenheiro Químico. “Cooperamos e trocamos experiências em áreas sobre as quais eu não tinha muito conhecimento. Tudo o que eu aprendi sobre solo-cimento foi com este projeto. Este conhecimento que adquiri, mesmo com o fim do projeto, continuarei a utilizar em benefício do meu pais.”
Para Ebeny, a viabilidade econômica da construção de casas é fundamental em STP. Com poucos recursos financeiros, grande parte da população vive em condições precárias, tanto a nível de infraestrutura, como de segurança e saúde. O engenheiro civil, que também trabalha no Laboratório, relatou em detalhes todo o passo-a-passo dos testes que foram realizados, no âmbito do projeto, para que se encontrasse uma proporção segura e eficiente de solo-cimento-água para a confecção do tijolo. “Há alternativas à extração de areia e nós devemos agarra-las e utiliza-las. Espero que esta tecnologia se firme no país e que possamos construir casas mais econômicas, arejadas e de maior qualidade para a nossa população. Quero contribuir para que o problema da construção em STP seja resolvido” , concluiu Ebeny.
Veja aqui mais fotografias do projeto.