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Agricultura familiar e COVID-19: Como o setor de algodão está posicionado nesse contexto?
Mais um webinar serviu como centro de debate e diálogo de como os países latinoamericanos e caribenhos estão lidando com os desafios enfrentados pela agricultura familiar no contexto da Covid-19. O encontro remoto Agricultura familiar e COVID-19: Como o setor de algodão está posicionado nesse contexto? aconteceu na quarta-feira (29/4) e reuniu cerca de 150 profissionais da Argentina, Bolívia, Equador, Colômbia, Haiti, Paraguai e Peru, países parceiros no projeto de cooperação técnica Mais Algodão.
A Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) decidiram manter discussões quinzenais para gerar um ambiente de troca de informações e boas práticas entre os países na busca por possíveis medidas e ações diante da atual pandemia. Este foi o segundo encontro da série.
A coordenadora do projeto Mais Algodão pela FAO, Adriana Gregolin, destacou que embora não haja estudos de uma projeção de como a pandemia afetará a indústria algodoeira, há prognósticos que preocupam o setor. “O Banco Mundial prevê um crescimento do PIB negativo para a região de 4.6 ao ano para 2020” , informou. “Já a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe afirma que haverá uma contração da atividade econômica na região com uma queda de 5.3 em 2020” , afirmou.
Agricultura Familiar
A agricultura familiar, camponesa, indígena e comunitária é base produtora de alimentos e outros produtos, como o algodão, nos países da América Latina e do Caribe.
O professor da Universidade Nacional da Colômbia, Alvaro Acevedo, lembrou que a pandemia trouxe uma situação dramática para os agricultores familiares mostrando o quão necessários eles são para a economia. “ A crise mostra que é preciso o reconhecimento desse setor que é tão necessário quanto os profissionais de saúde”, lembrou. “Por isso é tão importante que busquemos formas de aproximar consumidores e produtores e fazer com que os consumidores protejam os produtores familiares” .
A busca por essa aproximação entre produtores e consumidores também foi um dos pontos expostos por Sergio Schneider, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul . Segundo ele, o tema central diante da pandemia não é a produção ou o consumo e sim a distribuição. “A resposta para essa crise passa pelos sistemas alimentares locais e regionais”, alerta. “Os países que têm capacidade de gerar logística para a distribuição dos produtos são os que vão gerar segurança alimentar.”
Schneider defendeu que é urgente repensar uma mudança no modelo da agricultura na América Latina, já que 81% das unidades produtivas são de base familiar. Diante das incertezas do setor frente a Covid-19, ele sugere que haja mais organização, planejamento e sinergia entre os stakeholders .
O coordenador da Rede de Reuniões Especializadas em Reuniões Familiares (REAF), Lautaro Viscay, acredita que a pandemia é uma oportunidade para repensar a região nos temas da segurança alimentar e geração de renda, a partir de um novo desenho de políticas públicas. “É preciso estabelecer um novo ciclo de políticas públicas para a América Latina e Caribe com a presença fundamental das universidades.”
Brasil
Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA), Márcio Portocarrero, o Brasil tem um cenário diferenciado dos demais países latinoamericanos na cotonicultura, uma vez que a maior parte da produção é industrial e não familiar, embora os reflexos aconteçam na agricultura familiar. O país ocupa o segundo lugar em exportação da fibra, sendo que 70% do algodão produzido é exportado para países da Ásia e 30% atende ao mercado interno.
Portocarrero fez um panorama global de como a crise afetou o setor algodoeiro. “Esse foi um dos setores mais afetados no Brasil, com a crise da covid-19, junto aos setores de flores e etanol” . Ele lembrou que do consumo proveniente da indústria têxtil, tanto o mercado interno como o externo foi agravado, ainda, pela baixa no preço do petróleo, que diminuiu o preço do poliéster, concorrente direto da fibra natural.
O diretor da ABRAPA informou que a safra de algodão 2019/20 tem altas reservas e preços baixos e o tempo de recuperação econômica do setor deve levar cerca de um ano pós-covid. “Estamos buscando, junto ao governo, maneiras de manter a cadeia do algodão, desde a matéria prima até a comercialização já que essa é a segunda cadeia que mais gera empregos no país”, disse. “Também estamos trabalhando em uma campanha, assim que a crise passar, de estímulo à indústria nacional para que os brasileiros consumam mais algodão”.
Saiba mais sobre o projeto Mais Algodão: https://bit.ly/2Vjc2IS
Confira o que ocorreu na primeira reunião da série aqui: https://bit.ly/2XKcAcn
Autor: Cláudia Caçador
Fonte: Fotos: FAO