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ABC, FAO e OIT realizam Fórum de Diálogo sobre cooperação Sul-Sul no setor Algodoeiro
Organizada no âmbito do “Programa de cooperação Sul-Sul do Brasil para Fortalecimento do Setor Algodoeiro” , realizado na África, na América Latina e no Caribe, a sessão temática foi coordenada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) , e desenhada com o objetivo de proporcionar um espaço para o diálogo e a identificação de respostas efetivas aos desafios do desenvolvimento sustentável do setor de algodão nessas regiões, melhorando os impactos positivos que as iniciativas atualmente em curso têm em comum.
A sessão foi aberta oficialmente pelo Diretor da ABC, Embaixador João Almino, que expressou a sua satisfação em receber no Brasil os cerca de 70 convidados estrangeiros. “Este Fórum é o resultado da riqueza de experiências trocadas pelo Brasil com os seus parceiros, por meio dos projetos de cooperação Sul-Sul no setor algodoeiro. Nós enfrentamos desafios semelhantes ao que estes países enfrentam hoje e, alguns deles, já vencemos. É com prazer imenso prazer que compartilhamos estas soluções com os nossos parceiros. Queremos criar uma Rede de Cooperação Sul-Sul de boas práticas no setor” , afirmou o Embaixador Almino.
Na sequência, de forma bastante dinâmica e interativa, foram realizadas três sessões com a simulação de breves entrevistas aos convidados que subiram ao palco, como se fossem “perguntas e respostas”. Os três blocos temáticos, sobre (i) Trabalho decente ; (ii) Produção ; e (iii) Mercados , contaram com participantes brasileiros e estrangeiros, que relataram os seus conhecimentos técnicos do tema em questão, como também explicaram melhor sobre os projetos de cooperação Sul-Sul nos quais estão envolvidos.
Segundo a representante da OIT, Fernanda Barreto, condições decentes de trabalho são fundamentais para a garantia de um pleno desenvolvimento social, o que também se aplica para o setor algodoeiro. “Sem trabalho decente não há eliminação das desigualdades e a possibilidade de um pleno desenvolvimento. Precisamos acompanhar todas as etapas da cadeira produtiva de algodão, desde o plantio, a produção, até a venda do produto final, para garantir que tudo se realiza mediante condições dignas e decentes de trabalho. Atualmente, todos os processos de certificação também contemplam este aspecto” , afirmou.
Em relação ao projeto de cooperação Sul-Sul sobre trabalho decente - que a ABC desenvolve em parceria com os Ministérios do Trabalho e do Desenvolvimento Social, com a OIT, com o governo dos Paraguai Peru, Mali, Moçambique e Tanzânia - o representante do Ministério do Trabalho, João Paulo, afirmou que a iniciativa procurará apoiar os governos dos países cooperantes no desenvolvimento de normativas que regulem as condições de trabalho, começando por identificar quais são as piores práticas que existem atualmente, para que elas consigam ser eliminadas; procurará encontrar instrumentos de combate à informalidade das relações de trabalho; como também fortalecer os mecanismos de fiscalização existentes.
Sobre os resultados provenientes do projeto, Edgar, do Peru, referiu que esta iniciativa de cooperação Sul-Sul poderá contribuir para a construção de regulamentação e de um modelo digno e sustentável das condições de trabalho que poderá, depois, ser incorporada por outros setores de produção do país.
Relativamente ao tema Produção , o Chefe-Geral da Embrapa Algodão, Sebastião Barbosa, que acompanha desde o início os projetos de cooperação técnica do Brasil no setor algodoeiro, afirmou que grande diferencial dos projetos é que todas as soluções são construídas em conjunto com os países cooperantes. Não são impostos modelos de solução de problemas, mas são identificadas as necessidades e posteriormente a melhor forma de se adaptar a experiência ou solução brasileira sobre aquela questão. “Estamos disseminando as boas práticas agrícolas brasileiras no setor do algodão aos pesquisadores, produtores e extensionistas destes países. Nos pequenos detalhes, compartilhamos o conhecimento que já acumulamos para que chegue aos agricultores e contribua para a melhoria da qualidade de vida destas comunidades que dependem do algodão para sua sobrevivência.”
Amadou Aly Yattara, do Mali, ponto focal do projeto Cotton-4 + Togo , relatou a importância da produção de algodão no seu país. “O algodão, no Mali, é sinônimo de Segurança Alimentar e Nutricional para as 3.5 milhões de pessoas que vivem do algodão. É o único produto que já tem sua venda garantida, mesmo antes de ser plantado” . Yattara está envolvido com as iniciativas de cooperação brasileira nos países do Cotton-4 desde 2009, e conta, entusiasmado, os resultados que já alcançaram com os aprendizados do projeto, desde então.
“Há variedades de sementes brasileiras que deram certo no Mali, e que já estão sendo utilizadas em outros países africanos. Além disso, a técnica de plantio direto sob cobertura vegetal, que aprendemos com o Brasil, está nos ajudando a fazer reviver o nosso solo. Recebemos ainda inúmeras capacitações, em diversas áreas relacionadas com o setor do algodão, e que já repassamos para os produtores. Você pode `tirar´ qualquer coisa de uma pessoa, menos o conhecimento que ela adquire” , concluiu.
No diálogo sobre Mercado , o Diretor Executivo da Abrapa , Marcio Portocarrero, explicou em detalhes como funciona o programa de certificação promovido pela Associação, tendo como referência a iniciativa “Better Cotton Initiative (BCI)” , e como a incorporação dos parâmetros necessários para a cerificação do algodão permite uma economia de até 30% nos custos de produção.
Ao final do diálogo, que teve sempre em conta os projetos da cooperação Sul-Sul para o setor algodoeiro como eixo orientador, foram identificadas oportunidades e ações concretas para o fortalecimento da cotonicultura, a partir da criação de uma rede de intercâmbio Sul-Sul entre a África e a América Latina.
Atualmente, o Brasil desenvolve cinco diferentes programas de cooperação no setor do algodão em 14 países africanos; e duas iniciativas em seis nações latino-americanas e uma caribenha. Os projetos são implementados por meio de duas modalidades: a bilateral, em que as parcerias estabelecidas para a realização das ações se dá diretamente entre o Brasil e o governo dos países cooperantes; e a trilateral, em que a FAO e a OIT também participam dos projetos, contribuindo com a sua expertise no tema.
As cinco iniciativas de cooperação na área do algodão são realizadas sempre em conjunto com instituições brasileiras de excelência na área do algodão, como a Abrapa, a Embrapa, a UFLA – Universidade Federal de Lavras e a Asbraer – Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural, além de secretarias especializadas do Ministério do Trabalho e do Ministério do Desenvolvimento Social.