Notícias
“Produto da Terra, para a criança da Terra”
Responsável pela horta pedagógica da Escola Desejada, instituição pública que atende alunos do primeiro ao nono ano, Abel descreve, orgulhoso, todos os alimentos que cultiva, ali mesmo nas instalações da Escola. Para além de serem consumidos pelos alunos e alunas da Escola Desejada, os itens produzidos atendem também outras instituições de ensino da região.
“Aqui nós cultivamos pimentão, cenoura, couve, repolho, cebola, berinjela, micocó, que é um tempero típico de STP, entre muitos outros. Eu sei que estes alimentos são responsáveis por dar saúde às crianças, então preciso ter muito atenção com o meu trabalho. Vejo, durante as aulas, os alunos mais saudáveis. Sinto-me feliz em ver as crianças consumindo produtos aqui da nossa Terra” , relatou Abel.
A Horta Pedagógica da Escola Desejada funciona também como uma experiência piloto, para depois ser replicada em outras escolas do país. Além de fornecer alimentos frescos para a merenda escolar que é recebida diariamente pelas crianças durante o horário letivo, permite ainda que elas tenham um contato direto com a natureza, estimulando uma aprendizagem ativa, lúdica, multidisciplinar e melhor consciência ecológica.
Para o Diretor da Escola Desejada, o professor de francês Martinique Medeiros José, de 35 anos, o programa das hortas pedagógicas tem também ajudado os alunos a se conscientizarem sobre a sua alimentação. “Eles também nos ajudam a cuidar da horta e tem vontade de consumir o que produzem” , destacou.
Além do horteiro Abel, professores, pais e diretores de Escola também participaram da capacitação sobre hortas pedagógicas, realizada em STP em 2017, ministrada por técnicos brasileiros. Assim, os pais ou encarregados de educação puderam levar para as suas próprias casas a cultura do cultivo e diversificação de alimentos.
Diversas foram as fases de desenvolvimento deste longo programa de cooperação Brasil-STP, na área da alimentação escolar. Desde várias fases de um projeto bilateral, realizado por cerca de dez anos; até o momento atual, em que se encontra em curso uma iniciativa trilateral Brasil, por meio da ABC e financiamento do FNDE, em parceria com o governo de STP e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) , pensada com o objetivo de contribuir para o fortalecimento e a sustentabilidade do Programa de alimentação escolar de STP.
Edson Moniz, 32 anos, é o atual Coordenador do PNASE. Em entrevista concedida à ABC, o jovem gestor santomense relata, entusiasmado, o funcionamento do Programa, que abrange as 172 escolas públicas de primeiro e segundo ciclo de STP, o que equivaleria ao ensino fundamental no Brasil. A iniciativa, que contempla hoje cerca de 56.000 crianças do arquipélago, ou um quarto da população do país, tem sido inspirada nas políticas públicas brasileiras de alimentação escolar. Com base nos sucessivos projetos de cooperação desenvolvidos ao longo dos anos, neste tema, Edson refere diversas experiências brasileiras, compartilhadas com STP, que foram incorporadas pelos gestores do país, no desenvolvimento das suas políticas.
O menu semanal que será servido às crianças, por exemplo, é elaborado por nutricionistas, que foram também capacitadas no âmbito do projeto de cooperação Brasil-STP. Depois, cada escola acrescenta outros itens às merendas, mediante os alimentos que produz localmente. O peixe, por exemplo, que é a principal proteína animal consumida em STP, foi incorporado no cardápio, diversificando os alimentos consumidos.
Durante muitos anos, a alimentação escolar nas escolas públicas de STP foi fornecida pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas. A assistência alimentar recebida durante este período foi essencial para apoiar a luta contra a fome que o país travava, no período pós-colonial, entre as décadas de 70 e os anos 2000. Com o gradual desenvolvimento econômico de STP, ainda que sutil, foi possível iniciar-se um processo de transição, em que o governo passou a assumir, gradativamente, a responsabilidade pela alimentação escolar das suas crianças.
Durante este período, verifica-se o papel fundamental que a cooperação brasileira teve no desenvolvimento das políticas públicas santomenses, relativas à alimentação escolar, por meio das diversas iniciativas de reforço das capacidades e compartilhamento das experiências brasileiras nesta área. O PNASE, que iniciou sua implementação em 2011 e se encontra em constante aprimoramento, como todo Programa de governo, é o importante resultado deste processo.
Além de ter melhorado e diversificado a dieta alimentar das crianças, o Programa criou as hortas escolares, permitindo o consumo de alimentos frescos e produzidos localmente. “Nós agora aproveitamos os produtos locais. Aliás, `produto local´ é uma terminologia que eu aprendi com o Brasil” , referiu o Coordenador do PNASE. Além da melhoria da saúde nutricional dos estudantes e, consequentemente, um melhor aproveitamente escolar, verificou-se ainda diminuição nas taxas de abandono escolar.
Edson menciona o grande diferencial que sente ao realizar cooperação com o Brasil, destacando um dos princípios da cooperação Sul-Sul de “fazermos tudo junto”. “O Brasil não traz um modelo pronto. Nós construímos, em conjunto, o nosso próprio Programa. O Brasil não nos dá o peixe, ele nos ensina a pescar. Empoderarmos-nos do Programa é fundamental.” O Coordenador destaca ainda que o PNASE tem impacto em vários setores do país, que não só a educação. “O Programa promove hoje a igualdade entre os alunos de STP, na medida em que todas as crianças estão alimentadas, com saúde e melhor rendimento escolar.”
Veja aqui mais algumas fotografias tiradas durante a visita feita à fase atual do projeto trilateral.