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“Entrei como artesão, saí como técnico administrativo”
A iniciativa contou também com o apoio do Instituto Mazal, associação brasileira que busca, por meio do incentivo à produção artesanal, a promoção de assistência social, educação e saúde, assim como a defesa do meio ambiente, princípios estes que acabaram por nortear todo o projeto.
Milton Semedo, 35 anos, artesão formado pelo projeto, membro e tesoureiro da “Uê Tela”, é um exemplo vivo dos benefícios e significativas mudanças que sentiu em sua vida a partir das capacitações que recebeu durante a iniciativa. Em um relato apaixonado e detalhado, Milton conta que se formou em hotelaria, mas fazia abajures enquanto hobby. Após ter conhecimento de que seriam oferecidas oficinas técnicas na área, decidiu abraçar a oportunidade.
Neste período, Milton sentiu que tinha também vocação para a área comercial e marketing, e envolveu-se em capacitações oferecidas nesta área. “Para além do artesanato, eu percebi que tinha jeito para a área de vendas. Quando o projeto acabou, decidi continuar meus estudos em gestão. Hoje trabalho também em uma empresa privada. Este projeto, para mim, não foi só sobre o artesanato, foi muito mais. Entrei como artesão, saí como técnico administrativo. Hoje me considero realizado e um bom profissional, graças a tudo que aprendi aqui” , afirmou.
Quando o ciclo de capacitações foi concluído, uma das grandes preocupações era com a continuidade e sustentabilidade do projeto. Assim, ainda no âmbito do projeto, surgiu a cooperativa “Uê Tela”, que contou com todo o apoio técnico necessário para iniciar suas atividades. Hoje, após três anos, a cooperativa trabalha de forma independente e se encontra em contínua expansão, por meio da venda direta de artesanatos vindos de todo o país. “Passados três anos que o projeto acabou, mostramos hoje que somos capazes de gerir a cooperativa com as nossas próprias mãos” , destacou.
Milton relata ainda que o diferencial das peças produzidas pelos artesãos formados pela iniciativa, encontra-se na valorização de tradições e aspectos que representam a cultura e a natureza de STP, ao mesmo tempo em que são produtos de extrema qualidade técnica. Por um lado, são peças de muito bom gosto, com design arrojado, trabalhadas com as matérias-primas e símbolos locais; por outro, buscam a sustentabilidade e a ecologia, ao não utilizar cascos de animais que se encontram em extinção, como é o caso da tartaruga. Há, de fato, produtos únicos, com a combinação e utilização de técnicas que não são encontradas em outros lugares, como é o caso dos bordados tradicionais, aplicados a panos africanos.
Outra componente importante, que vale destaque, é o grande impacto que o projeto teve na vida de dezenas de mulheres que, à partir dele, aprimoraram ou desenvolveram uma profissão, não mais dependendo dos seus maridos ou familiares para o seu sustento. Shallita Domingos, 38 anos, costurava informalmente desde os oito anos. Ouviu na rádio sobre o projeto, aprendeu a técnica do bordado e tornou-se professora de outras artesãs. "Com o projeto, aprendi a me valorizar como mulher e decidi voltar para a escola. Estou agora terminando o curso de gestão. Aqui, aprendi que tudo é possível e que nunca é tarde para aprender" , concluiu Shallita.
Além da venda nacional, os artesanatos santomenses já foram expostos em outros países como Portugal, Angola e Guiné-Bissau. A cooperativa busca agora meios sustentáveis para que os mesmos sejam comercializados regularmente fora de STP.
Veja aqui mais fotografias do projeto.
Por Janaina Plessmann em 26/07/2017