Dados
O Brasil tornou-se, nas últimas décadas, um país de população majoritariamente urbana. No último senso populacional do IBGE, a população brasileira era de 190.755.799 pessoas. Na zona rural, foram contabilizadas 14.129.837 mulheres, o equivalente a 7,4% da população. Trata-se de um número pequeno, se comparado ao montante da população feminina que vive em áreas urbanas - 83.218.972 de pessoas, o que equivale a 43,6% da população. A pequena proporção de mulheres vivendo na zona rural, em relação ao todo populacional brasileiro, pode explicar a invisibilidade destas mulheres nas estatísticas oficiais. Mas não justifica. Elas continuam sendo mais de 14 milhões de mulheres, que enfrentam cotidianamente as diversas dificuldades de se viver em locais afastados, de difícil acesso, onde o Estado tarda a chegar com serviços públicos essenciais para uma vida com qualidade.
O Brasil tem testemunhado transformações recentes nos arranjos familiares. Nota-se a ampliação do número de arranjos familiares unipessoais e uma tendência de redução do número de casais, o que representa a ampliação dos domicílios monoparentais, com destaque para as famílias monoparentais femininas. O crescimento do número de famílias monoparentais também repercute no aumento da chefia feminina nas famílias. No senso populacional do IBGE de 2000, 22,2% das famílias brasileiras tinham mulheres como responsáveis, número que aumentou para 37,3% no senso de 2010. Nas áreas urbanas, a chefia feminina nas famílias passou de 24,5% no senso de 2000 para 39,3% em 2010, e nas áreas rurais este número dobrou em 10 anos, passando de 10,9% em 2000 para 24,8% em 2010.
O acesso ao saneamento é um indicador importante da qualidade de vida, visto que gera impactos diretos e indiretos sobre a saúde e a dinâmica da população. Na zona rural o acesso ao saneamento básico é precário, tanto para os domicílios chefiados por mulheres quanto por homens, exceto no que se refere ao abastecimento de água adequado, que já atinge 73,6% dos domicílios. Nota-se que os domicílios chefiados por mulheres apresentam índices de esgotamento sanitário e coleta de lixo adequados ligeiramente maiores que os domicílios chefiados por homens, enquanto o abastecimento de água adequado apresenta uma taxa ligeiramente maior entre os domicílios com chefia masculina.
Em 2013, a PNAD apontou a média de 8 anos estudo para a população brasileira, sendo 7,8 anos entres os homens e 8,2 anos entre as mulheres. Nas áreas rurais, os homens apresentam uma média de 4,8 anos de estudo e as mulheres 5,6. A diferença de escolaridade na zona urbana e rural é marcante. Na zona urbana, 25% das mulheres com 10 anos ou mais de idade tem 11 anos de estudo, ou seja, concluíram o ensino médio, e 11% tem 15 anos ou mais de estudo, o que significa que concluíram o ensino superior. Na zona rural, apenas 13% das mulheres com idade superior a 10 anos concluiu o ensino médio e 2% concluiu o ensino superior. A maioria destas mulheres (19%) tem apenas 1 ano de estudo e 17%, o que corresponde a mais de 2 milhões de mulheres, tem menos de 1 ano ou não estudou.
A autonomia econômica das mulheres é um indicativo importante de qualidade de vida, e implica necessariamente na inserção das mulheres no mercado de trabalho ou em atividades remuneradas, além da distribuição mais equitativa das atividades domésticas e de cuidado. Apesar de homens e mulheres apresentarem taxas de ocupação igualmente altas, que englobam quase toda a população de 16 anos ou mais de idade, a posição de cada um dos sexos na ocupação é reveladora das desigualdades de gênero. Na zona rural, a maior parte dos homens trabalha por conta própria (36,2%) ou em emprego sem carteira assinada (21,5%), e aqueles que trabalham na produção para o próprio consumo, na construção para o próprio uso ou em atividades não remuneradas (agrupadas na categoria “Outros” no gráfico a seguir) somam 18,5%. As mulheres, ao contrário, trabalham majoritariamente em atividades para o próprio consumo, para o próprio uso ou não remuneradas (47,2%), por conta própria (14,9%) e uma quantidade praticamente igual trabalha sem carteira assinada, como empregada doméstica, e com carteira assinada (10,3%, 10,2% e 10,1% respectivamente). Entre as pessoas que vivem na zona rural, apenas 2,1% dos homens e 0,7% das mulheres são empregadoras.
Os dados sobre rendimento médio mensal, considerando todas as fontes de renda, revelam desigualdades de gênero e raça, além da desigualdade envolvendo áreas urbanas e rurais. A população com os maiores rendimentos vive na zona urbana, onde os homens recebem em média R$ 2.060,70 e as mulheres R$ 1.486,80 ao mês, enquanto na zona rural os homens recebem em média R$ 977,50 e as mulheres R$ 614,80 ao mês. Os homens brancos urbanos apresentam o maior índice de rendimento mensal, no valor de R$ 2653,70, e as mulheres negras rurais apresentam o menor índice, no valor de R$ 536,20. Nota-se no gráfico a seguir que as mulheres rurais, brancas e negras, são as que possuem os piores rendimentos médios mensais.
Os cuidados com a casa e a família, naturalizados pela divisão sexual do trabalho como tarefa feminina, constituem uma porção considerável de sua ocupação, já que 85,5% das mulheres brasileiras cuidam de afazeres domésticos e dedicam uma média de 23,8 horas semanais a esta tarefa. Os homens que cuidam de afazeres domésticos são 44,7% e dedicam 10,4 horas semanais a esta tarefa, ou seja, menos da metade do tempo dedicado pelas mulheres. Em áreas rurais, este índice chega a 90,8% para as mulheres, com a dedicação de 26,1 horas semanais, e corresponde a 43,1% para os homens, com a dedicação de 10,2 horas semanais.